Lula e a presidenta Dilma durante a cerimônia. Foto: Ricardo Stuckert/Via Instituto Lula.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
recebeu nesta sexta-feira (4) títulos de doutor honoris causa das cinco
universidades públicas fluminenses, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Em seu discurso, ele
agradeceu às universidades, destacou o valor pessoal que esse reconhecimento
tem para ele e afirmou que este dia será inesquecível em sua vida.
A cerimônia, que aconteceu no Teatro João
Caetano, no centro do Rio, contou com a presença da presidenta Dilma Rousseff,
do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes e dos
ministros de estado Aloízio Mercadante (Educação), Marco Antônio Raupp (Ciência
e Tecnologia), Edison Lobão (Minas e Energia), entre outras figuras
políticas. Também esteve presente o ex-ministro da Educação e atual
pré-candidato à prefeitura paulistana, Fernando Haddad. A atriz Camila Pitanga
foi mestra de cerimônias.
Esta
transcrição não inclui os improvisos feitos na introdução e nos agradecimentos
inciais, mas já inclui outros improvisos menores feitos ao logo do discurso.
Leia abaixo o discurso do ex-presidente.
Amigos
e amigas,
É com
imensa honra que recebo os títulos de Doutor Honoris Causa das cinco
universidades públicas do Rio de Janeiro.
E
a minha honra é maior ainda por recebê-los conjuntamente, em uma única solenidade,
nesse memorável Teatro João Caetano, de tanta importância na história cultural
do Rio de Janeiro e do Brasil, e com a presença da presidenta Dilma, tão
gratificante para mim e para todos nós que estamos aqui.
Agradeço
de coração aos reitores e aos conselhos universitários, assim como aos
professores, servidores e alunos da UFRJ, da UFF, da UERJ, da Rural e da UNIRIO
por me concederem essas prestigiosas láureas e pela deferência de fazê-lo numa
cerimônia compartilhada.
Estejam
certos de que o dia de hoje, para mim, será inesquecível.
Antes
de tudo, porque são alguns dos principais centros de excelência acadêmica do
país que prestam essa homenagem. Instituições que respondem por boa parte da
melhor produção científica e humanística brasileira. Seria impossível destacar
aqui, mesmo sinteticamente, tudo de bom que essas universidades já fizeram, e
fazem, nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, pelo Rio de Janeiro e pelo
Brasil. Sem falar na extraordinária contribuição de seus ex-alunos ao progresso
material e espiritual do país.
Vocês
não podem imaginar o que significa para alguém como eu, que não teve as
oportunidades escolares que todo jovem deveria ter, mas que sempre acreditou no
potencial libertador do conhecimento, e que a vida inteira apoiou a luta pela
educação, tornar-se Doutor Honoris Causa dessas magníficas universidades.
Mas
também porque é o Rio de Janeiro que me homenageia.
Este
Rio de Janeiro pelo qual tenho um profundo carinho.
Este
Rio de Janeiro que frequento há quase 40 anos e onde me sinto perfeitamente em
casa, como se tivesse nascido, crescido e vivido aqui.
Este
Rio de Janeiro universalmente admirado, motivo de orgulho para todos os
brasileiros, seja pelas suas incomparáveis belezas naturais, seja pela sua
esplêndida arte popular e erudita. Não só pelo alto nível de sua vida
intelectual mas também pela contribuição ao desenvolvimento nacional, de seus
trabalhadores e de suas empresas, tanto públicas como privadas.
Mas,
sobretudo, o que me faz amar o Rio – é o seu povo! Esses homens e mulheres
livres, insubmissos, criativos, generosos, acolhedores. Nascidos aqui ou vindos
de outras terras, mas igualmente banhados pelo inconfundível espírito carioca.
Sempre prontos a sustentarem as bandeiras mais democráticas e emancipadoras. A
maior riqueza do Rio de Janeiro é a sua gente. É por causa dela que, mesmo
tendo deixado, há mais de cinquenta anos, de ser a capital política e
administrativa do país, o Rio de Janeiro continua a ser – e sempre será, meu
caro governador, – a capital da alma brasileira.
E
o que me deixa mais feliz é essa nova época que o Rio de Janeiro está vivendo.
Os cariocas e fluminenses recuperaram a sua auto estima. Voltaram a ter
verdadeiras lideranças políticas e administrativas, capazes de enfrentar e
resolver os problemas crônicos do estado e da cidade. A participação da
sociedade está sendo formidável. Em parceria com o Governo Federal, o Rio de
Janeiro tem cada vez mais sucesso no combate à criminalidade e nas diversas
iniciativas de inclusão social. Além disso, os fortes investimentos industriais
e de infraestrutura estão fazendo com que o Rio se coloque novamente na
vanguarda econômica e tecnológica do país.
