Calor desesperador, falta de ar, pânico e nenhuma rota de fuga.
O mergulho para a morte através da janela de um dos prédios mais altos
do mundo. Uma queda de 1, 2, 3... 8 segundos. Cem andares mais tarde, o
fim abrupto. O tempo que o leitor levou para ler essas frases é mais ou
menos o quanto durou a queda das estimadas dezenas ou centenas que se
jogaram das Torres Gêmeas no 11 de Setembro.
Foto: AP
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Falling Man, de Richard Drew, uma das fotos que se tornaram ícone dos ataques do 11 de Setembro
Uma espécie de suicídio coletivo desesperado que foi
classificado pelo governo americano como assassinato. “Ninguém se matou,
foram todos vítimas dos atentados”, segundo o relatório oficial do
governo americano sobre os ataques. Esses mortos são chamados nos EUA de
"jumpers" (saltadores), e se transformaram rapidamente em um tabu do 11
de Setembro.
Calcula-se que entre 50 e 200 tenham se sentido compelidos a se jogar
ou caído dos andares mais altos do World Trade Center (WTC) naquela
terça-feira, segundo os jornais The New York Times
e USA Today, respectivamente.
O primeiro, mais conservador, contabilizou somente as quedas
testemunhadas por seus próprios repórteres. O segundo fez uma pesquisa
envolvendo testemunhas, vídeos e fotos. Ambas estimativas são altas,
mas, se o USA Today estiver certo, pelo menos 8% dos 2.753 mortos do 11
de Setembro em Nova York morreram ao pular dos mais altos dos 110
andares de cada um dos prédios, principalmente da Torre Norte, a
primeira a ser atingida. (Veja infográfico com cronologia do 11 de Setembro)
O diretor americano Henry Singer passou um ano filmando um
documentário com o objetivo de descobrir a identidade de um homem
retratado na fotografia "The Falling Man" ("O Homem em Queda", em
tradução livre), de Richard Drew, da Associated Press. A foto, que
registra a queda exatamente às 09:41:15 daquele dia, tornou-se um dos
ícones dos ataques.
“Essas imagens são muito difíceis de olhar, mas é fundamental não
virar a cara. Seria muito fácil não olhar para as atrocidades que
acontecem no mundo, viver uma vida segura de classe média. Mas é
absolutamente fundamental ver as coisas como são. Aqueles que pularam do
WTC foram varridos para debaixo do tapete nos EUA, e é por isso que
temos de falar sobre isso, olhar essas imagens e encará-las de frente”,
disse ao iG Singer, que lançou seu documentário com o mesmo nome da foto em 2006.
O 11 de Setembro foi um dos dias mais fotografados e filmados da história. No documentário "9/11", dos cineastas franceses Jules e Gedeon Naudet,
é possível ouvir vários estrondos por minuto: são os impactos dos
corpos no chão. Uma extensa área que poderia servir como zona de
retirada teve de ser isolada por causa da enorme quantidade de corpos
despencando. Um deles atingiu o bombeiro Danny Suhr, que morreu na hora.
Apesar de serem muitos, depois do 11 de Setembro ninguém queria ver
as imagens das quedas. Elas foram rapidamente subutilizadas pelos meios
de comunicações e pelo público em geral. É como se a maioria preferisse
lembrar dos ataques pelas imagens da colisão dos aviões, do subsequente
colapso das torres ou da bravura e heroísmo das equipes de socorro.
O número de fotos de faces espremidas nas janelas no topo dos prédios
ou de corpos mergulhando para a morte diminuiu gradualmente na televisão
e nos jornais nos dias posteriores aos ataques.
Singer conta que, ao ver centenas de horas de filmagem para seu
documentário, descobriu que muitos não chegaram a tomar a decisão de
pular. “É possível ver com clareza que alguns foram empurrados por
outros em busca de ar, enquanto outros caíram ao tentar sair para o lado
de fora do edifício, provavelmente para respirar. O que fica claro é
que em alguns andares era simplesmente impossível suportar o incêndio. E
ver isso não é nada fácil”, disse.
Segundo os cálculos dos jornais americanos, pelo menos 1 mil se
encontravam acima dos andares diretamente atingidos pelos aviões. Neles,
acredita-se que a temperatura tenha chegado a 1.000º C ou o suficiente
para literalmente derreter os aviões em alumínio líquido, conforme o
livro “102 Minutos - A História Inédita da Luta Pela Vida nas Torres
Gêmeas”, dos jornalistas Jim Dwyer e Kevin Flynn.
A fumaça que saía dos prédios era extremamente densa, e as mensagens recebidas de sobreviventes após os impactos revelam um cenário desesperador.
Apesar de os atentados terem deixado quase 3 mil mortos (incluindo o ataque ao Pentágono, em Washington, e a queda na Pensilvânia
de um avião sequestrado), a maior parte deles estava dentro do avião ou
dos alvos atingidos quando morreram. Aqueles em queda das torres
tiveram um morte totalmente pública.
“O que mais choca nas imagens é o fato de nos colocarmos naquela
posição. Muitos de nós já estivemos em prédios altos e sabemos que não
pode ser uma decisão fácil. Por outro lado, é impossível ver aquelas
imagens e não se perguntar: o que teria feito? Que tipo de calor e falta
de ar infernal havia lá dentro para tantos decidirem morrer?”, indagou
Singer.
Apesar
de ele parecer sereno enquanto cai, é um momento dele, é um momento
privado, são os últimos segundos de sua vida sendo expostos para o mundo
Além da foto, o documentário também tem como base um artigo homônimo
escrito por Tom Junod para a revista Esquire. O texto e o documentário
tentam desvendar a identidade do homem da foto. Depois de meses de
pesquisa e entrevistas, Junod descobriu que a vítima poderia ser
Jonathan Briley, um engenheiro de som que trabalhava no restaurante
Windows on the World, no topo da Torre Norte.
“É uma foto difícil de olhar porque é uma imagem bonita de uma ação
horrível. E, apesar de ele parecer sereno enquanto cai, é um momento
dele, é um momento privado, são os últimos segundos de sua vida sendo
expostos para o mundo. Por outro lado, é importante vê-la para não
esquecer o que aquele dia representou”, diz Junod no documentário.
Assista a um trecho do documentário The Falling Man:
Depois de vários meses tentando, Singer conseguiu convencer a irmã de
Briley a dar seu testemunho. Para Guendalyn Briley, os jumpers e a
imagem que supostamente é de seu irmão são uma possibilidade para
entender melhor a si mesma: “Nunca pensei no Falling Man como se fosse o
Jonathan; sempre penso nele como um homem que por um segundo tomou
posse de sua vida nas mãos. É possível que aquela pessoa tivesse tanta
fé que pensava que Deus o teria salvado? Ou ele estava com tanto medo de
vivenciar sua sua morte lá no alto? É algo que nunca saberei porque
aconteceu com ele. E espero que, com essa foto, não tentemos descobrir
quem é ele, mas sim quem somos nós.” IG.
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Marcos Imperial