Entrevista >> Zeca Baleiro por Sérgio Vilar do Diário de Natal.
Foto: A.Baêta/OIMP/D.A Press.
Há quem ache Zeca Baleiro o último dos poetas da MPB. Ele rejeita o rótulo. Ou os rótulos: de poeta e de pertencer à MPB. Aliás, rejeita rótulos em geral: "prefiro ser Zeca Baleiro", disse na entrevista a seguir, feita por e-mail. Se o maranhense é MPB, é rock ou poeta - ou as três coisas juntas -, o público confere hoje no palco do Teatro Riachuelo. Fato é que Zeca Baleiro transita com propriedade no metiê da indústria fonográfica e é bem aceito no universo independente. Grava DVD com Fagner e versões do Camisa de Vênus. Curte de Gilliard e Flor de Cactus, na música potiguar. Acha o diabo o cara mais underground do mundo. Acorda com vontade danada de mandar flores pro delegado. E acredita que a vida - ah, a vida! - é um souvenir made in hong kong. Este é Zeca Baleiro: um cara indefinível.
O cenário da música independente compete cada vez mais com o mercado fonográfico. Você se situaria no meio do caminho entre esses dois universos, com discos relativamente independentes ou já se considera um artista totalmente indie com seu selo Saravá Discos?
Sim, alguém já falou que o caminho do meio é o melhor, não? rs. Não me considero totalmente indie porque, a partir do momento que surgir algum convite pra projeto interessante e sedutor vindo da grande indústria, não me furtarei a fazê-lo. Acho que lido bem com isso. Enquanto estive em gravadoras, sempre busquei fazer o que quis, consegui manter uma certa independência e, por isso, acho que ganhei o respeito do mainstream.
Claro, você tem personalidade, poesia (sim!) e sonoridade muito própria, mas você se sente mais um Belchior, um Caetano ou um Cazuza?
(Risos) Prefiro me sentir um Zeca Baleiro.
Os poetas da MPB "morreraram de overdose" ou sobraram uns quatro?
Mais que quatro (risos). Há muitos bons poetas ainda no cenário. Assim como há muita música sem poesia também.
Boa parte de suas composições são bem ácidas, críticas. Qual a esperança que lhe sobrou?
Bem, tenho lutado para não me tornar nem cínico, nem "cênico" demais. O que me dá esperança? Saber que vou a Natal tocar para um público belo e ansioso e que vou alegrar a vida deles, e comovê-los e fazê-los pensar, rir e dançar (não é pouco!).
Você prefere sua música assoviada pelo porteiro do prédio, baixada na internet pelo universitário ou comprada pela madame na loja de discos?
Tudo ao mesmo tempo. A maior alegria do artista é saber da permanência de seu trabalho. Noel Rosa pode não ter visto o porteiro do prédio assoviando suas músicas, mas pode crer que isso acontece hoje.
A vida do músico é cheia de espera. São nesses instantes a inspiração pra suas canções? Ou o subtítulo "reflexões de boteco" são as meias palavras para o bom leitor entender de onde vem suas inspirações?
Bastante. Hoje componho mais na estrada do que em casa ou estúdio. Gosto de bares, da calçada, da rua. É lá que está a vida, não nas redes sociais.
Que tipo de disciplina você tem para escrever?
Nenhuma. Mas com a rotina de escrever para a coluna da IstoÉ tive que me planejar melhor.
Poderia citar algum artista potiguar que você goste? Você também vem de um Estado de pouca representatividade no cenário nacional. A que você atribui tanto holofote à música baiana, cearense ou pernambucana (paraibana, talvez) e tanta sombra sobre outros estados nordestinos?
Puxa, isso daria uma boa tese. Não sei explicar, talvez tenha a ver com isolamento, com difíceis condições materiais, falta de meios de produção... Mas o Nordeste inteiro é riquíssimo musicalmente. Conheço (e admiro) muita gente daí - Gilliard, Elino Julião, Mirabô, Carlos Alexandre, Dona Militana, Flor de Cactus, Khrystal, K-Ximbinho.
Repertório vem mesclado entre seus últimos 13 álbuns? O que o público pode esperar do show? E se eu pedir aquela velha "mensagem para o público", seria monótono de responder?
O que o público pode esperar?Calor. Uma mensagem? O cara mais underground que eu conheço é o diabo.
Serviço
Show de Zeca Baleiro
Onde: Teatro Riachuelo (Midway)
Data e hora: hoje, às 21h (abertura das portas às 20h)
Ingresso: R$ 100 e R$ 50 (meia)
Venda: Jogê Lingerie (3222 2019).
Os poetas da MPB "morreraram de overdose" ou sobraram uns quatro?
Mais que quatro (risos). Há muitos bons poetas ainda no cenário. Assim como há muita música sem poesia também.
Boa parte de suas composições são bem ácidas, críticas. Qual a esperança que lhe sobrou?
Bem, tenho lutado para não me tornar nem cínico, nem "cênico" demais. O que me dá esperança? Saber que vou a Natal tocar para um público belo e ansioso e que vou alegrar a vida deles, e comovê-los e fazê-los pensar, rir e dançar (não é pouco!).
Você prefere sua música assoviada pelo porteiro do prédio, baixada na internet pelo universitário ou comprada pela madame na loja de discos?
Tudo ao mesmo tempo. A maior alegria do artista é saber da permanência de seu trabalho. Noel Rosa pode não ter visto o porteiro do prédio assoviando suas músicas, mas pode crer que isso acontece hoje.
A vida do músico é cheia de espera. São nesses instantes a inspiração pra suas canções? Ou o subtítulo "reflexões de boteco" são as meias palavras para o bom leitor entender de onde vem suas inspirações?
Bastante. Hoje componho mais na estrada do que em casa ou estúdio. Gosto de bares, da calçada, da rua. É lá que está a vida, não nas redes sociais.
Que tipo de disciplina você tem para escrever?
Nenhuma. Mas com a rotina de escrever para a coluna da IstoÉ tive que me planejar melhor.
Poderia citar algum artista potiguar que você goste? Você também vem de um Estado de pouca representatividade no cenário nacional. A que você atribui tanto holofote à música baiana, cearense ou pernambucana (paraibana, talvez) e tanta sombra sobre outros estados nordestinos?
Puxa, isso daria uma boa tese. Não sei explicar, talvez tenha a ver com isolamento, com difíceis condições materiais, falta de meios de produção... Mas o Nordeste inteiro é riquíssimo musicalmente. Conheço (e admiro) muita gente daí - Gilliard, Elino Julião, Mirabô, Carlos Alexandre, Dona Militana, Flor de Cactus, Khrystal, K-Ximbinho.
Repertório vem mesclado entre seus últimos 13 álbuns? O que o público pode esperar do show? E se eu pedir aquela velha "mensagem para o público", seria monótono de responder?
O que o público pode esperar?Calor. Uma mensagem? O cara mais underground que eu conheço é o diabo.
Serviço
Show de Zeca Baleiro
Onde: Teatro Riachuelo (Midway)
Data e hora: hoje, às 21h (abertura das portas às 20h)
Ingresso: R$ 100 e R$ 50 (meia)
Venda: Jogê Lingerie (3222 2019).
Será um belo show, não dar pra perder.
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Marcos Imperial