Apesar de reconhecida pela União, processo judicial atrasou a desintrusão em mais de 17 anos.
Depois de quase duas décadas de espera, o povo Xavante de
Marãiwatsédé vê enfim o Estado brasileiro começar o processo de
desintrusão de suas terras. A Justiça Federal em Mato Grosso deu início à
entrega das intimações para a retirada dos ocupantes ilegais da terra indígena
Marãiwatsédé, localizada no município de Cáceres, nesta terça-feira (06).
A área foi declarada indígena em
1993 e, cinco anos depois, sua demarcação foi homologada pela União como de
posse do povo Xavante. No entanto, mesmo tendo sido oficialmente devolvida aos
Xavante, a decisão sobre a posse da terra foi parar na Justiça onde o imbróglio
se desenrolou por 17 anos permanecendo ocupada por posseiros.
No dia 17 de outubro, o Supremo Tribunal
Federal (STF) suspendeu a liminar do Tribunal Regional Federal da
1ª Região em Brasília (TRF-1) que impedia a desocupação. A primeira
previsão estipulada para a retirada era o início do mês de outubro, mas foi
interrompida em função de decisões judiciais. A desintrusão havia sido suspensa
desde que duas liminares concedidas pelo TRF-1 interromperam a retirada das
famílias da região alvo de impasse.
Em última apelação, esta semana, a
3.ª Turma deste Tribunal negou provimento a apelação de particulares que
pretendiam obter da União e da Funai indenização por perdas e danos alegando
que a terra indígena teria sido aumentada de forma ilegal. O relator, juiz
Tourinho Neto, esclareceu que a área indígena foi aumentada de forma
legal, por meio do Decreto 91.210/85, e não de portarias, conforme pretendem os
apelantes.
Histórico
Os Xavante de Marãiwatsédé foram
os últimos integrantes do povo a serem contatados pelas frentes de atração
do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), no final dos anos 1950. Não demorou
uma década para os primeiros posseiros iniciarem invasões, que culminaram na
ocupação do território pela família Ometto e a fazenda Suiá-Missú.
O povo foi obrigado a trabalhar para os
invasores nas terras que lhes pertencia. Foram reduzidos pelo servilismo,
doenças e quando os fazendeiros os consideraram inúteis como mão de obra, os
Ometto entraram em acordo com o SPI e o governo federal para retirar os Xavante
de Marãiwatsédé. Em 1966, sem completar uma década de contato, 263 indígenas
foram obrigados a entrar num avião C-47 da FAB rumo a Missão Salesiana de São
Marcos, 400 km ao sul do estado do Mato Grosso. Nos dias seguintes a chegada
nas terras do expurgo, 80 Xavante morreram de sarampo.
A luta dos remanescentes pelo retorno a
Marãiwatsédé ganhou envergadura durante a ECO 92, no Rio de Janeiro.
Constrangida, a petrolífera italiana Agip assinou um termo de devolução da
terra aos Xavante. Porém, em articulação com a elite agrária regional, promoveu
uma verdadeira corrida a Marãiwatsédé. Anúncios foram publicados em jornais de
Goiás, Tocantins e Mato Grosso chamando posseiros para o território, formando,
com isso, um cordão de proteção aos grandes latifundiários que invadiram as
terras.
Em 1998, 165.241 hectares são
homologados como Terra Indígena Marãiwatsédé. No retorno ao território, em
2003, os Xavante encontraram a resistência dos posseiros recém instalados e dos
latifundiários. Por dois anos permaneceram às margens da BR 158
até que conseguiram retomar 1 hectare de terra, onde passaram a viver
confinados, por decisão Judicial. Dali por diante se iniciaria uma batalha nos
tribunais para garantir a retirada dos invasores.
O desfecho ocorreu no último mês
com a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos
Ayres Britto, determinando a retomada do plano de retirada dos invasores da
terra indígena. Fonte: Brasil de Fato.
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Marcos Imperial