sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Candidato do PSDB no PI: "Lula é devastador para a oposição"

Eliano Jorge

Os candidatos Wilson Martins e Silvio Mendes em debate, no Piauí



Prefeito com mandato revalidado por 70,36% dos votos válidos em Teresina, Silvio Mendes amarga a adversidade de concorrer pelo PSDB ao governo do Piauí em 2010 contra o candidato à reeleição e o presidente da República. Com uma crueldade adicional: sua própria afeição a Lula.
- A presença do Lula é devastadora para a oposição porque ele é bem avaliado aqui, inclusive por mim. Eu tenho uma admiração pessoal e até gratidão pelo que nós pudemos fazer juntos.
Transformada em candidata governista pelo presidente, Dilma Rousseff recebeu, no primeiro turno, 67,09% dos votos válidos do Piauí, enquanto José Serra somou 20,93%. Espremido nas trincheiras tucanas, Silvio Mendes obteve 30,08% do eleitorado. O governador Wilson Martins, do PSB, 46,37%.
- O Wilson fez a campanha toda centrada na figura do Lula e da Dilma. Ele não tem a identidade própria dele, embora tenha sido deputado durante muito tempo. Ele usou bem, e de forma bastante eficiente, o prestígio do Lula e da Dilma, e isto tem um impacto importante porque o Lula é muito querido - resigna-se Mendes.
Para completar, a campanha do governador recorreu, nesta semana, aos ovacionados reforços presenciais dos correligionários boleiros Romário, eleito deputado federal no Rio de Janeiro, e Marcelinho Carioca, candidato derrotado em São Paulo.
A vantagem de Wilson Martins se reduziu para o segundo turno, porém não o suficiente para entusiasmar os tucanos. O Jornal Meio Norte publicou pesquisa conjunta com o Instituto Piauiense de Opinião Pública, realizada de 23 a 25 de outubro, que aponta 54,59% de votos válidos para o governador e 45,32% para o opositor. Dilma obtém 68,25%, contra 31,75% de Serra.
A Captavox, que coletou entrevistas entre os dias 25 a 27, atribuiu, nesta quinta (28), 50,5% das intenções de voto a Wilson Martins e 42,4% a Silvio Mendes.
Leia entrevista com Silvio Mendes.
Terra Magazine - Como o senhor avalia a disputa pelo governo do Piauí neste segundo turno?
Silvio Mendes - A diferença, em relação ao primeiro turno, diminuiu bastante, um pouco mais da metade. Mas a campanha é desproporcional, eu não tenho estrutura, não tenho dinheiro que possa confrontar com a do candidato que é governador. Só que é uma situação previsível, eu não estou reclamando não. O jogo é assim.

Nesta semana, a candidatura do governador teve o reforço dos ex-jogadores de futebol Romário e Marcelinho, que são do partido dele, o PSB...
Foi dito aqui que eles vieram com cachê, não sei se é verdade, não posso afirmar. Mas isso não é importante. A população aplaudiu muito Romário. Até eu, como vascaíno, embora ele não esteja mais (lá), tenho admiração pela carreira dele. Não pela vida privada, que também não me interessa.

O que o senhor achou deste recurso de levar Romário e Marcelinho?
O Wilson fez a campanha toda centrada na figura do Lula e da Dilma. Ele não tem a identidade própria dele, embora tenha sido deputado durante muito tempo. Ele usou bem, e de forma bastante eficiente, o prestígio do Lula e da Dilma, e isto tem um impacto importante porque o Lula é muito querido.
Acho que o Romário e o Marcelinho apenas criam um fato, mas não têm, pelo menos no meu entendimento, influência política e eleitoral. Lula tem. A presença do Lula é devastadora para a oposição porque ele é bem avaliado aqui, inclusive por mim. Eu tenho uma admiração pessoal e até gratidão pelo que nós pudemos fazer juntos.

