Entrevista >> Ariano Suassuna:
Foto:Fábio Cortez/DN/D.A Press
"Aprendi a respeitar o gosto popular"
A elegância é costumeira: tecidos de linho em cores claras moldam um conjunto harmonioso de vestes do senhor de 84 anos. O vigor de Ariano Vilar Suassuna também transparece o mesmo. As opiniões radicais contra o que classifica de estrangeirismos maléficos são notórias e inalteráveis. As "aulas-espetáculo" são previsíveis, divertidas e comumente atraem bom público. O medo de avião, a amizade com o escritor Carlos Newton e a tendência socialista também são conhecidos em Ariano. Então, qual a atração para tantas palestras? Talvez, a inquietação. Mesmo octagenário, o escritor e dramaturgo está perto de finalizar um novo livro. As informações a respeito foram proibidas pela editora. Mas Ariano sabe brincar com vários assuntos:
Pode adiantar alguma coisa da palestra?
A Universidade (UFRN) me pediu para falar da minha peça teatral O Santo e a Porca (1957), porque vai estar no conteúdo do vestibular.
E o tema Diálogos da Ciência com a Cultura Popular? De qual ponto esse diálogo poderia começar?
Soube disso hoje pelos jornais. Não me falaram disso, não. Mas olha, é pergunta para cientista. Eu sou escritor e, por acaso, gosto da cultura popular. Penso nesse diálogo no campo das ciências humanas.
A intenção do evento (promovido pela Fundação José Augusto, dentro da programação do Agosto da Alegria) é trazer jovens para assistir sua aula. O senhor acredita que pode ser o despertar de um jovem à leitura?
Sempre me entendi bem com o jovem. Fui professor dos 17 aos 70 anos. E O Auto da Compadecida ajudou muito essa interação. O cinema ajudou muito. Tanto que é minha peça mais conhecida.
Causa ciúme? O senhor tem alguma peça ou livro predileto sem esse reconhecimento?
Aprendi a respeitar o gosto popular. Mas uma peça minha, pouco conhecida, chamada A Farsa da Boa Preguiça, é minha preferida. E de todos os livros, elejo A Pedra do Reino.
Que não caiu no gosto popular. Seria interferência dos estrangeirismos que o senhor combate?
Há uma ideia equivocada a meu respeito. Sou contra o que há de má qualidade. Nunca seria contra a verdadeira cultura, seja ela daqui ou estrangeira. Seria muita ingratidão minha. Devo muito a Cervantes e Garcia Lorca, que são espanhóis; a Dostoiévski, russo. Gosto demais de Moliére, que é francês.
Qual o livro de hoje?
Não tenho o hábito de ler; eu tenho paixão pela leitura. Leio todo dia. E trouxe pra cá pra terminar de ler A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós.
E na música?
Vivaldi, Mozart, Erik Satie (compositor francês - 1866-1925), Villa Lobos, Antônio Madureira...
Pensei que ficaria só nos clássicos... E tivemos show de Antônio Nóbrega sábado.
Pois é. Serve para ratificar o que eu disse anteriormente. E Nóbrega, posso me gabar, é quase uma cria minha.
Nas letras potiguares, o senhor, via de regra, enaltece Carlos Newton. Conhece algum outro?
Muita gente que admiro, mas conheço pouco. Até roubei um verso de um poeta chamado Jean Soares Sartief, sem autorização dele. É bom que ele veja essa entrevista e tome ciência. Da última vez ele me entregou um livro e encaixei esse verso no romance que estou escrevendo agora. E, evidentemente, gosto de Câmara Cascudo; gostava muito da pessoa e do escritor Oswaldo Lamartine; de Sanderson Negreiros.
Conte mais do livro que o senhor está escrevendo.
A editora (José Olympio) me proibiu qualquer comentário.
O senhor mantém disciplina para escrever ou segue a inspiração?
Escrevo todos os dias, das 8h às 13h. Só paro quando me interrompem pra viajar. O processo é que é complicado porque escrevo à mão, mas meu genro se encarrega de repassar ao computador.
Faz pesquisa para compor personagens ou tudo brota do conhecimento adquirido?