Amigas
e amigos,
Entendo
essa honraria não como um reconhecimento pessoal, mas como uma homenagem ao
povo brasileiro que, nos últimos nove anos, realizou – pacificamente – uma
verdadeira revolução econômica e social, dando um salto histórico no rumo da
prosperidade e da justiça.
Depois
das chamadas “décadas perdidas”, o Brasil voltou a crescer de modo consistente
e sustentável, gerando empregos, distribuindo renda, promovendo inclusão social
e reduzindo as disparidades regionais.
Deixamos
para trás um passado de frustrações e ceticismo. Os brasileiros e as
brasileiras voltaram a acreditar em si mesmos e na capacidade do país superar
desafios. Graças a um novo projeto de desenvolvimento nacional, com intenso
engajamento da sociedade nas políticas públicas, fomos capazes de tirar 28 de
milhões de pessoas da miséria e de levar cerca de 40 milhões para a classe média,
no maior processo de mobilidade social que este país já conheceu.
Resgatamos
grande parte da nossa dívida com os pobres e excluídos e, ao mesmo tempo,
modernizamos o país, preparando-o para os novos desafios do século XXI.
A
descoberta de vastas jazidas de petróleo no pré-sal é a face mais visível – mas
está longe de ser a única – da mudança de patamar científico e tecnológico do
Brasil.
Conseguimos
unir o econômico ao social, transformando o Brasil num enorme canteiro de obras
e empregos. Por toda parte se viam – e se veem – obras de rodovias, ferrovias,
portos, aeroportos, estaleiros, refinarias e usinas hidrelétricas. Ao mesmo
tempo, não há município brasileiro onde o Governo Federal não tenha realizado –
e continue realizando – significativos investimentos em saneamento básico
e moradia popular, melhorando as condições de vida da população
carente.
Segundo
cálculos da Fundação Getúlio Vargas, a desigualdade entre os brasileiros
atingiu o menor patamar em 50 anos. Desde 2003, a renda per capita dos 50% mais
pobres teve um ganho real de 68%, enquanto a renda dos 10% mais ricos aumentou
10%.
O
consumo se ampliou em todas as classes, mas no segmento popular cresceu sete
vezes ao longo de oito anos. De 2000 a 2010, segundo o IBGE, a mortalidade
infantil caiu praticamente pela metade.
Os
pobres passaram a ser tratados como cidadãos. Não governamos apenas para um
terço da população, como se fazia antes, mas para todos os brasileiros.
Em todo
esse processo, coordenando o PAC e o conjunto da ação governamental, a então
ministra e hoje presidenta Dilma Rousseff teve um papel fundamental e até é
chamada de mãe do PAC.
Amigos
e amigas,
A
educação foi um dos carros-chefe desse novo projeto nacional de
desenvolvimento. Ela é o alicerce sobre o qual se constrói a igualdade social.
Sempre
insisti que o dinheiro público aplicado na educação é um investimento e não um
gasto, pois ajuda a construir um futuro mais digno para as pessoas e para o
país. E, sem medo de errar, posso dizer que investimos muito.
No
total, mais do que triplicamos o orçamento da educação, que saltou de 17
bilhões de reais, em 2003, para 65 bilhões de reais, em 2010.
Tínhamos
que ousar, e foi assim que lançamos, em 2007, o Plano de Desenvolvimento da
Educação. O PDE é um conjunto articulado de 54 programas para fortalecer o
sistema educacional público, com base em diagnóstico detalhado do setor. Ele se
propõe a reduzir as desigualdades sociais e regionais na educação, ampliar a
formação de professores e melhorar a qualidade do ensino, em parceria com
estados e municípios.
O PDE
tem caráter estruturante, com metas claras e um sistema transparente de
avaliação dos resultados. A educação foi colocada como prioridade estratégica
para o desenvolvimento do país, na busca de padrões de excelência das nações
desenvolvidas.
O
Brasil está conseguindo, com o PDE, superar a falsa contradição que vigorava
nos anos 90, quando as políticas públicas tratavam como antagônicas a educação
básica e a universidade. Pretendia-se, com aquele discurso, justificar o
abandono a que havia sido relegada a rede federal de ensino superior. Mas a
verdade é que nenhum outro nível de ensino foi realmente fortalecido.
Companheiras
e companheiros, (eu estava com saudade de falar companheiras e companheiros).
Nosso
governo provou na prática que é possível expandir e qualificar o sistema
educacional como um todo, da pré-escola à pós-graduação.