Então o senhor evitou confrontar o governo federal na campanha. Chegou a fazer elogios ao presidente?
Não. Até porque eu acho que quem vai governar o Piauí é um de nós dois, não é gente que vem de fora. No caso do Aécio (Neves) e do (Geraldo) Alckmin, claro que é importante o apoio político e a presença deles (na campanha), mas eu tenho relações pessoais de muitos anos, não é de agora. Claro que fiquei feliz com a disponibilidade de eles virem aqui.

Por que existe essa "desproporção" que o senhor falou entre sua campanha e a do governador?
Sou funcionário público, sou médico do Ministério da Saúde, fui secretário de Saúde aqui em Teresina durante 10 anos, de 1994 a 2004, e prefeito da cidade, fui reeleito. Deixei o cargo e quem assumiu, meu vice (Elmano Férrer, do PTB), virou meu adversário. Nós tínhamos uma aliança aqui com o PTB, mas ele teve o senador João Vicente Claudino como candidato também ao governo do Estado, que não foi pro segundo turno. Existia um acordo, tornado público por ele, que, no segundo turno, as oposições se uniriam contra o candidato governador. Mas isso não ocorreu.
Por ser um Estado mais pobre, principalmente os políticos - e a maioria dos prefeitos -, dependem muito do governo do Estado, embora ele seja quebrado financeiramente. Há um enorme número de obras paradas, que, apesar da relação com o governo federal, eles pararam no Estado inteiro, é uma coisa assustadora.
Segundo: pelo perfil do próprio Estado. O Piauí é o que menos produz, só 0,5% do PIB nacional. Tem uma renda per capita de 32% da média nacional e percentualmente o maior número de analfabetos, são 40% de analfabetos funcionais. É o Estado que tem o maior número de crianças trabalhando, 11% da população infantil - acima de 5 anos - precisando trabalhar, tem o pior ensino médio do Brasil pela avaliação do MEC.
Por todas essas questões, eu sou candidato. Por ser piauiense e achar que, nestas questões, quando você conhece a realidade, ou se omite ou toma uma alternativa, que foi o que eu fiz, de oferecer uma forma diferente de gestão.

Por exemplo...
Quando saí da Prefeitura de Teresina, que é uma das capitais mais pobres, a deixei com equilíbrio financeiro, sem dívida com ninguém, nenhuma obra parada. Na avaliação do MEC, nós temos o melhor ensino fundamental do Nordeste, o terceiro do Brasil. Somos um centro de referência na Saúde. 56% do atendimento das despesas dos hospitais aqui se faz com pessoas do interior do Piauí porque no interior não funciona.
Então, tem várias frentes a serem tratadas, com problemas graves estruturais. A (minha) campanha foi fazendo comparação de gestão e resultados da Prefeitura, em que fui gestor por cinco anos, e do Estado, com uma gestão absolutamente maluca. Um Estado que tem 43 secretarias. Tem quatro secretarias para fazer estradas, duas para fazer turismo. E sem resultado, claro.

Por que essas secretarias todas? E desde quando?
Para acomodar os aliados políticos. Isso foi crescendo ao longo desses anos.

O senhor foi prefeito de Teresina por cinco anos?
Fui eleito prefeito e depois reeleito com pouco mais de 70% dos votos. Ainda hoje, mais de 60% dos eleitores de Teresina me apoiam. Nosso partido aqui, o PSDB, tem apenas 14 municípios e a maioria desses prefeitos aderiu ao governo sob a força de convênios que foram assinados no mês de junho passado. São quase 200 convênios assinados, inclusive investigados pelo Ministério Público porque atrasaram a publicação do Diário Oficial para poder acolher estes apoios. Então, fala em nome da necessidade de uma reforma política para esse tipo de coisa.
No Piauí, nos últimos anos, cresceram dois partidos. Um é o PSB, do Wilson, o candidato e governador em exercício, que foi presidente do PSDB. Com a perspectiva de ele assumir o governo, o partido cresceu muito. E o outro partido que cresceu foi o PTB, presidido pelo senador João Vicente, que é o homem com maior estrutura aqui no Estado. Apesar do acordo (da oposição), o PTB foi para o governo.

