Confira entrevista do deputado Fernando Mineiro (PT) concedida ao
jornalista Bruno Barreto, do Jornal O Mossoroense:
O Mossoroense: Como o senhor está
analisando o início dos trabalhos da Assembleia Legislativa?
Fernando Mineiro: Nós retornamos num ano bastante complexo diante de
todo um processo de muita imobilidade do Governo do Estado, diante de um estado
que vive diante de uma seca que é a mais dura dos últimos 45 anos. Eu acho que
a Assembleia terá um papel muito importante este ano no sentido de cobrar as
ações e de dialogar com a sociedade.
OM: Na sexta-feira o ministro da
Saúde, Alexandre Padilha, esteve em Natal. O que isso pode gerar de parcerias
para o Rio Grande do Norte?
FM: O ministro veio colocar o ministério e os programas ministeriais à
disposição do Governo do Estado. Agora o Governo do Estado precisa fazer a sua
parte. O Governo do Estado deixou de arrecadar e ter muitos recursos em todas
as áreas, particularmente na área da saúde, porque tem uma concepção da
terceirização, da privatização. Enquanto o ministro visitava o Walfredo Gurgel,
eu estava num exemplo de terceirização que é o Hospital da Mulher, aqui, em
Mossoró. Você acompanhou e sabe muito bem que desde o início eu dizia que esse
modelo não tinha sustentabilidade e era inseguro para a população. Um serviço
tão necessário que foi entregue dessa maneira para favorecer um grupo que tomou
conta durante muito tempo daquele hospital. Eu quero reforçar isso. O Governo
Federal disponibiliza recursos para todas as áreas, inclusive a da saúde, mas
precisa de projeto. Nesse sentido o governo Rosalba é uma nulidade absoluta.
Não apresenta projetos. Enquanto a gente vê Estados vizinhos apresentando
projetos de infraestrutura e de investimentos, aqui andamos para trás. É
preciso que o governo apresente projetos porque não adianta boa vontade do ministro
e do Governo Federal. É preciso uma ação concreta e cada um fazer a sua parte.
OM: Qual é a sua avaliação a respeito
do Hospital da Mulher?
FM: O modelo adotado para a gestão do Hospital da Mulher é um modelo
privatista que privilegiou uma empresa como a Marca, envolvida com vários
desvios. A própria auditoria da Sesap (Secretaria de Estado da Saúde Pública)
constatou o desvio de recursos, o pagamento a mais daqueles serviços.
Lamentavelmente quem paga com isso é a sociedade. Eu defendo que o Estado
assuma aquela gestão. É um equipamento importantíssimo para o Rio Grande do
Norte. Atende a 60 municípios. São nove leitos de UTI adulto fechados. É uma
coisa criminosa. O governo tem que pagar a empresa, pagar os direitos
trabalhistas e assumir a gestão. É uma precarização muito forte para
funcionários que se dedicam com muito afinco como percebi lá.
OM: O senhor esperava ter aquela
votação para prefeito de Natal?
FM: Eu esperava ir para o segundo turno e ganhar as eleições. A
sociedade escolheu outras opções. Eu respeito. Mas eu trabalhei muito nesse
sentido para constituir uma alternativa política em Natal. Eu estava convencido
que tinha um espaço muito grande ali, mas infelizmente não consegui convencer a
maioria da sociedade com as ideias que eu tinha. Eu fui derrotado, mas não me
sinto vencido. Tentei convencer uma parte da sociedade e saí da eleição de
cabeça erguida. É o que sempre disse e repito: período eleitoral não é para nós
que estamos na política partidária subir num palanque para ficar achincalhando
e xingando o outro. É para apresentar propostas e projetos. É isso, inclusive,
que estou defendendo para 2014, que seja o momento de debater o Rio Grande do
Norte.
OM: O PT lá em Natal abriu um
processo de expulsão de dois filiados que fazem parte do governo de Carlos
Eduardo. Como o senhor analisa isso?
FM: Olha... esse é um problema interno do PT lá de Natal, que decidiu
por unanimidade que nós não deveríamos participar do governo de Carlos Eduardo.
Foi uma decisão unânime, coisa rara dentro do PT. Mas depois algumas pessoas
mudaram de opinião. E quem muda de opinião está desrespeitando o partido. É uma
questão interna e certamente terá um processo disciplinar como manda o nosso
regimento. Para mim, é coisa passada e resolvida.
OM: Como o senhor analisa a presença
de um membro do PT no governo do DEM aqui, em Mossoró?
