Noivas fazem primeiro ensaio fotográfico antes do casamento
Uma troca de olhares em um barzinho foi o estopim de um relacionamento amoroso que teve mais um capítulo escrito no mês de maio. O casal Luciana Lima e Viviane Rodrigues oficializou a união estável homoafetiva entre mulheres, a primeira em Alagoas e uma das primeiras do país após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda este mês a cantora e a enfermeira irão realizar a cerimônia seguindo os moldes de um casamento convencional.
Após o reconhecimento do Supremo Tribunal Federal no último dia 5 de maio, que dá o direito a casais do mesmo sexo oficializar o casamento civil, Luciana e Viviane resolveram ir a um cartório para tratar do casamento. “Lembro que nós chegamos ao cartório juntas para perguntar sobre a documentação necessária. Lá eles informaram que poderia ser feito a qualquer dia. Estávamos ali e então fizemos o casamento logo”, conta Luciana.
Segundo a decisão do Supremo, os casais homossexuais passarão a ter reconhecido o direito de receber pensão alimentícia, acesso à herança do companheiro em caso de morte, além de adotar filhos e registrá-los em seus nomes. Viviane conta que a idéia do casamento era antiga e começou quando elas foram morar juntas três meses depois do início do namoro. “Chegamos a pensar em tentar oficializar a união na Argentina, onde já é reconhecido. Ainda bem que o STF decidiu e conseguimos fazer por aqui mesmo”, disse.
Mesmo sem receber o apoio de boa parte das famílias, que não concordam com o relacionamento, o casal relata que luta principalmente pela redução do preconceito contra os homossexuais.
Ao mesmo tempo em que há um preconceito massivo na sociedade, ainda existe a rejeição dentro da própria classe, o que acaba dificultando o entendimento da condição dos casais. “O maior preconceito está entre os próprios gays, seja por falta de coragem dos que não se assumem, ou por inveja da nossa coragem, aí acabamos sofrendo mais ainda. Por isso vemos que é importante ser divulgado”, afirma Luciana.
Como qualquer mulher que sonha em casar, a cerimônia não fugirá das tradicionais e terá direito a vestido de noiva, véu e grinalda, além do smoking em uma das noivas. “Foi um desejo nosso fazer a cerimônia nos mesmos moldes de um casamento heterossexual. Não é o fato de sermos lésbicas que nos impediria de casar vestidas de noiva e noivo”, esclarece Viviane.
A descoberta e o receio
Juntas a um ano e três meses, a descoberta da homossexualidade de Viviane e Luciana aconteceu em momentos diferentes da vida.
Enquanto Luciana desde criança já sentia uma tendência a gostar de pessoas do mesmo sexo, Viviane conta que só descobriu a opção sexual aos 21 anos. “Eu namorava um rapaz na época e tive o primeiro contato durante uma festa com amigos da faculdade. De lá para cá comecei a me relacionar com outras mulheres, até conhecer Luciana no bar onde ela estava tocando. Foi amor à primeira vista”, relembra.
Dilema semelhante a de muitos homossexuais que muitas vezes não tem o apoio da família, as duas afirmam não ser fácil driblar o preconceito por parte dos pais. Mesmo com a união já oficializada e a data da festa de casamento marcada, os pais de Luciana desconhecem o casamento e provavelmente não irão participar da cerimônia.
Ela relata que os próprios pais classificam a opção como uma doença. “Nunca tive coragem de contar a meu pai que sou lésbica. Ele é um homem de negócios e não contei do casamento por temer sua reação. Gosto muito dele”, desabafa Luciana.
O apoio dos amigos, segundo ambas apontam, foi fundamental para conseguir superar os desafios impostos pela sociedade. A preocupação do casal agora fica por conta dos últimos detalhes do casamento e os preparativos da lua de mel, como acontece com todos os casais.
Depois, Luciana e Viviane pretendem conseguir na Justiça o direito do casamento civil. “O mais difícil estamos fazendo, que é mostrar à sociedade que um casal homossexual é igual a qualquer um. Sabemos de todas as dificuldades que estamos expostas com a nossa união, mas a atitude deve ser vista como uma contribuição para diminuir o preconceito, além de incentivar outros casais a se casarem”, conclui o casal.Uol.
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Marcos Imperial