Foto do Face de Fernando Mineiro.
Desde a Seleção de 82 que não se via uma derrota tão
honrosa. A votação heroica de Mineiro, sem ajuda do PT nacional, com pouca
grana, saindo de trás e boicotado pelas pesquisas e imprensa transformou o
Deputado no grande vencedor simbólico dessas eleições. Se vivo fosse, Cláudio
Coutinho o definiria como o “Campeão Moral”, alguém capaz de surpreender a
todos mesmo contra todas as adversidades.
É certo que a onda que se ergueu no último domingo
assustou os donos do poder local e os velhos caciques tão habituados a
repartirem entre si as benesses que a cidade sempre lhes proporcionou. De
repente, não mais que de repente, viram-se acuados, como a enfrentar uma
ressaca braba do Atlântico contra o calçadão de Ponta Negra. A escolha
espontânea e consciente de jovens, artistas e uma ampla camada da população em
torno do nome do candidato petista gerou uma mobilização que abalou as
estruturas dos dois candidatos que disputarão o segundo turno. Carlos Eduardo
não havia se preparado para enfrentar Mineiro numa disputa mano a mano e
Hermano Morais deve ter ficado bastante apreensivo com a real possibilidade de
ficar de fora precocemente da peleja.
O mais estranho é notar como a imprensa local ignorou
o crescimento do candidato, divulgando pesquisas de opinião claramente
dirigidas por contratantes ocultos sem nunca contestá-las, questioná-las ou
analisá-las criticamente. Esse fato coloca em xeque a credibilidade de nossos
colegas jornalistas, uma vez que todos, salvo alguma exceção que possa ter me
passado despercebida, mostraram-se incapazes de ler um cenário que estava bem
diante de seus narizes. Havia um elefante na sala e ninguém reparou. Nem vou
chover no molhado falando das empresas que fazem pesquisas pois, segundo
levantamentos que eu próprio realizei comigo mesmo, caíram bastante no índice
geral de confiabilidade. Na boa, é mais fácil crer que o Adriano vai ser melhor
jogador do mundo ano que vem do que no resultado de alguma amostragem desses
institutos (sic) locais. Cogito, inclusive, abrir o DataChute pra concorrer com
eles.
Não se sabe se as cúpulas das campanhas dos dois
candidatos (Carlos e Hermano) detectaram a curva ascendente petista ou se a
ameaça passou despercebida por seus radares. É possível que elas tenham notado
o perigo e tentado mascará-lo mediante a contratação de números mais amigáveis
a seus clientes. Entretanto, diante da soberba das velhas lideranças, duvido
que eles hajam concluído as possíveis implicações futuras da expressiva votação
do terceiro colocado. O que ocorreu domingo passado foi apenas mais um capítulo
de uma história que vem se desenrolando desde 2011. O câncer Micarla de Sousa
fez vir à tona uma nova turma de moças e rapazes inconformados, uma garotada
sem medo de enfrentar os empresários do SETURN e o cartel dos combustíveis,
disposta a ocupar a Câmara dos Vereadores e de exigir a saída da pior prefeita
que esta cidade já teve. Enfim, há toda uma geração de líderes em potencial,
capazes de convencer os pais conservadores, por meio de argumentos
potencializados pelos laços afetivos a mudarem de ideia... e de voto.
Esses jovens encontraram em artistas e formadores de
opinião como Simona Talma, Luiz Gadelha, Titina Medeiros, Quitéria Kelly,
Ânderson Foca (que não declarou o voto, mas não cansava de elogiar Mineiro no
Twitter), Diogo Guanabara, Rodrigo Bico, os politizados redatores da Carta
Potiguar, Henrique Fontes e o pessoal da Casa da Ribeira, Fernando Yamamoto e a
trupe do Clowns de Shakespeare referências positivas que abalizavam suas
posições. As redes sociais, território invisível para os agentes do atraso,
serviram de fio condutor para irradiar a tendência que todos os outros meios
preferiam não enxergar.
Alguns poderão dizer, ao melhor estilo superficial e
maniqueísta, que toda essa animação não adianta de nada, uma vez que, no fim
das contas, o candidato perdeu. Entretanto, contextualizando o momento atual,
uma derrota por tão pouco demonstra uma possibilidade real de vitórias futuras.
Os meninos e meninas que param o trânsito e criam “jogos da velha” virtuais com
grande potencial viral devem ter percebido que também são capazes de mudar os
rumos da cidade através do voto e das mesmíssimas ferramentas que usaram em
protestos recentes. Não é preciso votar em quem os operadores do poderio
econômico local mandam. Pertencer a uma família oligárquica não será mais salvo
conduto para ser alçado aos cargos mais importantes. O valor simbólico do
pleito é enorme. Pode ser que os grupos que governam hoje estejam vivendo uma
sobrevida, um ocaso de seu protagonismo. A não eleição de vários dos vereadores
mais próximos a Micarla e o fato de que apenas 3 condenados pela Operação
Impacto terão mandatos em vigor a partir de 1º de janeiro é outro indicador
positivo de que as coisas estão virando pouco a pouco.
Espero que a mudança de atitude da população possa
conduzir nossa capital a um futuro promissor, mais humano, justo e pautado pela
melhoria de vida da MAIORIA da população. Precisamos mudar! Basta olhar em
volta para perceber que o natalense médio é individualista, egoísta e
extremamente interesseiro. Nós jogamos lixo na rua, não paramos em faixa de
pedestre, furamos fila e tentamos levar vantagem em tudo. A nossa suposta
amabilidade e simpatia não passam de um misto de docilidade e preguiça
disfarçadas. A reação da juventude, tomando para si uma causa que deveria ser
de toda a cidade é bastante animadora, projetando um amanhã diferente do
momento presente.
Espero que o próximo prefeito faça um bom governo. Até
porque, agora ele terá um adversário em potencial fungando no cangote. Se
mandar mal poderá provocar o crescimento da onda vermelha e a inversão do jogo
do poder local poderá ser irreversível. Amém!
Carlos Fialho
Fonte: Jornal de Carlos
Fialho/Novo Jornal
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