FM: É a mesma coisa. Assim como há lá em Natal filiados e filiadas que
não seguem a orientação, aqui também tem a direção municipal que vai tomar as
medidas disciplinares que vai afastar da mesma maneira.
OM: O caminho do PT é lançar uma candidatura
própria?
FM: Eu defendo que o PT contribua para a derrota do governo do DEM.
Precisamos construir uma alternativa ao governo do DEM no Rio Grande do Norte.
Isso está bastante em aberto ainda. Não temos uma candidatura ainda que não
tenha galvanizado a opinião do Estado. Por isso defendo que o PT também se
coloque como alternativa. O PT tem nome e projeto. Mais do que discutir um
nome, eu defendo que 2013 seja um momento de discutir projetos para o Rio
Grande do Norte, que está numa encruzilhada. Está numa situação de
emparedamento devido ao projeto que aí está em curso. Nós temos uma aliança que
se estabeleceu no Rio Grande do Norte com o PMDB, o DEM, PR e o PSDB que vem
governando o Estado de uma maneira muito ruim para a sociedade. Eu defendo uma
alternativa a esse grupo que aí está. Discutindo desenvolvimento, as políticas
públicas, a participação e a gestão, discutindo a relação dos estados com os
municípios, com os movimentos sociais, empresários, trabalhadores, mudar o
modelo de gestão e tentar fazer todo um esforço para recuperar o tempo perdido.
O Rio Grande do Norte está na contramão do Brasil e do Nordeste. Enquanto os
Estados vizinhos crescem, nós estamos perdendo oportunidades. O debate em 2014
deveria tratar destas questões, em vez de a gente ficar discutindo A, B ou C,
devemos debater a questão mais geral. Quem vai ser contra Rosalba todos nós
sabemos. Grande parte da população é contra esse governo. Tenho sentido em
todas as cidades esse sentimento de frustração, de se sentir enganado e
ludibriado. Somos todos contra Rosalba, mas somos a favor de quê? É a favor de
que deve ser o debate para 2013. Eu defendo que o PT apresente projetos e
propostas. Estou envolvido com esse debate. O nome é uma questão que virá
depois desse momento.
OM: Na formação desse grupo, o PMDB e
o PR seriam bem-vindos?
FM: Se romperem com o DEM. Até agora eles são aliados do DEM. Aliás,
eles são os sustentáculos do DEM. Quem dá sobrevida ao governo Rosalba é o PMDB
e o PR. São eles que sustentam o governo. Essa aliança não começou em 2010.
Começou em 2006. Eles têm que se posicionar. Decidir se querem levar o Rio
Grande do Norte mais para o caminho do abismo, porque é um processo de abismo
administrativo que a gente vive, ou se querem se somar com aqueles que almejam
que o Rio Grande do Norte trilhe um novo caminho. Mas essa é uma decisão deles.
Qualquer decisão que eles tiverem nós vamos respeitar e fazer um debate
público. Eles têm que se decidir porque o governo Rosalba é uma coligação do
DEM, do PSDB, do PR, PMN e do PSDB. É um conjunto de partidos que está
envolvido num projeto. Eu sou oposição a esse projeto.
OM: Como o senhor avalia essa questão
da Petrobras no Rio Grande do Norte?
FM: Na sexta-feira eu tive a oportunidade de conversar com sindicalistas
e empresários da área. É uma questão que precisa da ação de todos nós que
estamos na política. Eu vou levantar esse assunto esta semana na Assembleia
Legislativa esta semana. Acho que precisamos discutir o impacto em cadeia, o
efeito dominó que é essa questão do desinvestimento na região. Isso já é
sentido no comércio, nas empresas, no turismo porque o arranjo produtivo do
petróleo é muito mais ampla. Envolve desde a academia até os empregos diretos,
a construção, os hotéis, o comércio, uma série de segmentos. É preciso um olhar
de Estado para isso. Vou dar a minha contribuição a esse assunto. É um tema que
todos nós precisamos nos debruçar. Esse desinvestimento tem sérias
consequências para o Estado.
"O rosalbismo é um plágio do micarlismo"
OM: Temos o senhor e a deputada
Fátima Bezerra numa posição de destaque na política do Rio Grande do Norte, mas
falta uma renovação no PT. O senhor reconhece isso?
FM: Reconheço. Tanto é que uma das questões que foram muito
gratificantes é que tivemos em 2011 um projeto para renovar o PT. Tivemos ano
passado a maior chapa de vereador com 30 candidatos a vereador e vereadora em
Natal.
