Esta é a crise, o susto de 2012. Temos uma oposição sem representatividade, inclusive em São Paulo, que sempre considerou como sua fortaleza. A crise é o Serra.
O Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Moreira Leite na Época:
QUEM NÃO TEM VOTO DIZ QUE ELEITOR ESTÁ CANSADO
06:03, 21/10/2012
Paulo Moreira Leite
Política, eleições Tags: Haddad, serra
Paulo Moreira Leite
Política, eleições Tags: Haddad, serra
Pergunto o que leva nossos coveiros de sorriso
amarelo a produzir tantas análises e raciocínios sofisticadíssimos para
esconder o dado óbvio desta eleição municipal.
Apesar do
julgamento do mensalão, apesar do tratamento ora irônico, ora pedante, que a
maioria dos meios de comunicação dispensa ao ex-presidente Lula, está cada vez
mais difícil esconder o bom desempenho do PT neste pleito.
Quem profetizou um
fiasco de Lula precisa improvisar teorias para justificar verdades óbvias.
Quem chegou ao
exagero de anunciar um duelo entre Lula e Geraldo Alckmin, em São Paulo,
precisa fazer um curso supletivo de liderança política.
O mais novo
argumento é dizer que o eleitor está desanimado, cansou-se da polarização entre
PT e PSDB.
É preocupante. Nem
faz muito tempo assim que os brasileiros recuperaram o direito de votar para
prefeito de capital, que fora suprimido pela ditadura, e já tem gente que acha
que esse tipo de coisa é cansativa e tediosa. É a mesma turma que, em dia de
eleição, só consegue olhar para os santinhos na calçada e dizer que eles
emporcalham a cidade. Eu acho que nada emporcalha mais uma cidade do que o
autoritarismo, a falta de eleição, os prefeitos escolhidos de forma indireta.
E eu acho que a
boca-de-urna ajuda a ampliar o debate numa eleição. E quem é a favor de
proibi-la poderia dar uma chance ao próprio QI e perguntar-se se ela não tem a ver
com a liberdade de expressão.
Voltando ao cansaço
dos eleitores.
A teoria da baixa
representatividade se apoia num fato real mas interpretado de forma
interesseira.
É certo que
o número de brancos e nulos nunca foi tão alto. O problema é usar este
dado como prova de que nosso sistema político não expressa a vontade dos
brasileiros e blá-blá-bla…
Nós sabemos muito
bem onde esse tipo de conversa sobre falta de representatividade da democracia
começa e onde costuma terminar, não é mesmo?
Estrela principal
do pleito que centraliza as atenções no segundo turno, Fernando Haddad não
enfrenta o menor problema com sua representatividade. Ilustre desconhecido há
seis meses, já conquistou 49% das intenções de voto e lidera a eleição
com uma diferença de 17 pontos. Falta de representatividade?
Se você comparar
com outras eleições, municipais, estaduais e federais, verá que a ordem de
grandeza é a mesma.
E se você se
interessar pela temperatura da campanha, verá que Haddad tem empolgado a
juventude e mesmo antigos militantes que pareciam ter pendurado a chuteira da
luta política.
Estes números
ajudam a mostrar que não há crise nenhuma com o regime democrático nem com o
eleitor.
A doença envolve um
candidato específico, José Serra, que exibe um desempenho muito abaixo
daquilo que seus aliados prometiam no inicio da campanha.
O grande número de
nulos e brancos, em São Paulo, expressa sua dificuldade para atrair apoio junto
a eleitores do PSDB e mesmo adversários do PT. São estes nulos e brancos que
deixaram de ir para a Serra, o que é natural num candidato com uma rejeição que
chegou a 52%.
Lançado como última
esperança para salvar a pátria do PSDB, o problema real da campanha de
Serra não é a perpectiva de derrota. É o tamanho da diferença a favor de Haddad.
Superior a qualquer previsão de nossos sábios, a vantagem do candidato do PT
mostra um adversário que sequer tem-se mostrado competitivo.
Esta é a crise, o
susto de 2012.
Temos uma
oposição sem representatividade, inclusive em São Paulo, que sempre considerou
como sua fortaleza.
Após a terceira
derrota na sucessão presidencial, não é uma boa notícia para o PSDB.
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Marcos Imperial