Carlos Zarattini sobre os royalties do
petróleo para a educação: “A maioria da Câmara foi incoerente.”
Renato
Rovai, via Revista Fórum.
Na
terça-feira, dia 6, a Câmara dos Deputados votou os projetos que redistribuem
os royalties do petróleo entre estados e municípios produtores e não
produtores. Para além da discussão da redistribuição, havia uma questão
fundamental em jogo. A educação.
Um
substitutivo, apresentado pelo deputado Carlos Zarattini (PT/SP) ao projeto que
veio do Senado, determinava que 100% dos royalties dos poços que serão
licitados a partir de 2013 deveriam ser aplicados na educação. E também buscava
uma solução equilibrada para a redistribuição dos royalties, sem diminuir abruptamente
a receita dos estados e municípios produtores.
Pois
bem, o substitutivo foi derrubado, por diferença de 9 votos.
Entrevistei
o deputado Carlos Zarattini e ele explicou o intuito do seu substitutivo e os
benefícios que traria para a educação brasileira. Depois de ler a
entrevista, clique
aqui e observe os deputados que votaram contra a
educação. Obs.: Não se engane com o “sim” e o “não”. No caso, quem
votou “sim” derrubou o substitutivo que destinava 100% dos
royalties para a educação.
Revista
Fórum – O senhor poderia explicar como funcionaria a reserva de recursos para a
educação, caso seu texto tivesse sido aprovado?
Carlos
Zarattini – O
que seria distribuído para Estados e municípios por intermédio de um fundo,
chamado Fundo Especial, deveria ser 100% gasto na educação. Isso significaria,
mais ou menos, R$9 bilhões. Os royalties tem duas partes: o royalty
propriamente dito e a chamada participação especial, que é um volume bastante
grande de dinheiro, equivalente aos royalties. Então, nós destinamos também
toda essa chamada participação especial, que fica com a União, para o
Ministério da Educação, o que representaria aproximadamente R$7 bilhões.
Teríamos, imediatamente, entre R$15 bilhões e R$16 bilhões para a educação no
Brasil nas três esferas, municipal, estadual e federal.
Caso
seu texto tivesse sido aprovado, qual seria o impacto para a melhoria da
educação?
Seria
bastante significativo. Agora, de fato, o dinheiro é uma parte da coisa. É
preciso ter mudanças importantes, um acompanhamento maior das cidades. Nosso
grande problema é na educação básica, que fica a cargo dos municípios. Tem de
haver um esforço grande para melhorar a qualidade. É importante ter recursos,
mas, além disso, precisa existir um reforço e uma restruturação do ensino.
O
deputado Onyx Lorenzoni (DEM) afirma que seu projeto engessaria os recursos dos
royalties. Ele diz, por exemplo, que existem municípios que tem a educação
resolvida e ficariam impedidos de investir em outras áreas mais críticas. Como
o senhor analisa esse argumento?
Os
municípios que têm esse excesso de dinheiro na educação são muito poucos. São
municípios com uma receita extremamente alta e uma população pequena. São casos
raros no Brasil como, por exemplo, Paulínia, que possui uma arrecadação enorme
e uma população pequena. Portanto, eles acham que está resolvido. Mas se você
for ver o problema da educação lá, não é tão melhor que nas outras cidades.
Efetivamente, essa seria uma distorção, temos de olhar para todo o Brasil. A
maioria dos municípios seria beneficiada por essa iniciativa.
Como
ficaria a distribuição dos royalties pelo seu projeto?
Nosso
projeto garantiria que as receitas que os estados e municípios produtores
tiveram em 2011 seriam garantidas até 2023. Isso é uma garantia importante,
porque estados e municípios dependem muito desta receita. Toda receita que for
acrescentada – agora estamos aumentando a produção de petróleo, vamos pular de
2 milhões para 6 milhões de barris por dia –, seria distribuída para todos os
estados e municípios do Brasil. Então, nós não sacrificaríamos o Rio de Janeiro
e o Espírito Santo, e garantiríamos uma distribuição mais equitativa desta
riqueza.
Esta
proposta de redistribuição foi negociada com estados e municípios?
Foi
negociada, mas existe um setor radical, a CNM, Confederação Nacional dos
Municípios, que é comandada por um cara extremamente reacionário, chamado Paulo
Ziulkoski, que operou contrariamente ao projeto. Trabalhou o tempo todo contra
esse acordo. O projeto aprovado não dá nenhuma garantia de receita para o Rio
de Janeiro e Espirito Santo. Ele distribui a receita, mas, ao mesmo tempo, vai
provocar sérios danos às finanças do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Em
sua opinião, quais os prejuízos para a educação do projeto da forma como foi
aprovado e também para os estados e municípios produtores?
Em
primeiro lugar, nessa questão, aprovamos na Câmara dos Deputados o Plano
Nacional de Educação, que determina que, em 2020, o Brasil gaste 10% do PIB com
educação, o que representa o dobro do que é gasto hoje. Consequentemente, você
tem de ter fontes de receita. De onde vamos tirar o dinheiro para chegar nos
10% do PIB? Os royalties seriam uma das fontes de receita. A maioria da Câmara
foi incoerente na votação. Ao mesmo tempo que aprova os 10% do PIB para a
educação, não viabiliza as fontes de receita para que isso seja cumprido. Fica
muito difícil se atingir essa meta com a decisão de terça-feira. Não que
resolveria, mas ajudaria muito. A outra questão, da distribuição dos royalties,
é uma perda muito grande para os municípios produtores. Eles vão receber
praticamente 20%, 30% menos do que recebem hoje. Isso é um número significativo.
O
senhor acredita que a presidenta Dilma irá vetar pontos do projeto aprovado?
Acredito
que ela vai aprovar o início do projeto, artigos 1º e 2º, que determinam qual o
valor dos royalties que devem ser cobrados no regime da partilha. Isto é uma
questão que estava indefinida e impedia a realização dos leilões. Agora, as
demais partes, que se referem à distribuição dos royalties, acredito que ela
irá vetar.
Como
foi a votação do substitutivo apresentado pelo senhor. Qual o motivo que o
levou a ser rejeitado pela maioria da Câmara?
Não
foi uma votação caracterizada por situação e oposição. Foi uma votação
extremamente dividida e, à exceção do PT e praticamente do PMDB, a maioria dos
partidos se dividiu. Teve também o PCdoB, que votou coeso. No PMDB, 80% dos
deputados votaram pelo meu projeto. Mas a maioria dos partidos se dividiu e
isso levou a esta situação, de termos perdido por 9 votos.
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Marcos Imperial