Lula diz que agora poderá tomar sua cervejinha sem que ninguém se importe.
São Bernardo do Campo/Correio Brasiliense.
O povo não conseguiu sair de perto de Luiz Inácio Lula da Silva no seu primeiro dia como ex-presidente da República. Durante todo o domingo, uma multidão ficou aglomerada em frente ao prédio em que Lula mora, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. No fim da manhã, ele foi à janela e acenou. A amigos íntimos que o visitaram, disse que finalmente poderá beber em paz. Aparecido Pompeu, 62 anos, conta que estudou com Lula no Senai. Foi um dos primeiros a chegar na porta do prédio com um cartaz de “seja bem-vindo”. “Ele é uma celebridade muito querida. Por mim, ficaria no cargo de presidente até o fim da vida”, conta. A chuva que caiu ontem pela manhã borrou o cartaz, mas ainda assim ele o matinha erguido. “Vocês de Brasília não fazem ideia do quanto temos orgulho desse homem”, justifica.
Dona Margarida Azulay, 58, foi metalúrgica a vida toda. Trabalhou ao lado de Lula em pelo menos duas fábricas. Ela e o marido estavam lá, fazendo vigília para Lula durante toda a madrugada. “Ele é motivo de orgulho para nós. Um homem humilde e sem estudo que foi a Brasília provar que pode governar o Brasil”, disse, aos prantos.
Foi justamente sobre a sua trajetória que Lula fez o seu primeiro discurso assim que pisou em São Bernardo do Campo, no fim da noite de sábado. “Volto para casa com a cabeça erguida e a sensação de dever cumprido porque provei ao país que um operário só com o primário e um diploma do Senai é capaz de governar o país”, disse. Em seguida, lembrou que foi vítima de muito preconceito. Quando Lula foi reeleito, há quatro anos, Sarney havia feito uma promessa no pé do seu ouvido. Disse que levaria o petista em casa quando ele tivesse que retornar a São Bernardo do Campo. O político maranhense fez questão de cumprir o prometido e embarcou no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que o levou de Brasília a São Paulo. Lula fez a viagem chorando durante boa parte do tempo.
Mas antes de seguir para São Bernardo, foi a vez de ele cumprir uma promessa feita ao ex-vice-presidente José Alencar, que está internado há 12 dias no Hospital Sírio-Libanês para tratar uma hemorragia provocada pelo câncer. Lula havia prometido que passaria no leito de Alencar para agradecer pessoalmente o sucesso da dobradinha no poder. “Se não fosse o Alencar, meu governo não teria sido o que foi. Ele esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis da minha vida pública e pessoal”, repetiu. Ainda no Hospital, Lula foi homenageado por pacientes, funcionários e por uma multidão que se aglomerou do lado de fora. Segundo o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), Lula ficou bastante emocionado ao deixar Brasília. “Ele veio chorando o voo inteiro. A dona Marisa não sabia o que fazer para consolá-lo”, contou o político.
Exausto, Lula chegou em casa por volta das 22h acompanhado de Sarney e da sua mulher, mas não teve forças para subir no palco improvisado do lado de fora, apesar das cerca de 2 mil pessoas que o esperavam para saudá-lo. Duas horas depois, ele fez o discurso de improviso dizendo que não ia mais se despedir porque estava cansado de tanta choradeira. “Desde quarta-feira só vejo gente chorando. São amigos, funcionários do Palácio do Planalto que choraram de manhã, à tarde e à noite (...) Não estou a fim de chorar”, brincou.
Lula disse estar feliz em voltar ao seu berço como líder sindical, mas que vai descansar por 20 dias antes de pensar novamente em política. “Depois de oito anos na Presidência da República, eu acho justo que Marisa e eu tiremos uns dias de férias, pelo menos 20 dias”, afirmou. Em seguida, voltou a dizer que não vai abandonar a política.
Durante o discurso, Lula teve sede e pediu água. Mas a organização demorou a levar e ele aproveitou para brincar. “Quando eu era presidente, não costumava pedir água. Porque tinha sempre um copinho aqui do lado”, disse, arrancando risos. Finalizou pedindo que a população apoie Dilma Rousseff no cargo e se mostrou à disposição para ajudá-la sempre que houver necessidade. Segundo relatos de amigos, Lula acordou por volta de meio-dia para assistir na televisão a sua primeira entrevista como ex-mandatário, concedida à atriz Regina Casé no programa Esquenta, da TV Globo. No bate-papo informal, o petista disse que pretende retomar antigos hábitos dos quais se privou nos oito anos em que ocupou a Presidência e que se sentirá mais confortável para beber fora do cargo. “Vou poder tomar uma cerveja e ninguém vai se importar se eu tomar uma cervejinha”, ressaltou.
