Faleceu neste sábado, 3 de setembro de 2011, Chico Daniel,
nascido em 19 de dezembro de 1955.
No recente livro “Abaixo a Repressão!” de Ivanir José Bortot e Rafael Guimaraens sobre o movimento estudantil durante a ditadura militar algumas frases do Chico sobre protestos na década de 70, em Porto Alegre, resumem bem aquele momento histórico:
“O Choque significava exatamente o que significa: porrada de verdade (...) O medo não era ser preso. O medo era apanhar dos brigadianos (PM gaúcha). Quem apanhou sabe como dói (...) Não tive dúvida: peguei meu sanduíche de amoníaco, enfiei no nariz, corri para uma bomba que saía fumaça e joguei no meio do pelotão da Brigada. Abriu! Foi a glória outra vez…”
O Chico sempre esteve na vanguarda dos movimentos contra a ditadura e participou ativamente da construção da democracia e do País mais igualitário que temos hoje. Ele foi um dos principais líderes do movimento estudantil no Rio Grande do Sul - no jornalismo da UFRGS, desde 75, e no DCE, na gestão conjunta da Libelu com o PC do B. As grandes passeatas “pelas liberdades democráticas”... “a luta pelas Diretas Já”...
Durante o 3º Encontro Nacional de Estudantes que organizava a volta da UNE, a União Nacional dos Estudantes, em 1977, em Belo Horizonte, Chico Daniel liderou estudantes dos outros Estados na resistência à polícia, nas ruas, enquanto as principais lideranças do País estavam cercadas na Universidade. Meses depois, quando o Encontro foi remarcado para São Paulo, ele foi um dos dirigentes da delegação gaúcha, que enfrentou as tropas do coronel Erasmo Dias, na invasão da PUC.
Chico Daniel também desenvolveu uma militância na profissão com reportagens para o “Coojornal”; o jornal “O Rio Grande” e o alternativo “Lampião”. Como integrante do Departamento de Organização Sindical do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, Chico Daniel também ampliou a articulação da categoria no Estado.
Chico também teve participação fundamental na construção do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação. O primeiro núcleo de moradia do PT em Porto Alegre em 1981, por exemplo, foi na garagem da sua casa. Ele também participou ativamente da militância em vilas, levando a idéia do PT e organizando núcleos do partido na periferia da capital gaúcha.
Mais recentemente, em Brasília, Chico participou dos governos Lula e Dilma na antiga Radiobrás; depois na EBC, a Empresa Brasil de Comunicação; no Ministério da Educação; no Instituto de Colonização Reforma Agrária e por último de volta ao PT. Foi no final de sua marcante trajetória, justamente no Partido dos Trabalhadores, desde 2009, que Chico Daniel teve, talvez, o seu projeto mais intrépido e prazeroso: ajudar a construir e a implementar a Rádio e a TV do PT.
O Chico fez história. Até o fim.
Foi um grande companheiro.
Ele deixa 6 ex-mulheres oficiais (com quem viveu intensamente em diferentes momentos de sua vida) e três filhos: Daniel (28), Nina Rosa (16) e Clarinha (8) – de três casamentos diferentes.
Foi um homem que realmente viveu três ideais da nossa geração: que o amor não implica posse do outro, nem obrigação de estar junto; que o amor é um portal para a liberdade e que a liberdade é o bem maior pelo qual é preciso lutar sempre.
Chico Daniel será velado a partir das 20h deste sábado na Capela 6 do Cemitério Boa Esperança - 916 Sul, ao lado da LBV, Asa Sul, Brasília, DF.
O velório vai até amanhã (domingo, 4) ao final da tarde. O corpo será cremado na segunda feira (dia 5) no Crematório de Val Paraíso - BR 040 - km 4,7, Parque Araruama, Valparaíso.
(Redação: coletivo de jornalistas amigos de Chico Daniel)
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Marcos Imperial