Nunca fiz pesquisa. Isso é coisa pra antropólogo. O Auto da Compadecida escrevi em três atos, baseado em três folhetos que eu já conhecia desde menino, de um escritor cearense chamado Leonardo Mota.
São cinco horas escrevendo, ainda disposto, em forma. Costuma fazer exercícios diários?
Só escrever. Costumava andar. Quando jovem era um verdadeiro andarilho. Hoje não tenho nem tempo nem disposição. Minha extravagância são essas viagens, é vir dar entrevista. Odeio viagem.
O senhor idealizou o Movimento Armorial. Qual o movimento propício às artes de hoje?
Isso é tarefa pra gente da sua idade pensar. E não importa muito o movimento. Batizei à época para solidificar um posicionamento artístico e político em defesa do país e do povo brasileiro. Importa mesmo é a arte; ela é que fica. Se as obras armoriais são boas, elas ficam e o movimento passa. Distingo êxito de sucesso. Hoje o rock faz mais sucesso do que Os Sertões, de Euclides da Cunha. Daqui a 100 anos ninguém vai lembrar do nome dessas bandas de hoje, mas Os Sertões vai permanecer.
E no cinema?
Praticamente não vou ao cinema, principalmente depois da maravilhosa invenção do DVD. Mas destacaria Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa; O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman; e Luzes da Ribalta, de Chaplin. No Brasil, Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos.
Nenhum dos mais novos?
O diretor Luís Fernando Carvalho.
Então você rejeita a teoria de que Glauber Rocha não fazia cinema de verdade?
Glauber é Deus e o Diabo na Terra do Sol. Depois ele se deixou perturbar pela crítica e começou a fazer o que os críticos europeus achavam que era o certo. Mas depois de Deus e o Diabo... ele tinha o direito de se perder, de fazer a besteira que quisesse.
Qual o grande sonho de Ariano Suassuna em plenos 84 anos?
São dois, que já começo a ver realizar na política. Essa separação do Brasil entre os privilegiados e os despossuídos era muito maior no meu tempo. Mas graças a políticos e estadistas como Lula, o qual tenho o maior respeito e admiração, essa coisa tem diminuído. Veja: os brasileiros abaixo da linha de pobreza diminuíram de 35% para 18%. Isso pra mim é um sonho. A vantagem da velhice é poder ver essa diferença começar a desaparecer. E a outra... veja: publiquei Pedra do Reino em 1971 e já sonhava com a união da América Latina. Hoje já se vê isso. É o nosso caminho natural. Então, meu sonho é levar isso adiante.
A Universidade (UFRN) me pediu para falar da minha peça teatral O Santo e a Porca (1957), porque vai estar no conteúdo do vestibular.
E o tema Diálogos da Ciência com a Cultura Popular? De qual ponto esse diálogo poderia começar?
Soube disso hoje pelos jornais. Não me falaram disso, não. Mas olha, é pergunta para cientista. Eu sou escritor e, por acaso, gosto da cultura popular. Penso nesse diálogo no campo das ciências humanas.
A intenção do evento (promovido pela Fundação José Augusto, dentro da programação do Agosto da Alegria) é trazer jovens para assistir sua aula. O senhor acredita que pode ser o despertar de um jovem à leitura?
Sempre me entendi bem com o jovem. Fui professor dos 17 aos 70 anos. E O Auto da Compadecida ajudou muito essa interação. O cinema ajudou muito. Tanto que é minha peça mais conhecida.
Causa ciúme? O senhor tem alguma peça ou livro predileto sem esse reconhecimento?
Aprendi a respeitar o gosto popular. Mas uma peça minha, pouco conhecida, chamada A Farsa da Boa Preguiça, é minha preferida. E de todos os livros, elejo A Pedra do Reino.
Que não caiu no gosto popular. Seria interferência dos estrangeirismos que o senhor combate?
Há uma ideia equivocada a meu respeito. Sou contra o que há de má qualidade. Nunca seria contra a verdadeira cultura, seja ela daqui ou estrangeira. Seria muita ingratidão minha. Devo muito a Cervantes e Garcia Lorca, que são espanhóis; a Dostoiévski, russo. Gosto demais de Moliére, que é francês.