Segundo Lula, uma de suas prioridades como ex-presidente será retomar a rotina. “Eu resolvi, quando ganhei a Presidência, fazer uma espécie de isolamento meu e da Marisa. Eu fiquei oito anos sem ir a um restaurante, sem ir a um casamento, sem ir a um aniversário, sem ir a uma festa”, disse. Ele também admitiu que não sabe ainda o que fazer após deixar o cargo. “Sempre tive uma vida muito intensa. Fiquei praticamente de 1989 a 2002 brigando para ganhar as eleições, até ganhar. Agora eu estou deixando a Presidência e, sinceramente, eu não sei o que eu vou fazer”, afirmou.
Festa encerrada, é hora de voltar
Mariana Sacramento
Marize (C) e Manoel (D) vieram para a posse com a certeza de que participaram de um momento histórico
A auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Alves Silva, 48 anos, viajou de ônibus 1. 020 quilômetros para prestigiar a posse da primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto. Ontem, ela deu início à jornada de volta para casa, em Presidente Prudente (SP), satisfeita com o que presenciou, no sábado, na capital de seu país. Nem a chuva forte afastou a paulista da Esplanada dos Ministérios antes do fim do discurso de Dilma Rousseff no parlatório. Para ela, o momento mais marcante foi quando Lula, após se despedir de sua sucessora, caiu nos braços do povo. “Ele passou perto de mim. Fiquei trêmula e comecei a chorar, nem consegui tirar uma foto. Mas, tudo bem, ficará guardado para sempre na memória”, afirma.
Assim como a auxiliar de enfermagem, brasileiros de todos os cantos vieram à capital só para assistir à posse de Dilma Rousseff. Passado o momento histórico, chegou a hora do retorno. Ontem, nos terminais da cidade, dava para reconhecer os militantes e petistas de longe. Com bottons e bonés vermelhos, ainda traziam no rosto a alegria de ter visto Lula entregar a faixa presidencial a sua sucessora.
O aposentado Manoel Feliciano dos Santos, 79 anos, viajou 15 horas de Paranatinga, Mato Grosso, para Brasília com um objetivo em mente: “Dar um aperto de mão e um beijo na nova presidente”. Ontem, ele pegou o ônibus de volta sem realizar o feito, mas com um “orgulho danado” de estar entre as 30 mil pessoas que, ao lado de Dilma, “entraram para a história da política”. “Eu nunca imaginei que estaria vivo para ver uma mulher comandar o país. Espero que ela faça um bom governo, que ela se lembre dos pobres, porque foram os pobres que elegeram o presidente Lula e que a colocaram na presidência da República”, ensinou.
O casal de baianos, Marize Moreira dos Santos, 42 anos, e Valter dos Santos, 67 anos, perdeu a viagem para Salvador e não sabem quando conseguirão embarcar para casa. “Os ônibus estão todos cheios, não souberam informar quando haverá vaga”, lamentou o aposentado. Talvez eles precisem ficar na capital por mais dois dias. “Não tem problema. Só pelo fato de ter assistido à posse, durmo no chão dessa rodoviária até por uma semana. Eu já vi mulher pilotar avião, comandar navio, ser delegada, juíza, mas presidente pensei que jamais veria. Agora, os homens vão ter que ficar caladinhos”, brincou.
Entre os visitantes que vieram a Brasília especialmente para a posse de Dilma, estava a família da pedagoga Cristina Terribas, 49 anos, que pela segunda vez saiu de Carapicuíba (SP) para assistir a uma trasmissão de cargo. “A primeira foi em 2003, no primeiro mandato de Lula”, lembra. “Naquela época fizemos uma viagem de 20 horas de ônibus. Hoje, graças a Deus e ao Lula, conseguimos vir de avião”, afirma. Além do meio de transporte, as emoções que a pedagoga sentiu ao acompanhar as duas posses também foram diferentes. “A primeira a agitação era muito maior. Era tudo muito novo, pela primeira vez um homem do povo se tornaria presidente. Sábado, tivemos outra quebra de paradigma com a posse de Dilma. A nossa expectativa é muito positiva. Torcemos para que ela consiga aprofundar as conquistas de Lula, principalmente aquelas relacionas a inclusão social.”
