terça-feira, 19 de outubro de 2010

Abstenções: o voto que pode faltar a Dilma

DEBATE ABERTO


O que deveria chamar atenção, nesta reta final de campanha, sobretudo do comando da campanha de Dilma, é o elevado índice de abstenções, votos nulos e brancos justamente naquelas regiões onde ela foi amplamente vitoriosa.
Pode (e deve) ser examinado no portal www.puc-rio.br/puc-riodigital/templates/htm/eleicoes2010/eleicoes_2010.pdf, um conjunto de mapas mostrando como se distribuíram, pelas microrregiões brasileiras, a votação para Presidência, no primeiro turno. O trabalho foi elaborado pelos pesquisadores Cesar Romero, Dora Hees, Philppe Waniez e Violette Brustlein que, há anos, eleições após eleições, vêm construindo uma cartografia eleitoral brasileira que muito nos diz sobre as opções políticas do eleitorado, conforme as cidades e até bairros (com suas condições econômicas e culturais) onde vivem.

No geral, os mapas do Prof. Romero e seus colegas não trazem surpresas: podemos visualizar, no detalhe geoespacial, que a candidata do PT, Dilma Rousseff, venceu maciçamente no Nordeste e maior parte de Minas Gerais, obtendo também a maioria dos votos no Rio Grande do Sul e outras partes do país. Já José Serra obteve boa vitória em São Paulo e outros estados no Sul, mas também em regiões da Amazônia, como o interior do Pará, o Acre e Roraima.

O que deveria chamar atenção, nesta reta final de campanha, sobretudo do comando da campanha de Dilma, é o elevado índice de abstenções, votos nulos e brancos justamente naquelas regiões onde ela foi amplamente vitoriosa. Pode-se arriscar dizer que, se as abstenções nessas regiões fossem 2 ou 3 pontos percentuais menores, ela teria vencido já no primeiro turno.

No estado da Bahia, um estado praticamente “vermelho”, no código de cores escolhido, obviamente que não ao acaso, pelos pesquisadores, as abstenções também, na maior parte das microrregiões, superaram 25%, chegando a mais de 30% na microrregião de Bom Jesus da Lapa. Em todo o sul do Estado, incluindo as microrregiões à volta de cidades importantes como Vitória da Conquista, Jequié, Porto Seguro, Ilhéus e Itabuna, as abstenções oscilaram entre 23 a 28 por cento. Igual se deu em Irecê, Jacobina e suas adjacências.

Em Pernambuco, estado que, além de Dilma, consagrou o governador Eduardo Campos, em todas as microrregiões que fazem fronteira com o Ceará, a abstenção foi de 23 a 28 por cento. Igual, nas microrregiões que fazem fronteira com Alagoas, dentre elas incluindo-se Garanhuns, Suape, Médio Capiberibe.

No Ceará, a abstenção foi de 28 a 39 por cento na microrregião de Itu, na fronteira com o Piauí. Mas em todas as microrregiões do sul do Estado, de Senador Pompeu e Médio Jaguaribe para baixo, a abstenção foi de 23 a 28 por cento, taxas também atingidas em Sertão do Crateús e Canindé.
Chama ainda mais atenção o que se passou em Minas Gerais: em todas as microrregiões do vale do Jequitinhonha, onde o PT tem muita força e a votação em Dilma foi muito expressiva, igualmente expressiva foi a abstenção, de 28,5 a 39 por cento. Entre estas microrregiões estão Teófilo Otoni, Grão Mogol, Conceição do Mato Dentro etc.

Se a esse alto índice de abstenção, somarem-se os votos nulos e brancos, o total de “não-votos” nesses grandes pedaços de Brasil, chega a quase 40%, até 45% em alguns casos.

Desconsiderando os nulos e brancos, indicadores da recusa de escolha do eleitor, a abstenção pode mesmo ter subtraído de Dilma os votos que faltaram para vencer no primeiro turno. A secretária doméstica deste que aqui escreve, moradora na Baixada Fluminense e eleitora de Dilma, confessou-lhe que não foi votar porque “chovia muito”... Quantos eleitores não terão ido votar porque, mesmo sob sol, lhe faltava um documento com foto e os doutos ministros do STF, numa emenda que piorou o soneto, invalidaram o seu legítimo título de eleitor? Alguém já calculou quantos cidadãos e cidadãs, numa penada, tiveram cassado o seu direito ao voto, nestas últimas eleições? O deputado que achou de introduzir essa regra na atual lei eleitoral, sabia muito bem o que estava fazendo. Os deputados do PT que a aprovaram, não. E acordaram tarde.

Todo mundo sabe – e mais o sabem os governadores Jaques Wagner, Eduardo Campos, Cid Gomes e outros do Nordeste – que a eleição, no interior, é movida pelos candidatos a deputados federais e estaduais.

Neste segundo turno, eles estarão ausentes. Estão agora curando as feridas e as dívidas (principalmente as dívidas) de campanha... Se não for mobilizada uma forte máquina (com todas as conotações do termo) para levar o eleitor a votar no dia 31, os institutos de pesquisa poderão, mais uma vez, verem-se na obrigação de explicar suas discrepâncias, após computadas as urnas. Simples: pesquisa nenhuma pergunta “você vai votar?”. Este indicador só aparece depois de somado os votos, embora esta até pudesse ser uma boa pergunta diante do enorme feriadão que vai começar no dia 28, para os funcionários públicos, e terminar no dia 2 de novembro, para todos os brasileiros. Eis aí um outro fator que deveria estar muito preocupando o comando petista.

Muito provavelmente, a esta altura, os votos em Dilma ou Serra já estão definidos. Ela tem pouco mais da metade, ele cerca de 40%. Exceto se ocorrer uma hecatombe, isso não deve variar muito nestas duas semanas que faltam para a votação final. Marquetagens, atos teatrais, grandes comícios, debates na TV, manifestos, nem mesmo baixarias na internet, nada deve alterar muito o rumo já traçado. As abstenções,sim, são a grande incógnita. E podem decretar que Dilma ganhe mas não leve...

Marcos Dantas é professor do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. Carta Maior.

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Marcos Imperial

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