Via 247 – Uma tripla coincidência envolveu este ano três dos mais
famosos políticos da América do Sul nas últimas décadas. Em janeiro, depois de
tempos sem que fosse alvo de alguma notícia, o jornal La Republica, do Peru,
mostrou de maneira inédita imagens do ex-presidente Alberto Fujimori na prisão
em que cumpre, dentro do país, penas de 25 anos por violação dos direitos
humanos e de 75 anos por corrupção (assista vídeo abaixo).
Nesta semana, o também
ex-presidente Carlos Menem, da Argentina, foi condenado pela Câmara de
Cassações a 25 anos de prisão pelo tráfico de 6,5 toneladas de armas para o
Equador e a Croácia. Cumprindo, aos 85 anos de idade, um mandato de senador em
seu país, igualmente havia tempos que Menen não frequentava o noticiário do
continente.
Dias antes, na terça-feira 5,
o governo da Venezuela anunciou a morte do então presidente Hugo Chávez.
Sabia-se, até ali, que seu estado de saúde era grave, na tentativa de
recuperação de um câncer, mas não havia informações objetivas sobre ele e seu
estado de saúde desde dezembro.
Em 1999, Fujimori, Menen e
Chávez viveram outra coincidência. Ele foram líderes, naquele anos, de Peru,
Argentina e Venezuela, respectivamente. Fujimori governou seu país por 10 anos,
entre 1990 e 2000. Menen também ficou uma década no mando da Argentina, de 1989
a 1999. E foi neste ano que Chávez iniciou seus quatro mandatos na Venezuela,
cumprindo 14 anos no poder até sua morte.
O que sempre distingüiu os
três presidentes foi o tratamento dedicado a cada um deles pela mídia tradicional.
Tanto em seus países como no Brasil. O neoliberalismo econômico de Fujimori e
Menem foi saudado como o melhor caminho que poderia ter sido percorrido por
Peru e Argentina. Chávez, com suas prática na contramão do mercado, foi desde
logo taxado de 'populista', 'caudilho' e 'esquerdista'. Nunca houve
imparcialidade na análise de seus governos, bem ao contrário. Toda a torcida
favorável a Fujimori e Menen, em seus respectivos anos de poder, foi
proporcionalmente inversa diante do desempenho de Chávez.
A julgar pelo noticiário e
por editoriais dos grandes jornais, Chávez era praticamente um ditador no
governo venezuelano. Lembra-se forçosamente agora, porém, que das 14 eleições
que disputou pelo voto, venceu 13 – a que perdeu, por dois por cento dos votos
(um plebiscito sobre a reforma da Constituição do país), teve o resultado
reconhecido por ele imediatamente após sua proclamação. Ao fim dos 14 anos em
que exerceu o poder, a mortalidade infantil caiu pela metade, o analfabetismo
foi considerado erradicado, o número de professores multiplicado por cinco e a
Venezuela tornou-se o país sul-americano que alcançou, junto com o Equador,
entre 1996 e 2010, a maior redução da taxa de pobreza em todo o continente.
O neoliberal Carlos Menen,
agora condenado a 25 anos de prisão por tráfico de armas – pena que só deverá
cumprir se for submetido a processo político no senado argentino –, pilotou um
plano econômico que congelou os recursos da população, o que derrubou
temporatiamente a inflação, pelo que passou a ser saldado. No campo político,
anistiou o ex-ditador Jorge Videla e o comandante militar Eduardo Massera. Mais
tarde, deixou o governo com taxa de desemprego acima dos 20 por cento e uma
situação de recessão da qual até agora a Argentina, quase 15 anos depois de sua
gestão, não consegue se recuperar.
Alberto Fujimori, que chegou
a ficar preso no Chile numa área de 10 mil metros quadrados só para si, com
direito a casa com sala de visitas e telefone particular, ainda hoje cumpre
pena no Peru sob denúncias de desfrutar mordomias inexistentes para qualquer
outro preso no país. Em seus governos, ele conseguiu baixar a taxa de inflação
de mais de 7mil por cento, em 1990, para já no ano seguinte promover um
crescimento do PIB de mais de 12%, alcançando um dos maiores índices de
elevação em todo o mundo. As condições de vida da maioria da população, no
entanto, se deterioraram e o sucesso econômico festejado pela mídia se mostrou
socialmente inútil. Em 2000, cercado por denúncias de corrupção e violações dos
direitos humanos, Fujimori aproveitou uma viagem ao Brunei para dali fugir de
seu país, pedindo asilo no Japão, onde tinha cidadania. Só veio a ser preso
anos depois, ao vajar para o Chile e, dali, ser exilado para o Peru.
Um com o final de carreira
entre as grades, outro com prisão determinada pela justiça, Fujimori e Menem
venceram Chávez em vida na batalha pelas preferências da mídia tradicional. O
presidente venezuelano, porém, ainda agora é velado pelo povo do seu país, que
em mais um sinal de gratidão tende a eleger o sucessor que ele indicou no
pleito a ser marcado para dentro de 30 dias. Na mídia tradicional, no entanto,
o neoliberalismo econômico do qual Fujimori e Menen foram duas grandes
expressões na América do Sul continua valendo muito mais que o caminho
alternativo de resultados sociais trilhado por Chávez. Essa miopia econômica e
social sem dúvida vai continuar vigindo dentro dos grandes grupos de
comunicação do continente. Postado por Marcos Imperial.
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