Nós nunca tivemos isso. Esse é um processo de renovação. Surgiram várias
lideranças em bairros populares. Lideranças novas. Foi isso que possibilitou
que o PT recuperasse as duas cadeiras que tinha em Natal. Conseguimos isso com
chapa própria. Nós podemos fazer uma forte chapa para deputado estadual e
federal, o governo, o Senado e fazer um debate de uma forma mais geral. Acho
que é possível, sim. Quando nós, que somos referências, vamos atrás há
respostas. É uma questão muito localizada que não vai se repetir
automaticamente, mas nos serve de lição. O que aconteceu em Natal foi um
processo que reuniu discussões nos bairros, na periferia, saímos dos gabinetes
e debatemos os problemas da cidade. Podemos formar uma chapa com novas pessoas.
Elegemos os dois mais conhecidos do PT, que é o Fernando Lucena e o Hugo, mas
temos 28 pessoas que são lideranças e continuam os trabalhos nos bairros. Acredito
que esse processo possa ser feito no Estado.
OM: Existe a possibilidade de Eduardo
Campos disputar a Presidência. O senhor acredita que isso pode atrapalhar as
relações entre PT e PSB?
FM: A eleição de 2014 será nacionalizada. Toda decisão majoritária no
Estado e em qualquer outro será tomada levando em consideração o cenário
nacional. Será uma eleição verticalizada. É um eleição que será tomada na mesa
nacional. O Eduardo Campos, na minha avaliação, é candidatíssimo. Ele vem
preparando o espaço para se candidatar, vai montar os seus palanques nos
Estados e existe uma busca de setor da oposição tradicional com PSDB e DEM que
não vingou, não conseguiu dialogar com a sociedade, que não teve a capacidade
disso porque não tem projeto, não tem propostas, porque está voltada para os
anos 80 e 90 e perderam o bonde da história. Esse setor antipetista que é órfão
certamente apostará as fichas em Eduardo Campos. É cedo para dizer se vai
vingar, mas existe uma forte possibilidade de Eduardo Campos ser candidato à
Presidência em oposição ao nosso governo. Será uma coisa complicada porque ele
participa do nosso governo, mas é um problema interno do PSB e nós vamos
respeitar. Isso vai ter rebatimentos no Estado. Qual rebatimento? Não dá para
prever ainda, mas certamente nós não vamos embarcar numa candidatura que é
oposição ao nosso projeto nacional.
OM: Como o senhor observa essa
notícia do rodízio de aulas na rede estadual de ensino?
FM: Eu estou fazendo um levantamento sobre a falta de professores nas
escolas estaduais do Rio Grande do Norte. Estamos com esse processo em curso
com o sindicato do qual eu faço parte, que é o Sinte. Sinto muita ausência de
professores em várias disciplinas. Na sexta-feira eu visitei uma escola em
Baraúna. Lá na faltava professor até porque tem uma parte suplementar, mas não
tem nenhuma estrutura. A Escola João de Abreu numa situação de muita
precariedade. A última reforma foi em 2006. É também uma área que deixa a
desejar. Nós vamos fazer esse levantamento, e a sociedade tem que reagir e
exigir que os professores concursados sejam convocados. O governo vem
protelando essa situação. O governo não tem prioridade com esse serviço.
OM: O senhor se impressiona com as
semelhanças entre Rosalba e Micarla?
FM: Eu cunhei uma frase que afirma que existe um processo de
micarlização no governo de Rosalba. Aliás, eu digo que o rosalbismo é um plágio
do micarlismo. Só quem mora em Natal sabe o que significou o governo de
Micarla. O rosalbismo é uma repetição. Não tem um projeto que interesse à
sociedade. É um governo muito fechado, autocrático que não escuta ninguém,
decidido ali por um comitê muito estreito e sem visão do Estado como um todo. É
um projeto que eles vêm tocando e seguindo um rumo que leva a todos nós a um
abismo político/administrativo. Eu digo que existe uma micarlização de Rosalba
e ela plajeia Micarla. Eu não acho isso bom. Acho muito triste isso. Quem paga
o preço é a sociedade.
OM: Mineiro é candidato a deputado
federal e Fátima ao Senado?
FM: Sou candidato a defender as bandeiras do Partido dos Trabalhadores.
Eu prefiro tocar e colocar meu nome para disputar a reeleição, mas estou à
disposição do partido. Já disse que em qualquer discussão que o partido tiver
seja para governo, deputado, Senado, meu nome está à disposição. Acho que o PT
deve fazer um debate programático sobre isso. Mas estou à disposição para o PT
para qualquer caminho que tiver. Fonte: O Mossoroense, postado por Marcos Imperial.
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Marcos Imperial