Rio Grande do Norte faz 'rodízio' de aluno por falta de professor.
Com um número insuficiente de professores,
a rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte decidiu adotar um
"rodízio" de alunos.
Ao
longo da semana, em geral, os alunos têm passado três dias em sala de aula e os
outros dois em casa. O "rodízio" atinge principalmente adolescentes
dos últimos anos do ensino fundamental.
O
sindicato potiguar dos professores estima em cerca de 20% os estudantes do
Estado atingidos pela medida. A rede tem cerca de 280 mil alunos -destes, 56
mil no rodízio, segundo o sindicato.
Nesta
semana a Folha visitou algumas dessas escolas. Uma
delas é a Escola Estadual Aldo Fernandes de Melo. Ela tem cerca de 1.200
alunos, biblioteca, laboratório de informática e salas de aulas em boas
condições. No entanto, faltam professores de diferentes disciplinas, e cada
turma só frequenta a escola três vezes por semana.
"Cada
turma fica pelo menos dois dias em casa", disse a diretora, Marluce da
Silva. "Estamos sendo obrigados a escolher quais turmas terão as
disciplinas", completou.
Editoria de Arte/Folhapress
A
própria diretora lembra que a medida vai contra a LDB (Lei de Diretrizes e
Bases), que determina o cumprimento de, no mínimo, 200 dias letivos ao ano.
Se
um aluno passar todo o ano letivo nesse regime, terá tido apenas 120 dias de
aula.
Segundo
o governo de Rosalba Ciarlini (DEM), já foram convocados mil professores e
outros 500 aprovados em concurso serão chamados nos próximos dias para tentar
resolver o problema.
Na
periferia de Natal, um dos alunos em "rodízio" é André Mateus Silva, 14,
do sétimo ano. "Na hora que deveríamos estar aprendendo na escola estamos
em casa."
Joyce
Lohane da Silva, 13, e colega de sala de aula de André, afirma que a turma está
se preparando para disputar uma vaga no IFRN (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte). "Como estamos sendo
prejudicados, não estamos preparados [para o concurso]", disse a
estudante, que sonha se formar em medicina.
INTERIOR
Segundo
o Sinte-RN (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do RN), o deficit de
profissionais não se restringe apenas a Natal. No interior, a situação é
parecida.
De
acordo com números do último Ideb (Instituto de Desenvolvimento da Educação
Básica), de 2011, o Rio Grande do Norte tem um dos piores desempenhos no ensino
fundamental do país.
Nos
anos iniciais, o Estado fica à frente apenas de Alagoas, que aparece como
último colocado no país. Nos anos finais, ele fica à frente de Alagoas e
empatado com Bahia, Paraíba e Sergipe.
Com
2,9 no Ideb, a rede estadual não cumpriu a meta para o 9º ano e ficou abaixo da
média nacional, de 3,9.
OUTRO LADO
A
Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Norte informou que foram
convocados mais de mil professores para suprir a demanda. O órgão diz que
outros 500 docentes concursados serão chamados nos próximos dias para compor o
quadro da rede pública de ensino.
A
secretária estadual, Betânia Ramalho, diz que o deficit deste ano foi causado
por vários fatores, como aumento no número de aposentadorias e de matrículas
--cerca de 30 mil delas só em Natal.
Para
Ramalho, muitos dos professores aprovados em concurso não atenderam as
primeiras três convocações, o que acabou diminuindo a quantidade de efetivos.
A
expectativa é que, com a quarta chamada, os novos professores já estejam nas
salas de aula em até 30 dias. Até lá, o governo potiguar pretende suprir
horários vagos com "aulões" aos sábados e com a contratação de
educadores para atuar em horário complementar durante a semana.
Esses
"aulões" devem ser aplicados para repor o conteúdo perdido. Ainda não
há previsão, porém, de quando os primeiros devem ocorrer.
No interior do Estado, o governo diz que o problema ocorre devido à falta de professores em matérias específicas, o que será resolvido com hora extra de docentes. |
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Marcos Imperial