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Antiimperialista, antineoliberal, começou a fazer o milagre de
construir os alicerces da utopia em um país que, do ponto de vista imaginário,
estava mais perto de Miami do que de Havana. Fabulador incansável, Chávez
sonhou reviver o ideal socialista quando muito poucos queriam falar dele. E o
fez, para não trair nunca sua infância de menino pobre de Sabaneta. Luis Hernández Navarro, do La Jornada.
Luis Hernández Navarro – La Jornada -
reproduzido Carta Maior.
Hugo Chávez foi um personagem de carne e osso saído da mais
fantasiosa novela de Gabriel García Márquez. Menino pobre de Sabaneta (capital
do estado de Barinas) que jurou não trair sua infância de escassez e
precariedade, aprendeu desde muito cedo a semear e vender guloseimas. Filho de
professores de ensino fundamental que cresceu com sua avó Rosa Inês e outros
dois de seus irmãos, viveu em uma casa de palma, com parede e piso de terra,
que alagava com a chuva. Uma criança que sonhava em ser pintor e que trazia na
alma a fantasia de jogar beisebol nas Grandes Ligas, alimentou-se toda sua vida
de suas origens humildes.
Pela mão de sua avó, que chamava de Mamá Rosa, aprendeu a lei e
escrever antes de entrar no primeiro ano. Ao lado dela tomou conhecimento das injustiças
desse mundo e conheceu as dificuldades econômicas e a dor, mas também a
solidariedade. Dos lábios dela, extraordinária narradora, recebeu suas
primeiras lições de história da pátria, mesclada com lendas familiares.
O menino Hugo Chávez viajou pelo mundo através das ilustrações e
das histórias que leu em quatro grandes tomos da Enciclopédia Autodidata
Quillet, presente de seu pai. No sexo ano, foi escolhido para fazer um discurso
ao bispo González Ramírez, o primeiro a chegar à sua comunidade. Desde então,
encontrou o gosto de falar em público e, os demais, o interesse por escutá-lo.
Seu ídolo foi Isaías “Chicote” Chávez, lançador nas Grandes Ligas.
Nunca o viu, mas imaginava como era ao escutar as partidos pelo rádio. No dia
em que seu herói morreu em um acidente aéreo, o jovem Hugo, de 14 anos de
idade, viu o mundo cair sobre sua cabeça.
Para ser como o “Chicote”, o jovem entrou no exército. Graças a
suas qualidades no beisebol, as portas da Academia Militar se abriram para ele
em 1971. Quatro anos depois se graduou como subtenente e licenciado em ciências
e artes militares, com um diploma em contrainsurgência, com uma bússola que
marcava como seu norte o rumo do caminho revolucionário.
Sua tomada de consciência foi um processo longo e complexo, no
qual se combinaram leituras, conhecimento de personagens chave e acontecimentos
políticos na América Latina. Em mais um dos episódios de realismo mágico que
marcaram sua vida, em 1975, em uma operação o subtenente Chávez encontrou na
Marqueseña, Barinas, um Mercedes Benz preto escondido no monte. Ao abrir o
porta-malas encontrou um arsenal subversivo composto por livros de Karl Marx e
Vladimir Ilich Lenin, que começou a ler.
Na forja de suas atitudes políticas, incluiu, decisivamente, seu
irmão maior Adán, militante do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), e
sua participação em um experimento educacional das forças armadas chamado Plano
Andrés Bello, preocupado em dotar os militares de uma formação humanista. Do
mesmo modo, foi chave em sua formação política o descobrimento de Simón Bolívar
e a voracidade intelectual de Chávez que o levou a ler todo e qualquer texto
que encontrou sobre a biografia e o pensamento do líder. Mais adiante, seria
definitiva nele a influência de Fidel Castro, a quem tratou como se fosse seu
padre.
A derrubada de Salvador Allende em 1973 provocou nele um grande
desprezo em relação aos militares da estirpe de Augusto Pinochet, tão
espalhados pela América Latina. Por outro lado, o conhecimento da obra do
panamenho Omar Torrijos e do peruano Juan Velasco Alvarado mostrou a ele a
existência de outro tipo de forças armadas, de vocação nacionalista e popular,
tão diferente dos gorilas formados na Escola das Américas.
Rebelde ante o atropelo, descobriu na prática os abusos e a
corrupção de seus comandantes e decidiu enfrentá-los como pode. “Eu vim ao
Palácio pela primeira vez – contava Chávez – para buscar uma caixa de whisky
para a festa de um oficial”. Para removê-los, no aniversário da morte de Simón
Bolívar em 1982, um pequeno grupo de oficiais do corpo castrense, entre os
quais se encontrava Chávez, fez o juramento de Samán de Güere, fundando o
Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR 200).
Quase sete anos mais tarde ocorreu um levante espontâneo nos
bairros pobres de Caracas contra as medidas de austeridade do governo de Carlos
Andrés Pérez. O “caracazo” foi reprimido a sangue e fogo. A rebelião popular
deu um grande impulso ao movimento dos militares bolivarianos.
Em 1992, Chávez e sues companheiros se rebelaram com armas na mão.
A quartelada fracassou e Chávez foi preso. Diante dos meios de comunicação,
assumiu a responsabilidade, Sua popularidade e ascendência política a partir de
então só aumentaram. Ao ser libertado, sua presença política cresceu
aceleradamente ante o colapso do sistema político tradicional. Nas eleições
presidenciais de 1998 triunfou com uma votação de 56%. A partir desse momento
nada conseguiu pará-lo. Ganhou quase todas as eleições e referendos dos quais
participou, ao mesmo tempo em que sobreviveu milagrosamente a um golpe de
estado e a um lockout petroleiro.
Ao longo dos quase 20 anos em que conduziu o Estado venezuelano, o
tenente coronel refundou seu país, o descolonizou, tornou visíveis os
invisíveis, redistribuiu a renda petroleira, combateu o analfabetismo e a
pobreza, elevou incrivelmente os índices da saúde, aumentou o salário mínimo e
fez a economia crescer. Ao mesmo tempo, no cenário internacional, fortaleceu o
polo dos países petroleiros em relação ao poder das grandes companhias
privadas, ajudou a derrotar o projeto de uma área de livre comércio para as
Américas impulsionado desde Washington, criou um projeto alternativo de
integração continental e assentou as bases para um socialismo do século 21.
Hugo Chávez foi um formidável comunicador, um incansável contador
de histórias, um educador popular. Seus relatos, herança dos contos que Mamá
Rosa contava em sua infância, mesclava história do país, leituras teóricas,
anedotas pessoais, com frequência em tempo presente. Em todas elas, o senso de
humor estava presente. “Se tua mulher te pede que te atires pela janela” –
dizia, jocoso – “é hora de mudar a planta baixa”.
Suas narrações seguiam o modelo clássico das sonatas musicais, nas
quais dois temas contrastantes se desenvolvem em tonalidades vizinhas. Em seus
discursos lançava mão da poesia e do canto. “Eu canto muito mal – se
justificava -, mas, como disse aquele paisano, Chávez canta mal, mas canta
bonito”, para, na continuação, interpretar uma canção rancheira ou uma balada.
Antiimperialista, antineoliberal, começou a fazer o milagre de
construir os alicerces da utopia em um país que, do ponto de vista imaginário,
estava mais perto de Miami do que de Havana. Fabulador incansável, Chávez
sonhou reviver o ideal socialista quando muito poucos queriam falar dele. E o
fez, para não trair nunca sua infância de menino pobre de Sabaneta.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer. Escrito por
Daniel Pearl via Portal da Dilma, postado por Marcos Imperial.
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