A última pesquisa do Ibope, realizada para a CNI, trouxe uma boa notícia para a presidente Dilma. Inversamente, as oposições receberam uma de que não gostaram.
A presidente tem duas coisas que comemorar. De um lado, o que a pesquisa mostrou. De outro, o que ela não apontou.
Dilma termina o ano com níveis muito elevados de aprovação popular. Seu governo é considerado “ótimo” ou “bom” por 56%, “regular” por 32% e “ruim”ou “péssimo” por apenas 9% dos entrevistados pelo instituto em dezembro. A avaliação positiva é, portanto, seis vezes maior que a negativa.
Seu desempenho pessoal tem a aprovação de 72%, proporção quase idêntica à daqueles que dizem confiar nela.
São os melhores números disponíveis para nossos presidentes modernos, no final do primeiro ano de seus mandatos. Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e o próprio Lula não chegaram assim a esse momento.
Mesmo depois da reeleição - e de um segundo turno que marcara sua reconciliação com a grande maioria do país - Lula havia concluído o ano de 2007 com 51% de avaliação positiva.
Isso já seria motivo mais que suficiente para deixar a presidente satisfeita. Afinal, quem não gosta de se saber tão bem avaliado?
Mas há algo que não aconteceu e que deve aumentar sua satisfação. A pesquisa indica que ela atingiu esse nível de aprovação apesar de ter passado por vários episódios potencialmente desgastantes e de uma conjuntura econômica considerada preocupante por dez entre dez especialistas.
Depois de uma breve lua de mel, em que tanto a oposição partidária, quanto a imprensa assumidamente partidarizada deram à presidente uma trégua - elogiando-a por ser “diferente de Lula” -, Dilma e o governo atravessaram o segundo semestre sob bombardeio ininterrupto.
Denúncias contra ministros e auxiliares, demissões em série na Esplanada, expectativas - às vezes confirmadas, outra não - de revelações sempre negativas na imprensa especializada, foram constantes a partir da saída de Antonio Palocci da chefia da Casa Civil (e nada indica que a fome por cabeças ministeriais tenha sido saciada).
Aproveitando o clima de “escândalos pipocando de todos os lados” e o ambiente internacional de protestos civis disseminados - do mundo árabe aos Estados Unidos, da América Latina à Ásia -, as oposições fizeram o possível para criar nossos “indignados”, convocando manifestações anticorrupção nas principais cidades (especialmente a midiática, pois a partidária - até por atavismo - vê com cautela essa ideia de “por o povo na rua”).
Para tornar o cenário ainda mais preocupante para o governo, os últimos meses foram marcados por um sensível aumento das incertezas sobre a economia. A única dúvida passou a ser o dimensionamento correto dos problemas que estamos enfrentando e que nos aguardam em 2012 .
Inflação em alta, sinais de perda de dinamismo de vários setores, risco de agravamento da situação de alguns de nossos principais parceiros comerciais, se conjugaram para gerar um final de ano com nuvens escuras no horizonte.
Mas nada disso atingiu a imagem do governo Dilma. Os ministros se foram, as denúncias (quando fundadas) produziram consequências, os “indignados” ficaram em casa (trocando furiosamente mensagens pela internet), as preocupações com a economia aumentaram, sem que fosse relevante a culpabilização da presidente. Ela continua a contar com a aprovação largamente majoritária da opinião pública.
Há quem considere menor essa performance. Que a desmereça, explicando-a com o velho chavão “É a economia, estúpido!”.
Como se a política não existisse para as pessoas comuns e elas não fossem nada além de bolsos (e estômagos), que aprovam os governos quando estão cheios (e saciados) e desaprovam quando não.
Como se elas fossem unidimensionais, incapazes de pensar como cidadãs na esfera da política e como consumidoras na economia.
Como se apenas os “bem-informados” e os “bem-educados” conseguissem fazê-lo.
Para todas as oposições, a pesquisa foi ruim - especialmente para quem vai disputar eleições, seja ano que vem, seja em 2014. Para se contrapor ao governo e a uma presidente com esse nível de aprovação, vai ser necessário bem mais do que fizeram em 2011. Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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