O primeiro é o de que, além de militante com as
tarefas em dia, ela é a guardiã das bandeiras sociais do partido; aos
empresários, mostrou que atendeu reivindicações e aposta em produtividade; de
quebra, explicitou tripé da campanha à reeleição; tudo em artigo pela década de
mando do PT na Presidência.
Marco Damiani _247 – Para quem tem dificuldades para ver a
presidente Dilma Rousseff como uma militante genuína do PT e comprometida com
as bandeiras do partido, o artigo Dez Anos de Avanços, publicado neste domingo
30, quando a legenda completa uma década na Presidência da República, será um
empecilho a mais.
Seria
um recado e tanto, para fortalecer os céticos, se a presidente simplesmente
declinasse do convite do jornal Folha de S. Paulo, como a ter coisas mais
importantes para fazer do que apagar velinhas por uma sigla que não a completa
ideologicamente.
Em
lugar da desfeita que poderia ficar circunscrita a um pequeno grupo, Dilma
escolheu a profissão de fé pública no partido atacado por dez entre dez vestais
da mídia tradicional – o mesmo partido que se saiu como campeão de votos da
eleições municipais de 2012.
A
presidente, de saída, ao escrever, assinar e publicar soterra os boatos
ridículos sobre uma mudança de agremiação. Não havia nem há essa hipótese.
O
primeiro recado maior emitido pelo artigo, no entanto, é o de que Dilma não é
apenas uma filiada de carteirinha com as mensalidades em tarefas pagas em dia,
mas, principalmente, que ela é, sim, a herdeira, continuadora e desenvolvedora
da política de equalização social executada pela alavancagem das classes mais
pobres. Essa é a grande bandeira que faz o PT viver na sombra e água fresca da
popularidade – a mesma que Dilma puxa, com todas as letras, para as suas mãos e
a de Lula. A guardiã. A dona.
"O
combate à desigualdade social passou a ser uma política de Estado, e não mais
uma ação emergencial. Os governos do presidente Lula e o meu priorizaram a
educação, a saúde e a habitação para todos, a retomada dos investimentos
públicos em infraestrutura e a competitividade da economia". Este trecho
está logo no segundo parágrafo de seu artigo pelos dez anos do PT. Sob a benção
do partido, foram Lula e ela, diz a presidente, que implementaram o que o mesmo
partido reza. Um pouco de culto à personalidade, é certo, não faz mal à ninguém
no mundo da política – e Dilma parece saber disso.
Em
seguida, a presidente exercita seu lado conciliador, o qual muito se propaga
não existir, reconhecendo o trabalho de todos os governos desde o fim da
ditadura militar, em 1984. Sem citar nomes, mas registrando "cada
presidente", Dilma os cumprimenta como democratas e, ao mesmo tempo, faz
um leve agrado na base aliada de sustentação de seu governo. "Desde o fim
do regime de exceção, cada presidente enfrentou os desafios do seu tempo. Eles
consolidaram o Estado democrático de Direito, o funcionamento independente das
instituições e a estabilidade econômica", demarcou Dilma.
Aos
empresários, público-alvo das preocupações presidenciais nos últimos tempos,
especialmente depois da divulgação do 'pibinho', Dilma frisou sobre seus esforços
pelo aumento da "competitividade". Enumerando as medidas que,
efetivamente, contemplaram as principais reivindicações do setor produtivo, a
presidente usou mais de um parágrafo.
"Ao
longo de 2012, lançamos planos de concessões de rodovias, ferrovias, portos e
aeroportos, que abrem as condições para um novo ciclo virtuoso de investimento
produtivo. Reduzimos a carga tributária, ampliamos as desonerações na folha de
pagamento e, em 2013, iremos baratear a tarifa de energia.
São
medidas fundamentais para aumentar a competitividade das empresas brasileiras e
gerar as condições de um crescimento sustentável", pontuou ela.
De
quebra – e não foi pouco --, a presidente adiantou as principais bandeiras de
sua campanha à reeleição, deixando claras as prioridades de sua gestão.
Dilma trabalha por um "Brasil socialmente menos desigual, economicamente
mais competitivo e mais educado".
Dez
Anos de Avanços, mesmo que não tenha citado juntinhas as letras P e T em seu
título, é sem dúvida um artigo de uma petista comandante em chefe.
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Marcos Imperial