Rafael Molina.
Juba, 9 jul (EFE) - O Sudão do Sul proclamou neste sábado sua independência em uma solene e longa cerimônia à qual compareceram cerca de 30 chefes de Estado e responsáveis por organismos internacionais e na qual não se evitaram referências às dificuldades que as autoridades terão que assumir para construir o novo país.
"Esperamos 56 anos e este é um sonho tornado realidade" afirmou o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit, no ato de proclamação celebrado em Juba, a capital do novo país, no qual também jurou seu cargo à frente do governo e a nova Constituição que regerá seus cidadãos.
Mayardit teve fez uma emocionada homenagem aos 2,5 milhões de mortos das duas sangrentas guerras civis que os sudaneses do sul travaram com seus vizinhos do norte. "Perdoamos, mas não esqueceremos", destacou.
"Agora temos em nossas mãos a responsabilidade de nosso futuro", acrescentou Mayardit do palanque no qual minutos antes o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, confirmava que seu país reconhece a secessão do sul e oferece seu apoio para que faça parte de organismos internacionais como as Nações Unidas.
Da mesma forma que Mayardit, Bashir apostou pelo diálogo entre ambas as nações para resolver as diferenças que ainda persistem e que não foram resolvidas com o acordo de paz assinado em 2005 para permitir a independência dos dez estados que a partir deste sábado formam o Sudão do Sul.
Precisamente o controle, ainda não definido, sobre o distrito fronteiriço de Abhey e a vizinha região de Kordofan do Sul, onde se concentram os recursos petrolíferos da região, é motivo de disputa entre os dois países e mantém aberta a possibilidade de uma nova guerra.
O apoio da comunidade internacional às separação ficou evidente com presença de delegados de 70 países e de cerca de 30 chefes de Estado, a maioria deles da África, nos atos realizados em Juba neste sábado.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e o atual presidente da União Africana e líder da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, foram algumas das personalidades que ofereceram seu apoio à nova nação com discursos nos quais apostaram pelo diálogo entre norte e sul para garantir sua viabilidade.
Foi o mesmo que fizeram o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, os enviados da Liga Árabe, China, Estados Unidos e o próprio Haakon da Noruega, herdeiro da coroa do país, que desejaram ao novo Estado, o membro número 193 da ONU, que se desenvolva sobre princípios como justiça, igualdade e respeito aos direitos humanos.
O mausoléu de John Garang, onde está o corpo de um dos heróis do país, morto em acidente em 2005, foi o lugar escolhido para a cerimônia da qual participaram milhares de cidadãos, que não esconderam sua emoção e inclusive começaram a chorar quando ocorreu o hasteamento da nova bandeira do país e a retirada da do Sudão.
"É um grande dia, houve muito sangue neste país, mas estamos no caminho da liberdade" afirmou à Agência Efe Tereza Athian, uma das muitas participantes que também começaram a chorar quando foram tocadas as primeiras notas do novo hino do país.
"Temos que lembrar das pessoas que se foram, mas seu sacrifício não foi em vão. Agora a esperança de construir um novo futuro tem que nos unir", disse Naomi Addhien, outra das presentes.
A República do Sudão do Sul é o primeiro Estado surgido no século XXI e será, segundo as Nações Unidas, o de número 55 da África, um continente que não tinha vivido um processo similar desde a secessão da Eritreia da Etiópia em 1993.
As esperanças de desenvolvimento dos sudaneses do sul, dedicados agora majoritariamente à agricultura, estão na exploração de seus recursos petrolíferos e de outros produtos como o zinco, o aço, o cromo, a prata e o ouro. No entanto, necessitarão de ajuda externa.
O rio Nilo, que corta o país, é também uma potencial fonte de riqueza relacionada com os recursos hidrelétricos e o turismo de aventura. Além disso, a nova nação conta com uma extensão de parques naturais virgens e uma grande variedade de fauna que seu governo compara com as do Quênia e Tanzânia.
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Marcos Imperial