O povo não conseguiu sair de perto de Luiz Inácio Lula da Silva no seu primeiro dia como ex-presidente da República. Durante todo o domingo, uma multidão ficou aglomerada em frente ao prédio em que Lula mora, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. No fim da manhã, ele foi à janela e acenou. A amigos íntimos que o visitaram, disse que finalmente poderá beber em paz. Aparecido Pompeu, 62 anos, conta que estudou com Lula no Senai. Foi um dos primeiros a chegar na porta do prédio com um cartaz de “seja bem-vindo”. “Ele é uma celebridade muito querida. Por mim, ficaria no cargo de presidente até o fim da vida”, conta. A chuva que caiu ontem pela manhã borrou o cartaz, mas ainda assim ele o matinha erguido. “Vocês de Brasília não fazem ideia do quanto temos orgulho desse homem”, justifica.
Dona Margarida Azulay, 58, foi metalúrgica a vida toda. Trabalhou ao lado de Lula em pelo menos duas fábricas. Ela e o marido estavam lá, fazendo vigília para Lula durante toda a madrugada. “Ele é motivo de orgulho para nós. Um homem humilde e sem estudo que foi a Brasília provar que pode governar o Brasil”, disse, aos prantos.
Foi justamente sobre a sua trajetória que Lula fez o seu primeiro discurso assim que pisou em São Bernardo do Campo, no fim da noite de sábado. “Volto para casa com a cabeça erguida e a sensação de dever cumprido porque provei ao país que um operário só com o primário e um diploma do Senai é capaz de governar o país”, disse. Em seguida, lembrou que foi vítima de muito preconceito. Quando Lula foi reeleito, há quatro anos, Sarney havia feito uma promessa no pé do seu ouvido. Disse que levaria o petista em casa quando ele tivesse que retornar a São Bernardo do Campo. O político maranhense fez questão de cumprir o prometido e embarcou no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que o levou de Brasília a São Paulo. Lula fez a viagem chorando durante boa parte do tempo.
Mas antes de seguir para São Bernardo, foi a vez de ele cumprir uma promessa feita ao ex-vice-presidente José Alencar, que está internado há 12 dias no Hospital Sírio-Libanês para tratar uma hemorragia provocada pelo câncer. Lula havia prometido que passaria no leito de Alencar para agradecer pessoalmente o sucesso da dobradinha no poder. “Se não fosse o Alencar, meu governo não teria sido o que foi. Ele esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis da minha vida pública e pessoal”, repetiu. Ainda no Hospital, Lula foi homenageado por pacientes, funcionários e por uma multidão que se aglomerou do lado de fora. Segundo o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), Lula ficou bastante emocionado ao deixar Brasília. “Ele veio chorando o voo inteiro. A dona Marisa não sabia o que fazer para consolá-lo”, contou o político.
Exausto, Lula chegou em casa por volta das 22h acompanhado de Sarney e da sua mulher, mas não teve forças para subir no palco improvisado do lado de fora, apesar das cerca de 2 mil pessoas que o esperavam para saudá-lo. Duas horas depois, ele fez o discurso de improviso dizendo que não ia mais se despedir porque estava cansado de tanta choradeira. “Desde quarta-feira só vejo gente chorando. São amigos, funcionários do Palácio do Planalto que choraram de manhã, à tarde e à noite (...) Não estou a fim de chorar”, brincou.
Lula disse estar feliz em voltar ao seu berço como líder sindical, mas que vai descansar por 20 dias antes de pensar novamente em política. “Depois de oito anos na Presidência da República, eu acho justo que Marisa e eu tiremos uns dias de férias, pelo menos 20 dias”, afirmou. Em seguida, voltou a dizer que não vai abandonar a política.
Durante o discurso, Lula teve sede e pediu água. Mas a organização demorou a levar e ele aproveitou para brincar. “Quando eu era presidente, não costumava pedir água. Porque tinha sempre um copinho aqui do lado”, disse, arrancando risos. Finalizou pedindo que a população apoie Dilma Rousseff no cargo e se mostrou à disposição para ajudá-la sempre que houver necessidade. Segundo relatos de amigos, Lula acordou por volta de meio-dia para assistir na televisão a sua primeira entrevista como ex-mandatário, concedida à atriz Regina Casé no programa Esquenta, da TV Globo. No bate-papo informal, o petista disse que pretende retomar antigos hábitos dos quais se privou nos oito anos em que ocupou a Presidência e que se sentirá mais confortável para beber fora do cargo. “Vou poder tomar uma cerveja e ninguém vai se importar se eu tomar uma cervejinha”, ressaltou.
