Seis em cada dez brasileiros pertencem à classe média
Brasil é um país de classe média. Seis em cada dez brasileiros com 16 anos ou mais já pertencem a esse grupo, segundo o Datafolha.
Com 90 milhões de pessoas --número superior ao da população alemã--, a classe média brasileira, no entanto, está longe de ser homogênea.
A variedade de indicadores de renda, educação e posse de bens de consumo permite a divisão dessa parcela da população em três grupos distintos que separam os ricos dos excluídos.
O acesso crescente a bens de conforto --como eletroeletrônicos, computadores e automóveis-- é o que mais aproxima as três esferas da classe média brasileira.
A partir da medição da posse desses itens, a população é divida em classes nomeadas por letras.
O Brasil de classes médias é aquele que está conseguindo escapar dos estratos D e E, deixando para trás os excluídos, mas ainda quase não tem presença na classe A.
Ganhos de renda --consequência de crescimento econômico mais forte e políticas de distribuição de renda-- e maior acesso a crédito contribuíram para essa tendência.
"Aumentos de renda que parecem pequenos para a elite têm representado uma revolução para as classes mais pobres", afirma o economista Marcelo Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Se a posse de bens de consumo aproxima as três classes médias brasileiras, indicadores de renda e educação ainda os distanciam.
Rendimento e escolaridade mais elevados são, por exemplo, características que afastam os brasileiros da classe média alta dos outros dois estratos. Já as linhas que separam os integrantes das classes médias intermediária e baixa são mais tênues.
A renda da classe média baixa ainda é, por exemplo, mais elevada do que a da classe média intermediária.
Esse grupo é o que mais se expandiu no país na última década. Com 37 milhões de pessoas (de 16 anos ou mais), só perde para os excluídos, que ainda formam a classe mais numerosa no Brasil, embora tenham encolhido.
Apesar da expansão significativa da classe média, há quem ainda não sinta fazer parte do grupo. É o caso de Rosiley Marcelino Silva, 46. Casada e mãe de dois filhos adultos, ela vive da venda de salgados e do salário do marido, ajudante de caminhão.
"Não acho que tenho vida de classe média. Mas agora dá para sobreviver", diz Rosiley, que foi classificada pelo Datafolha como classe média intermediária.
A vulnerabilidade da nova classe média é uma questão que preocupa as autoridades.
"Nós estamos tentando pensar em políticas que ajudem essas pessoas a não retornarem para a pobreza, porque esse é um risco", afirma Diana Grosner, economista da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Segundo ela, o governo trabalha agora em uma definição oficial de classe média e, depois, poderá dividi-la em até três grupos distintos para elaborar políticas específicas de acordo com as necessidades de cada um deles.
Uma certa turma bem-nascida adora maldizer a superlotação dos aeroportos brasileiros, atribuindo-a em grande medida à ascensão social dos mais pobres.
Agora transformados em classe média, antigos usuários de rodoviárias estariam enchendo de novos coloridos e sotaques os saguões de embarque e desembarque.
A pesquisa Datafolha mostra que 29% dos integrantes da classe alta compraram passagens aéreas nacionais nos 12 meses anteriores à realização da pesquisa, contra 12% da classe média alta que fizeram o mesmo. O índice cai para 6% na classe média intermediária e para 5% na classe média baixa.
Acontece que, demograficamente muito mais relevante, a classe média já leva aos saguões de embarques nacionais um total de 6,76 milhões de passageiros -quase o dobro dos 3,48 milhões de indivíduos de classe alta.....
Na primeira semana de dezembro, a empregada doméstica Maria das Dores Quintana, 48, embarcava em um voo da Gol para Fortaleza, saindo de Guarulhos. A passagem, só de ida, foi comprada em seis parcelas fixas de R$ 123. "Esta é a primeira vez que vou de avião. E se de repente eu passar mal?", angustiava-se.
Na primeira semana de dezembro, a empregada doméstica Maria das Dores Quintana, 48, embarcava em um voo da Gol para Fortaleza, saindo de Guarulhos. A passagem, só de ida, foi comprada em seis parcelas fixas de R$ 123. "Esta é a primeira vez que vou de avião. E se de repente eu passar mal?", angustiava-se.
Com salário mensal de R$ 1.500, registro em carteira, dois filhos (que ficaram com a irmã, doméstica como ela), Das Dores não acha que vá passar aperto para pagar as prestações do bilhete aéreo. "Graças a Deus, não está faltando nada", comemora. Em todo caso, a viagem de volta será em ônibus fretado, R$ 200 a passagem. "Quem sabe, no ano que vem, faço tudo de avião?"
Os amigos do Presidente Lula - Folha
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Marcos Imperial