quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A culpa é do uísque, certo?


Fatos, sondagens e especulações entraram em campo juntos nos últimos dias  para redesenharem o mapa político do  Rio Grande do Norte de uma forma tão inesperada e com tal velocidade que provavelmente nas próximas semanas os observadores comuns enfrentarão dificuldades para saber com quais escalações os principais times jogarão as partidas que os esperam.  

Ainda ontem, terça-feira 25, verdadeiro turbilhão de adivinhações dominava em Natal a crônica política acerca de  quem finalmente estaria passando a formar o time da situação, enquanto antigos desafetos se reaproximavam na oposição. 

Quem tivesse deixado de ler sobre a política local em meados de 2.009  se surpreenderia ao observar desde o último sábado os sinais que a ex-governadora Wilma de Faria, presidente regional  do PSB, emitia em direção ao vice-governador Robinson Faria, que rompeu com  ela, espalhafatosamente, há dois anos,  para imprimir cores mais marcantes ao cumprimento de um acordo que em outubro passado lhe daria a segunda principal função no executivo estadual. 

Ao romper, na última sexta-feira,  com a governadora Rosalba Ciarlini, Robinson havia anunciado a certeza de que não se incorporaria à oposição, como fizera em relação a Wilma em 2.010. 

Manter-se-ia num canteiro central de independência, como enfatizaram ele e os deputados federal Fábio Faria, seu filho, e estaduais Gesane Marinho e José Dias, únicos integrantes da bancada do PSD na Assembléia Legislativa, nas entrevistas coletivas em que explicaram o rompimento. 


Ao mesmo tempo, porém, amigos comuns articulavam uma operação para alinhá-lo com o PSB e o PT, os principais adversários de Rosalba no cenário estadual. Em decorrência, no domingo e dias imediatamente subseqüentes a imprensa mostrou Wilma e líderes locais do PT advogando a causa de Robinson no conflito que este compartilhou com Rosalba e verdadeiros chamamentos para que se perfilasse.

O resultado é que muito mais cedo do que se esperava, na tarde da segunda-feira, anteontem, o Vice-governador, presidente do diretório regional do PSB, declarou a jornalistas que sua tendência é passar a coordenar as oposições no Rio Grande do Norte. Jornalistas ligados a Robinson chegaram a complementar o desenho antecipando que o PSD emprestaria o nome de Fábio para a candidatura a vice-prefeito de Natal em 2.012, coadjuvando Wilma, como forma de, obtendo sucesso nas urnas, empinar a candidatura dela à sucessão de Rosalba em 2.014, momento em que Robinson tentaria suceder ao primogênito na câmara federal.

Não se pode olvidar de uma engenharia dessa envergadura, que se mostraria capaz de sepultar precocemente os planos do PT, a primeira agremiação a lançar candidato próprio à sucessão da prefeita Micarla de Souza, no caso o deputado estadual Fernando Mineiro, um dos amigos mais leais a quem Robinson conquistou durante o tempo em que presidiu a Assembléia Legislativa. 


Para voar a tamanha altitude, Robinson terá que se revelar um piloto extraordinário e dominar um grupo de enorme envergadura. A comparação a que podemos chegar nos dias atuais sobrepõe à sua atual a imagem com que o economista e então usineiro Geraldo Melo deixou o posto de vice-governador, por discordar da família do então governador Lavoisier Maia Sobrinho, em 1.982, para assumir a gerência da oposição e construir a pista em que faria decolar sua vitoriosa candidatura ao governo do Estado em 1.986.

Se tiver o mesmo estofo que Geraldo revelou naquela época, Robinson chegará a 2.014 não como simples candidato a deputado federal, como hoje pretenderia Wilma, e sim como o mais forte postulante à sucessão de Rosalba, principalmente se, como imagina, esta fizer sua gestão mergulhar num imenso lodaçal de desserviços ao Rio Grande do Norte. Um fato concreto se sobressai nas informações que emergiram nestes dias à condição de manchete: Robinson empresta, finalmente, uma cara à oposição. 


Desde a eleição de Rosalba, os adversários desta não vinham conseguindo personalizar um comando contra sua atuação. Wilma passeou entre o silêncio e críticas pontuais permeadas pela sua aptidão para arengar em lugar de argumentar, e o PT viajou entre declarações azedas de Mineiro e da deputada federal Fátima Bezerra, sua principal líder no Rio Grande do Norte, e atitudes desta no sentido de não sonegar ajuda à governante junto ao poder executivo federal, em Brasília.  

No âmbito governista, o maior estrago provocado pela crise da sexta-feira passada ocorreu em aventura noturna, quando o advogado e ex-deputado estadual Paulo de Tarso Fernandes, após entregar a chei a da Casa Civil, passou a lavar roupa suja atribuída à gestão de Rosalba, com destaque para nódoas a seu ver provocadas pela influência, que sóentão lhe pareceu indevida, do marido e principal conselheiro político dela, o agropecuarista e também ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, na administração e na condução política do  grupo situacionista.

Até a noite desabar sobre Natal, a maior parte da crônica política transmitia a sensação de que Rosalba havia golpeado Robinson. Mesmo assim, nas conversas entre pessoas com experiência na vida pública do Rio Grande do Norte predominava a impressão de que ela agira bem ao defenestrar Robinson da secretaria estadual de Recursos Hídricos e não engolir o pedido de exoneração de Paulo de Tarso sob pena de emprestar sucesso à versão potiguar da carta de renúncia Jânio. 


A cronologia da sexta-feira mostra claramente que primeiro Paulo pediu demissão, como se ele e Robinson esperassem que Rosalba recuasse da determinação de não re-nomear o vice-governador, e que este só entregou os cargos de seus jabutis após o insucesso da jogada do chefe da Casa Civil.

Na manhã do sábado, porém, era enorme o estrago provocado na imagem de Rosalba pelas declarações que Paulo de Tarso emitiria na noite anterior, durante comemoração entre amigos que se afastavam juntos do poder. Explicando que falara sob o efeito do álcool, nesta terça-feira ele negou a influência indébita de Carlos Augusto e pediu publicamente ao casal desculpas pelo que havia dito a mais durante a noite. Mas já era tarde. O que entrou para a história foi a roupa suja que Paulo de Tarso havia lavado com uísque sob o luar de Areia Preta.
Fonte: Coluna de Roberto Guedes/Novo Jornal


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Marcos Imperial

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