segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Com viagem a Buenos Aires, Dilma reforça foco na integração regional Analistas lembram que Brasil e Argentina têm laços históricos, mas devem aprofundá-los


Dilma Rousseff acompanhada do vice-presidente Michel Temer antes de embarcar para Buenos Aires, em sua primeira viagem internacional como presidente .... Foto: Roberto Stuckert Filho / PR/Divulgação
Quando foi eleita, em 2007, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou que sua primeira viagem internacional seria ao Brasil. Com o gesto, ela pretendia mostrar que seu governo teria como foco o principal parceiro de seu país e os demais vizinhos da região. 

- Nossa casa é a América Latina, sem negarmos o mundo. A primeira visita que vou fazer depois de ter ganhado as eleições é o Brasil.

Em entrevista concedida nesta semana a jornais argentinos, foi a vez de Dilma Rousseff, eleita presidente do Brasil em outubro e empossada no início deste mês, explicar os motivos que a levaram a escolher Buenos Aires para ser seu primeiro destino no exterior como governante.

- Pretendo ter com a presidente Cristina Kirchner uma relação muito próxima. Primeiro, porque Brasil e Argentina têm a responsabilidade, ante a América Latina, de fazer com que a região tenha presença e ação no cenário internacional.

Coincidência? Para o professor argentino Félix Peña, especialista em relações econômicas internacionais, a opção de Dilma - bem como a de Cristina - demonstra o quão importantes Brasil e Argentina são um para o outro. Segundo ele, esta é uma percepção que remete aos anos 80, quando ambos os países saíram de regimes militares.

- É um gesto que significa continuar com a tradição de reuniões presidenciais periódicas, iniciada com os acordos entre Raúl Alfonsín e José Sarney, nos anos 80. Todos os presidentes, dos dois países, atribuíram à relação bilateral uma importância especial.
O coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Luís Fernando Ayerbe, lembra que Brasil e Argentina mantêm laços históricos, mas chama a atenção para o impulso dado ao relacionamento bilateral nos últimos anos, sobretudo no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez da integração regional o norte de sua política externa.

- Nos últimos anos, a integração do Brasil com a América do Sul atingiu um patamar muito importante, ampliou-se em termos diplomáticos, com a Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

No campo econômico, o reflexo desta orientação foi a expansão das empresas brasileiras e sua inserção nos mercados vizinhos. Trata-se de um capital, que segundo Ayerbe, caberá agora a Dilma administrar.

- A região é importante para o Brasil em termos estratégicos e diplomáticos, mas também do ponto de vista econômico e de infraestrutura. Essa é a área prioritária do Brasil.

Comércio 
Além de vizinhos, Brasil e Argentina são também grandes parceiros comerciais. Em 2010, a balança comercial entre os dois países (soma de tudo o que é vendido e comprado entre eles) chegou a cerca de R$ 55 bilhões, valor recorde. O Brasil é o principal destino dos produtos argentinos e também o maior fornecedor de seu mercado.
As transações comerciais, no entanto, já foram motivo de polêmica. Como o Brasil vende mais para a Argentina do que compra, o país vizinho chegou a adotar, durante a crise internacional, medidas restritivas às mercadorias do vizinho.

O objetivo era tentar equilibrar a balança à força e proteger a indústria nacional, mas as medidas causaram descontentamento do lado brasileiro. Em 2010, o saldo do comércio bilateral ficou em cerca de R$ 6,7 bilhões a favor do Brasil.

Atualmente, as rusgas parecem ter ficado para trás, com a criação de uma comissão binacional para monitorar as compras e vendas. Na opinião de Peña, o bom momento vivido por ambas as economias também colaborou.

- As duas economias estão crescendo, e quando as economias crescem, fica mais fácil absorver as diferenças que pode haver no plano do comércio. Do lado argentino, o que se deseja é mais equilíbrio e uma mudança qualitativa, com maior presença industrial do Brasil. Estes temas sempre estarão presentes em qualquer relação bilateral importante, como entre Canadá e Estados Unidos.R7.


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Marcos Imperial

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