Eu e o
saudoso José Alencar fomos os primeiros brasileiros a chegar à Presidência da
República sem possuir diplomas universitários. Parecia que tínhamos, mas não
tínhamos. Pois bem. Orgulho-me de termos criado 14 novas universidades federais
e 126 extensões universitárias, nas mais diversas regiões do país,
democratizando o acesso ao ensino superior.
Simplesmente
dobramos o número de vagas nas universidades públicas.
Além
disso, garantimos, com o PROUNI, que mais de um milhão de jovens de baixa
renda, alunos das escolas públicas da periferia, pudessem cursar o ensino
superior. E essa oportunidade não foi desperdiçada: os jovens do PROUNI tem se
destacado em quase todas as áreas, liderando os exames do MEC em várias delas.
Ou seja: bastou uma chance, e a juventude brasileira refutou com firmeza o mito
elitista de que a qualidade é incompatível com a ampliação das oportunidades.
Na
semana passada, o IBGE nos deu uma excelente notícia: o percentual de
brasileiros com ensino superior completo aumentou, em dez anos, de 4,4% para
7,9%. Em números exataos fica mais forte (Dilma ajuda: “de seis milhões para
doze milhões”).
Tenho
certeza de que a política de cotas raciais, que o STF referendou por
unanimidade, contribuirá para tornar mais justo o acesso ao ensino superior.
Nos
últimos anos, o Brasil também conquistou os maiores avanços na educação técnica
e profissional de toda a sua história. Em 93 anos, haviam sido construídas no
Brasil 140 escolas técnicas federais. De 2003 a 2010, entregamos 214 novas
escolas técnicas, espalhando-as por todo o país, pois antes elas estavam
concentradas nas regiões mais ricas.
A boa
qualidade de ensino nas escolas técnicas federais também abre as portas das
universidades, mesmo para quem trabalha de dia, porque aumentamos em muito o
número de vagas nos cursos universitários noturnos.
E esses
jovens tem que continuar sonhando, tem que lutar para alcançar o mestrado, o
doutorado e para trabalhar nos diversos centros de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico que existem no Brasil.
Por
exemplo, a nossa Petrobrás, por exemplo, investe centenas de milhões de reais
nos seus centros de pesquisa e desenvolvimento, porque tem pela frente um dos
maiores desafios de uma empresa de energia: a exploração das gigantescas
reservas de petróleo e gás do pré-sal.
Os
centros universitários de pesquisa e desenvolvimento também tem muito o que
mostrar. A Lei de Inovação, aprovada em dezembro de 2004, impulsionou
fortemente o setor.
O
número de pesquisadores envolvidos em P&D passou de 125 mil no ano 2000
para 210 mil em 2008. E o número de patentes depositadas no Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI) cresceu de 21 mil em 2000 para 280 mil em
2009.
Amigos
e amigas,
As
metas educacionais da Presidenta Dilma são ainda mais arrojadas.
O
Brasil ampliará progressivamente o seu investimento em educação, até atingir 7%
do PIB em 2020 (na verdade era até 2014). O Plano de Expansão da Rede Federal
de ensino Superior prevê a construção de 51 novos campi e 208 novos Institutos
Federais de Educação.
O
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego, o PRONATEC, vai
beneficiar 8 milhões de brasileiro aprendendo o curso de uma profissão. A
Presidenta Dilma, com o extraordinário programa “Ciência sem Fronteiras”,
também criou mais de 100 mil bolsas de estudo para que os jovens brasileiros
possam se aperfeiçoar no exterior.
E uma
parte significativa dos recursos do pré-sal vai impulsionar ainda mais a
educação e a pesquisa científica.
A meta
do Plano Nacional de Educação, válido de 2011 a 2020, é garantir que todas as
crianças e jovens, dos 4 aos 17 anos, frequentem a escola, e uma escola de boa
qualidade. Até você, Pitanga, vai poder voltar para a escola com o Plano Nacional
de Educação.
Eu, que
antes do diploma de Presidente da República tinha somente o diploma de torneiro
mecânico do SENAI, sei o quanto a educação é capaz de mudar a vida de uma
pessoa, de uma família ou de uma nação.
Pois
foi aquele diploma que me abriu a oportunidade de um emprego e de uma vida
melhor.
Por
isso, quero dedicar esses importantes diplomas de Doutor Honoris Causa a todos
os que contribuem, com a sua inteligência e o seu esforço, para melhorar
a qualidade da educação no Brasil, dando esperança a milhões de jovens, e
construindo um país mais justo e solidário.
Muito
obrigado.
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Marcos Imperial