Ex-presidente Lula discursa durante o
encerramento da III Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo e
conclama a Améria Latina a "uma revolução na comunicação" por meio da
internet. “A gente muitas vezes fica reclamando da imprensa. Ficamos reclamando
e não fazemos o que está ao nosso alcance", disse. Mais cedo, ele
encontrou Fidel Castro. Leia reportagem de Alexandre Haubrich, de Havana,
especial para o 247.
Via Alexandre Haubrich, de
Havana, especial para o 247 - “Eu
não reclamo, porque, no Brasil, a imprensa gosta muito de mim, só fala bem de
mim... nasci assim, sou assim e vou morrer assim, irritando eles”. Foi nesse
tom descontraído que o ex-presidente Lula discursou durante o encerramento da
Terceira Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, no Palácio de
Convenções de Havana, nesta quarta-feira. Apesar das críticas à imprensa, lua
evitou mencionar a Ley de Medios argentina ou à possibilidade de uma versão
brasileira, preferindo convocar à integração entre os ativistas
latino-americanos via internet.
“A gente muitas vezes fica
reclamando da imprensa. Ficamos reclamando e não fazemos o que está ao nosso
alcance", disse. "Com a internet, se tivéssemos uma unidade na
América Latina, com nossos blogs, Twitter, Facebook, faríamos uma revolução na
comunicação, e não precisaríamos mais pedir que publicassem o que queríamos”,
completou. Lula destacou ainda que os "ataques midiáticos" não
acontecem apenas no Brasil, mas em todos os países com governos progressistas
na América Latina: “A elite dos nossos países não gosta de nós, não é pelos
erros que cometemos, é pelos acertos que cometemos”, disse.
O evento em que o ex-presidente
discursou foi dedicado ao 160º aniversário do nascimento do herói cubano José
Martí e começou na segunda-feira. A reunião contou com debates sobre temas como
meio ambiente e comunicação, passando por conferências de Ignácio Ramonet,
Atílio Boron, Frei Betto, entre muitos outros intelectuais e políticos
destacados dos mais diversos campos da esquerda mundial.
Conferência
A Conferência reuniu delegados
de dezenas de países e os integrantes da Brigada Sulamericana de Solidariedade
a Cuba, que inclui 80 brasileiros de diversos estados. Os brigadistas estão no
país desde o dia 20 de janeiro para conhecer a realidade cubana. Na terça,
antes do lançamento do livro de Fernando Morais, Lula recebeu um documento
formulado pela Associação José Martí do Rio Grande do Sul e apoiado pela
Brigada brasileira em defesa dos “Cinco Heróis”, cubanos que estão há 14 anos
presos nos Estados Unidos depois de se infiltrarem em organizações terroristas
anticubanas.
A principal sala de conferência
do Palácio de Convenções esteve lotada para ouvir Lula falar por cerca de uma
hora, tocando principalmente na questão da integração latino-americana, antes
de exaltar feitos de seu governo e convocar os países ricos a ajudar o
continente africano – temática cada vez mais presente em todos os discursos de
Lula pelo mundo.
O ex-presidente começou sua
fala explicando o pequeno atraso por estar com o líder histórico cubano Fidel
Castro e haver almoçado com o atual presidente do país, Raul Castro. Ainda
antes de apresentar o que havia preparado, pediu um minuto de silêncio pelos
mortos na boate Kissi, de Santa Maria (RS), tema de total conhecimento e
pêsames pelos cubanos. Lula também disse estar de camisa vermelha em homenagem
a Hugo Chávez, antes de ser aplaudido de pé por todos os presentes.
Críticas
As críticas aos países ricos
começaram pelos Estados Unidos. “Os americanos têm os ouvidos moucos quando
algo se passa na América Latina. Só enxergaram a América Latina para favorecer
os golpes militares”, disse, para em seguida criticar o bloqueio imposto a Cuba
e lembrou que, além dos 160 anos de Martí, 2013 marca os 60 do Assalto ao
Quartel Moncada, evento que deu início à Revolução Cubana, ainda antes da
guerrilha que acabaria vitoriosa em 1959. Lula afirmou que recentemente fez uma
reunião com 40 intelectuais para discutir a integração da América Latina, e
falou da necessidade de criar-se “uma doutrina de integração”, com objetivos
claros.
Procurando pincelar sua fala
com a temática do evento, o ex presidente brasileiro lembrou ideias de José
Martí, herói da independência de Cuba: “Martí lutou pelas causas mais justas de
seu tempo: a independência de Cuba e a libertação da América Latina. Seu
pensamento e sua ação não conheciam fronteiras geográficas e políticas. ‘Pátria
é humanidade’, ensinava o líder”.
Durante mais da metade de sua
fala, Lula manteve o foco em realizações de seu governo, especialmente no que
se refere a políticas de incremento de renda. “Houve um tempo em que o pobre
era o problema, e nós provamos que o pobre é parte da solução dos problemas do
país”, disse. E garantiu que não é necessário diploma de economia para entender
a equação: “É simples: se você tem um milhão de dólares e dá para um rico, ele
vai botar na conta bancária. Se pega esse um milhão de dólares e distribuiu um
pouquinho para mil pessoas, vai virar consumo de roupa, de comida, no dia
seguinte, e a economia vai girar”.
Depois de enumerar políticas
nesse sentido, completou: “Todo esse conjunto de políticas causou uma pequena
revolução”. Em relação a uma das principais críticas da esquerda a seu governo
e a Dilma Roussef, defendeu-se: “Quando chegamos ao governo tínhamos também um
compromisso com os movimentos sociais, que atuavam principalmente em relação a
reforma agrária. Em 8 anos nós desapropriamos 56% de todas as terras
brasileiras desapropriadas em 500 anos de história”. E completou: “Não que tenhamos
nada contra os grandes, porque o agronegócio é muito importante para o Brasil,
mas quando se trata de comer são os pequenos que colocam a maior parte da
comida na nossa mesa”.
Energia
A “crise energética”, tema
recorrente na mídia dominante nos últimos meses, também esteve presente no
discurso de Lula: “Eu penso que logo a presidenta Dilma vai poder anunciar a
universalização da energia elétrica no Brasil”. Ele também voltou a exaltar o
fato de ser “o presidente que mais fez universidades na história do país” mesmo
não tendo diploma universitário, e lembrou que “nos últimos 10 anos 28 milhões
de brasileiros saíram da linha da miséria”.
Ao fim de sua fala o
ex-presidente tocou na questão da crise econômica e voltou a criticar os países
ricos, agora pelos gastos “para salvar o sistema financeiro” e pela falta de
ajuda à África: “Não podemos pagar em dinheiro a dívida que temos com os
africanos, então temos que pagar com solidariedade”. Lula também convocou os
países ricos a mudar essa atitude e derrubar as barreiras ao comércio com os
africanos: “Os países africanos não querem nenhum favor, querem apenas o
direito de vender o que produzem sem as barreiras protecionistas dos países
ricos”. Postado por Marcos Imperial.
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