Qual o livro de hoje?
Não tenho o hábito de ler; eu tenho paixão pela leitura. Leio todo dia. E trouxe pra cá pra terminar de ler A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós.
E na música?
Vivaldi, Mozart, Erik Satie (compositor francês - 1866-1925), Villa Lobos, Antônio Madureira...
Pensei que ficaria só nos clássicos... E tivemos show de Antônio Nóbrega sábado.
Pois é. Serve para ratificar o que eu disse anteriormente. E Nóbrega, posso me gabar, é quase uma cria minha.
Nas letras potiguares, o senhor, via de regra, enaltece Carlos Newton. Conhece algum outro?
Muita gente que admiro, mas conheço pouco. Até roubei um verso de um poeta chamado Jean Soares Sartief, sem autorização dele. É bom que ele veja essa entrevista e tome ciência. Da última vez ele me entregou um livro e encaixei esse verso no romance que estou escrevendo agora. E, evidentemente, gosto de Câmara Cascudo; gostava muito da pessoa e do escritor Oswaldo Lamartine; de Sanderson Negreiros.
Conte mais do livro que o senhor está escrevendo.
A editora (José Olympio) me proibiu qualquer comentário.
O senhor mantém disciplina para escrever ou segue a inspiração?
Escrevo todos os dias, das 8h às 13h. Só paro quando me interrompem pra viajar. O processo é que é complicado porque escrevo à mão, mas meu genro se encarrega de repassar ao computador.
Faz pesquisa para compor personagens ou tudo brota do conhecimento adquirido?
Nunca fiz pesquisa. Isso é coisa pra antropólogo. O Auto da Compadecida escrevi em três atos, baseado em três folhetos que eu já conhecia desde menino, de um escritor cearense chamado Leonardo Mota.
São cinco horas escrevendo, ainda disposto, em forma. Costuma fazer exercícios diários?
Só escrever. Costumava andar. Quando jovem era um verdadeiro andarilho. Hoje não tenho nem tempo nem disposição. Minha extravagância são essas viagens, é vir dar entrevista. Odeio viagem.
O senhor idealizou o Movimento Armorial. Qual o movimento propício às artes de hoje?
Isso é tarefa pra gente da sua idade pensar. E não importa muito o movimento. Batizei à época para solidificar um posicionamento artístico e político em defesa do país e do povo brasileiro. Importa mesmo é a arte; ela é que fica. Se as obras armoriais são boas, elas ficam e o movimento passa. Distingo êxito de sucesso. Hoje o rock faz mais sucesso do que Os Sertões, de Euclides da Cunha. Daqui a 100 anos ninguém vai lembrar do nome dessas bandas de hoje, mas Os Sertões vai permanecer.
E no cinema?
Praticamente não vou ao cinema, principalmente depois da maravilhosa invenção do DVD. Mas destacaria Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa; O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman; e Luzes da Ribalta, de Chaplin. No Brasil, Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos.
Nenhum dos mais novos?
O diretor Luís Fernando Carvalho.
Então você rejeita a teoria de que Glauber Rocha não fazia cinema de verdade?
Glauber é Deus e o Diabo na Terra do Sol. Depois ele se deixou perturbar pela crítica e começou a fazer o que os críticos europeus achavam que era o certo. Mas depois de Deus e o Diabo... ele tinha o direito de se perder, de fazer a besteira que quisesse.
Qual o grande sonho de Ariano Suassuna em plenos 84 anos?
São dois, que já começo a ver realizar na política. Essa separação do Brasil entre os privilegiados e os despossuídos era muito maior no meu tempo. Mas graças a políticos e estadistas como Lula, o qual tenho o maior respeito e admiração, essa coisa tem diminuído. Veja: os brasileiros abaixo da linha de pobreza diminuíram de 35% para 18%. Isso pra mim é um sonho. A vantagem da velhice é poder ver essa diferença começar a desaparecer. E a outra... veja: publiquei Pedra do Reino em 1971 e já sonhava com a união da América Latina. Hoje já se vê isso. É o nosso caminho natural. Então, meu sonho é levar isso adiante.
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Marcos Imperial