Os oito anos que mudaram a economia, colocaram o Brasil na rota do crescimento sustentado e o transformaram num dos mercados mais cobiçados do mundo.
Em outubro de 2002, em seu primeiro discurso como presidente eleito da República, o ex-metalúrgico nordestino Luiz Inácio Lula da Silva revelou uma ambição singela: "Precisamos garantir que cada homem ou cada mulher, por mais pobre que seja, tenha o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia."
Dois mandatos e oito anos depois, Lula deixa um legado que vai muito além da redução da fome no Brasil. Ao descer a rampa do Palácio do Planalto, em 1º de janeiro, ele encerrou um capítulo decisivo na história do País, digno de grandes personagens da política nacional, como Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas.
"O Brasil será a quinta maior economia do mundo até 2016"
Lula, ex-presidente do Brasil
Na era Lula, quase 40 milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza e se tornaram uma poderosa classe média consumidora. Essas pessoas passaram a se alimentar mais e melhor, a comprar automóveis e eletrônicos, a viajar nas férias e a realizar o sonho da casa própria. O Brasil passou de caloteiro internacional à grande voz dentre os países emergentes, sentando lado a lado com os desenvolvidos nos fóruns de poder e de negócios internacionais.
Um círculo virtuoso de distribuição de renda, justiça social e crescimento que mudou a economia brasileira e despertou a atenção do mundo. Leia, nas próximas páginas, as reportagens que mostram o País que Lula construiu e deixa para sua sucessora, Dilma Rousseff, melhorar.
Ao receber das mãos de Fernando Henrique Cardoso a faixa de presidente, Lula assumiu um país malvisto pelo mundo financeiro, uma herança dos tropeços econômicos causados pelo superendividamento e pela hiperinflação dos anos 80 e início dos 90.
Seus dois antecessores, Itamar Franco e FHC, conseguiram domar o dragão da inflação com o Plano Real, mas o resgate da confiança internacional plena só aconteceria no governo Lula. Ironia do destino?
Lula chegou e saiu de Brasília como o presidente mais popular da história do Brasil e sepultou a fama de caloteiro internacional.
Depois de receber a faixa de FHC (abaixo), reconquistou a credibilidade global
Ele próprio era visto como uma ameaça séria à estabilidade econômica e, no exercício do poder, revelou-se seu maior defensor. Lula acabou com o risco Lula. Às vésperas das eleições 2002, o chamado risco-país (termômetro que mede a confiança dos investidores na capacidade de uma nação honrar seus pagamentos) medido pelo banco J.P.Morgan atingiu 2.436 pontos, equivalente ao índice de países como Paquistão e Burundi. Hoje, o cenário é o extremo oposto.
Graças à manutenção dos pilares macroeconômicos construídos nos anos de FHC e da redução da dívida pública em proporção do PIB (veja gráfico), o risco-país chegou aos atuais 174 pontos.
E mais: o Brasil recebeu o carimbo de grau de investimento pelas três maiores agências de classificação de risco de crédito, Standard & Poor's, Moody's e Fitch. Com isso, passou a ser visto oficialmente como uma economia de fundamentos mais sólidos e menos vulnerável a crises externas, proporcionando ao investidor uma opção mais segura para investimentos.
Nem mesmo a crise do mensalão, em 2006, foi capaz de impedir a construção dessa confiança. "O Brasil solidificou seus fundamentos e, principalmente, tornou-se um país previsível", disse à DINHEIRO o diretor do grupo de analistas soberanos da Standard & Poor's, Sebastian Briozo.
No Bric, clube dos emergentes mais promissores, deixou Rússia, Índia e China para trás nesse aspecto. "Nenhum dos Brics possui tanta previsibilidade política quanto o Brasil. Aos olhos dos investidores, isso é fundamental", garante Briozo.
O resgate e a manutenção da credibilidade externa são vistos como o maior legado de Lula por empresários e até adversários políticos. "Lula deixa a consolidação de uma política econômica responsável.
O Brasil é respeitado na comunidade internacional. A responsabilidade, o respeito aos contratos e os estímulos à iniciativa privada são um grande legado", afirma Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo, uma das novas empresas que deram certo na revolução capitalista dos últimos anos.
Embora ressalve que o governo tenha gasto demais nos últimos meses durante a campanha eleitoral, o que obrigará Dilma Rousseff a pisar no freio da economia nos primeiros meses de 2011, o senador Aécio Neves, do PSDB, reconhece o feito histórico.
"A maior herança (de Lula) é a responsabilidade em manter a política econômica herdada do governo anterior, com metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário", afirma Neves.
Não por acaso, o Brasil é hoje um dos principais destinos de investimentos estrangeiros. A entrada recorde de dólares abriu caminho para o aumento das reservas internacionais, que saltaram de US$ 37,8 bilhões em 2002 para quase US$ 285 bilhões.
No caminho inverso, o dólar caiu de R$ 3,94 para menos de R$ 1,70. A equipe econômica de Lula, liderada por Guido Mantega na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, fez o País ficar menos endividado.
A relação dívida/PIB recuou de 60,6%, em 2002, para 40,1%, em 2010. A taxa de juros reais (além da inflação) desceu sete pontos percentuais. O crédito, uma das locomotivas do crescimento, aumentou em 20 pontos percentuais e ficou próximo a 50% do PIB.
Em um positivo efeito cascata, o crescimento do PIB deverá se aproximar de 8% em 2010, quase três vezes superior à média de 2,6% dos quatro anos anteriores. "O Brasil experimentou um ciclo de crescimento constante e sustentável, apoiado em um alicerce econômico mais sólido", diz o economista-chefe do J.P. Morgan, Fábio Akira. "Tudo isso criou um campo fértil para o avanço da nova classe média", completa.
Mais do que manter intacta a herança monetária do Plano Real, Lula capitaneou uma revolução de consumo que fez do mercado doméstico o grande trunfo para atrair investimentos locais e externos e escapar mais rápido da grande recessão global de 2008.
"O mandato de oito anos teve coerência. Lula acreditou que a estabilidade monetária era a precondição para que outras coisas boas acontecessem no Brasil", diz o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. "Ao mesmo tempo, a determinação da inclusão social e os mecanismos de distribuição de renda foram fundamentais para a expansão do crédito e a criação de um mercado interno mais forte."
Obviamente, Dilma terá muito trabalho pela frente e o desafio de aprofundar reformas estruturais empacadas, como a tributária e a da Previdência. Mas o País do futuro virou o País do presente.
Em suas últimas declarações no governo, Lula mostrou-se satisfeito com as conquistas e as perspectivas. "O Brasil será a quinta maior economia do mundo em 2016", previu na terça-feira 28 em Pernambuco, sua terra natal. Alguém duvida?
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Marcos Imperial