terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Natal, dois anos depois de Micarla"

Reproduzimos abaixo artigo publicado originalmente no Blog Embolando Palavras, do jornalista Alisson Almeida.

Natal, dois anos depois de Micarla.

Há pouco mais de dois anos, Micarla de Sousa (PV) assumia o comando da Prefeitura de Natal. Eleita em primeiro turno, com o apoio decisivo do DEM, a jovem empresária chegou ao Palácio Felipe Camarão prometendo um choque de gestão na cidade. Com seu carisma, convenceu a maioria da população das suas intenções. O povo, sobretudo os estratos mais humildes da sociedade, depositou na pevista grande dose de esperança.

Dois anos depois da ascenção de Micarla, como está a capital potiguar? Para quem se deu ao trabalho de ler o plano de governo da então candidata do PV, o badalado GPS (Gestão por Políticas de Sustentabilidade), a conclusão é inevitável: Micarla é um fracasso.
A administração do PV não conseguiu avançar em nenhuma área. Pelo contrário. Natal retrocedeu nestes dois anos de poder de Micarla. Pra começar, leia um trecho da introdução do GPS, apresentado na campanha de 2008:

“Aqui [Plano de Governo], segurança, saneamento básico, pavimentação de ruas, energia elétrica, ordenamento da ocupação urbana e do trânsito, controle dos vários tipos de poluição e preservação ambiental não são palavras vazias, mas áreas que demandam soluções a curto, médio e longo prazo.“
Quando se desce aos detalhes do plano, chegando-se às metas enumeradas pelo documento, o fracasso fica mais evidente. Em dado trecho, estão lá escritas as seguintes promessas: “Reduzir, na faixa de 10% ao ano: o déficit habitacional e as pendências fundiárias; o analfabetismo; o desemprego e os níveis de violência“.

Em outro trecho, a promessa é de aumentar em 10% ao ano, com base em quais estudos?!, os seguintes índices: saneamento, drenagem e pavimentação e a “oferta de eletricidade e telefonia pública (mediante gestões e planejamento compartilhado junto às concessionárias)“, além de ”aprimorar a organização do trânsito”, “fomentar ainda mais a indústria do turismo”, “orientar e proteger grupos sociais em situações de risco”, ”conferir maior eficiência às contas e aos serviços públicos” e “colocar Natal na pauta do movimento ecológico internacional.”

A prefeita deveria vir a público para exibir os índices que comprovem que sua gestão atingiu alguma dessas metas apresentadas no fictício GPS, assinado pela própria Micarla de Sousa, pelo coordenador do plano Marcos Valério de Araújo e por outros 28 “colaboradores” — entre os quais a “comunicadora” Priscila de Sousa, sua irmã.

As promessas vão além. Mas fiquemos, porém, nas áreas eleitas pela prefeita como prioritárias. Micarla concentrou boa parta da sua campanha em críticas à situação da saúde pública na gestão do ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT). Para resolver o problema, anunciou que construiria um Hospital da Mulher na Zona Oeste, um hospital de traumato-ortopedia na Zona Norte e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em cada região da cidade; disse que aumentaria em 10% ao ano o número de especialistas, leitos e ambulâncias, acompanhando o crescimento estimado da população; e se comprometeu em deixar a cidade com 1 médico público para cada 300 habitantes, nas quatro regiões administrativas.

Na educação, a lista de promessas é extensa: construir escolas, melhorar a estrutura das atuais, premiar a cada semestre as escolas melhor conservadas, construir novas escolas em regime de tempo integral, entre outras.
Na habitação, Micarla prometeu criar o “Bônus Moradia” para financiar reformas e a “Bolsa Moradia” para custear aluguéis de famílias removidas de áreas de risco.

As promessas para a segurança pública, se cumpridas, transformariam a cidade num verdadeiro paraíso. Entre outras coisas, anunciou que dobraria o efetivo da guarda municipal dos atuais 500 para 1.000 servidores; criaria rondas noturnas e diurnas motorizadas da guarda municipal; e criaria o Observatório da Violência e do Trânsito. Micarla foi a Bogotá (Colômbia) e a Diadema (São Paulo), gravou imagens para seu programa eleitoral e afirmou que implantaria os programas adotados por essas duas cidades que, com um conjunto de ações articuladas, conseguiram reduzir seus índices de violência.

O saldo da gestão Micarla de Sousa, como se vê, é pra lá de negativo. Faltam realizações, sobram promessas. Até agora, apesar de ter criado a Secretaria de Relações Interinstitucionais e Governança Solidária (Serig), como observou o ex-secretário adjunto da pasta, o sociólogo Paulo Araújo, a prefeita não adotou o modelo da governança como forma de governo. As práticas administrativas, ao contrário, são atrasadas e baseadas no clientelismo.

Perdemos a conta das trocas realizadas pela prefeita no seu secretariado. Para 2011, Micarla anunciou mais uma reforma administrativa. No ano passado, o município contratou os serviços de consultoria Fundação Getúlio Vargas, prometendo implantar um sistema de metas e melhorar a gestão em cada secretaria. Os cidadãos pagaram a conta, mas não viram o resultado.

O que menos se viu nestes dois anos de mandato de Micarla de Sousa foi planejamento, seriedade no trato da coisa pública e empenho verdadeiro para solucionar os problemas da população. A prefeita governa apelando para truques de marketing, faz da emissora de televisão da família dela palanque eletrônico para tentar resgatar sua popularidade e persegue aqueles que ousam criticar sua desastrosa administração.

Micarla brinca o tempo inteiro com a inteligência, a paciência e a boa vontade dos natalenses. Há poucos meses, armou um grande circo para dizer que não haveria aumento da tarifa do transporte coletivo da capital. No início do ano, se licenciou do cargo para fazer uma cirurgia cardíaca, delegando ao vice-prefeito Paulinho Freire a espinhosa tarefa de autorizar o aumento da passagem urbana. Com a estratégia, espera reduzir o impacto negativo da medida sobre a sua minguadíssima popularidade. O feitiço, ao que tudo indica, deverá se voltar contra a feiticeira.

Com 80% de reprovação popular, Micarla é um caso perdido. As pessoas estão cada vez mais insatisfeitas e fazem questão de manifestar isso. A revolta está nas pixações nos muros da cidade, nas manifestações públicas e nos gritos de “Fora Micarla!!!” que surgiram na internet e eclodiram nas ruas.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá queridos leitores, bem vindo a pagina do Blog Imperial. Seu comentário é de extrema importância para nosso crescimento.

Marcos Imperial

Leia também:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...