Mas não houve uma divisão no PTB? Alguns vereadores, prefeitos e vice-prefeitos do partido estão apoiando o senhor, não?
Os deputados foram todos (para o lado do governo). Quem não aderiu foi por incompatibilidade local. Aqui no Nordeste, cada cidade tem duas bandas, dois lados que não se relacionam. Em muitos lugares, essas dificuldades foram superadas pelo governador, e se juntaram adversários históricos. Mas, em alguns lugares, não, é impossível fazer isso. Alguns municípios foram, mas a população não foi também.

A quarta colocada do primeiro turno, Teresa Brito, do PV, aliou-se ao senhor agora.
Isso. O Partido Verde fez consultas, reuniu-se. Decidiram nos apoiar. Mas é um partido muito frágil, do ponto de vista de densidade eleitoral.

Na sua avaliação, como o Piauí chegou a essa situação relatada em estatísticas pelo senhor? É algo que ocorre ao longo de anos.
É uma questão de política de não resultado. Esse é o fato. São dados oficiais. As obras do PAC, aqui, em que o candidato a governador era coordenador, foram as que tiveram pior desempenho no Brasil. Ele concluiu apenas 2% dos investimentos que começaram no Estado. O Luz para Todos, que era para ser concluído em 2007, até hoje, passou pouco mais de 56%, um dos piores desempenhos do Brasil. Tudo é assim. Não tem um setor do governo do Estado que sirva de exemplo, de modelo de uma gestão eficiente.
E os escândalos ao longo do tempo. Isso já não comove mais a população, eu não entendo isso, as pessoas já estão anestesiadas com esse tipo de comportamento. Processo, denúncia, inquérito na Polícia Federal.

De que tipo?
Tem uma empresa aqui chamada Emgerpi, criada com a finalidade de cuidar do espólio de algumas empresas públicas que foram extintas. Ela virou faz-tudo, faz estrada, faz tudo, e um escândalo de muito grande proporção, um desvio de milhões de reais que até hoje ninguém sabe qual é o montante disso. Esse inquérito da Polícia Federal está, há um ano e meio, sendo feito, ainda sem resultado. Então, são essas e outras questões, aluguéis de carros... Mas isso pode parecer coisa de oposição.

Por falar em oposição, a pesquisa desta quarta-feira aponta que a vantagem de Dilma Rousseff supera até o percentual de votos de José Serra no Piauí. Ela disparou aí...
Isso. É verdade. No segundo turno, houve uma mudança, Serra teve um crescimento razoável. Mas ele beira metade das intenções de voto da Dilma. Realmente é um estado difícil. 53% da população do Piauí vive abaixo da linha de pobreza. Tem 1,2 milhão de pessoas que vivem na dependência de governo, seja aposentadoria, seja Bolsa Família, coisas dessa natureza, vivem de transferência. E o Estado não tem capacidade de investimento. Investiu, nos últimos anos, uma média de R$ 116 milhões por ano. Isso significa 3,6% das receitas correntes líquidas. Se você não tem capacidade de poupança, se você vive de transferência e obras importantes são feitas por emendas parlamentares, como você pode mudar o destino de um Estado assim? Ou você tem um choque de gestão, diminui as despesas de burocracia e custeio...
Fizemos um cálculo: de janeiro a julho, o governo do Estado gastou aproximadamente R$ 1,2 bilhão em atividades por mês; se você reduzir a máquina pública sem que comprometa o resultado - muito pelo contrário -, você pode fazer uma economia da ordem de R$ 500 milhões por ano, pouco mais de quatro vezes o que o governo do Estado investe hoje. É uma questão basicamente de gestão.

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Marcos Imperial

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