Segundo Lula, uma de suas prioridades como ex-presidente será retomar a rotina. “Eu resolvi, quando ganhei a Presidência, fazer uma espécie de isolamento meu e da Marisa. Eu fiquei oito anos sem ir a um restaurante, sem ir a um casamento, sem ir a um aniversário, sem ir a uma festa”, disse. Ele também admitiu que não sabe ainda o que fazer após deixar o cargo. “Sempre tive uma vida muito intensa. Fiquei praticamente de 1989 a 2002 brigando para ganhar as eleições, até ganhar. Agora eu estou deixando a Presidência e, sinceramente, eu não sei o que eu vou fazer”, afirmou.
Festa encerrada, é hora de voltar
Mariana Sacramento
Marize (C) e Manoel (D) vieram para a posse com a certeza de que participaram de um momento histórico
A auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Alves Silva, 48 anos, viajou de ônibus 1. 020 quilômetros para prestigiar a posse da primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto. Ontem, ela deu início à jornada de volta para casa, em Presidente Prudente (SP), satisfeita com o que presenciou, no sábado, na capital de seu país. Nem a chuva forte afastou a paulista da Esplanada dos Ministérios antes do fim do discurso de Dilma Rousseff no parlatório. Para ela, o momento mais marcante foi quando Lula, após se despedir de sua sucessora, caiu nos braços do povo. “Ele passou perto de mim. Fiquei trêmula e comecei a chorar, nem consegui tirar uma foto. Mas, tudo bem, ficará guardado para sempre na memória”, afirma.
Assim como a auxiliar de enfermagem, brasileiros de todos os cantos vieram à capital só para assistir à posse de Dilma Rousseff. Passado o momento histórico, chegou a hora do retorno. Ontem, nos terminais da cidade, dava para reconhecer os militantes e petistas de longe. Com bottons e bonés vermelhos, ainda traziam no rosto a alegria de ter visto Lula entregar a faixa presidencial a sua sucessora.
O aposentado Manoel Feliciano dos Santos, 79 anos, viajou 15 horas de Paranatinga, Mato Grosso, para Brasília com um objetivo em mente: “Dar um aperto de mão e um beijo na nova presidente”. Ontem, ele pegou o ônibus de volta sem realizar o feito, mas com um “orgulho danado” de estar entre as 30 mil pessoas que, ao lado de Dilma, “entraram para a história da política”. “Eu nunca imaginei que estaria vivo para ver uma mulher comandar o país. Espero que ela faça um bom governo, que ela se lembre dos pobres, porque foram os pobres que elegeram o presidente Lula e que a colocaram na presidência da República”, ensinou.
O casal de baianos, Marize Moreira dos Santos, 42 anos, e Valter dos Santos, 67 anos, perdeu a viagem para Salvador e não sabem quando conseguirão embarcar para casa. “Os ônibus estão todos cheios, não souberam informar quando haverá vaga”, lamentou o aposentado. Talvez eles precisem ficar na capital por mais dois dias. “Não tem problema. Só pelo fato de ter assistido à posse, durmo no chão dessa rodoviária até por uma semana. Eu já vi mulher pilotar avião, comandar navio, ser delegada, juíza, mas presidente pensei que jamais veria. Agora, os homens vão ter que ficar caladinhos”, brincou.
Entre os visitantes que vieram a Brasília especialmente para a posse de Dilma, estava a família da pedagoga Cristina Terribas, 49 anos, que pela segunda vez saiu de Carapicuíba (SP) para assistir a uma trasmissão de cargo. “A primeira foi em 2003, no primeiro mandato de Lula”, lembra. “Naquela época fizemos uma viagem de 20 horas de ônibus. Hoje, graças a Deus e ao Lula, conseguimos vir de avião”, afirma. Além do meio de transporte, as emoções que a pedagoga sentiu ao acompanhar as duas posses também foram diferentes. “A primeira a agitação era muito maior. Era tudo muito novo, pela primeira vez um homem do povo se tornaria presidente. Sábado, tivemos outra quebra de paradigma com a posse de Dilma. A nossa expectativa é muito positiva. Torcemos para que ela consiga aprofundar as conquistas de Lula, principalmente aquelas relacionas a inclusão social.”
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Marcos Imperial