Daniel Dantas, Via O Minuto.
Quando
eu nasci - quando entrei pela primeira vez em um estádio de futebol, aos 6 anos
- o nome de nosso estádio era Castelo Branco, homenagem ao presidente-ditador.
Não
levou muito tempo, após a redemocratização, para que, com justiça, a homenagem
prestada por quem construiu o estádio fosse substituída: saiu o general ditador
e entrou em seu lugar o ex-presidente da Federação de Futebol, João Claudio de
Vasconcelos Machado, falecido em 1976.
O
estádio começou a ser construído na gestão de Agnelo Alves (1966-1969). A
história do estádio me lembra, agora, a nomeação do aeroporto de São Gonçalo do
Amarante. Comissão na Câmara dos Deputados aprovou que o nome do
aeroporto seja Aluizio Alves. Lamentável.
Quando
o golpe de 1964 chegou encontrou na prefeitura de Natal Djalma Maranhão e no
palácio Potengi, do outro lado da rua e da praça, o governador Aluizio Alves.
Enquanto as trevas se abatiam sobre a prefeitura e o prefeito - que
morreria, depois, no exílio uruguaio -, Aluizio foi apoiador de primeira hora
do golpe que retirou do poder o presidente João Goulart - e nos lançou em 21
anos de ditadura militar.
Não
satisfeito com o puro apoio, Aluizio se tornou o único governador a instaurar
um inquérito, de imediato, para investigar os esquerdistas e
"subversivos" em atuação no RN. É o Relatório Veras,
recentemente lançado no formato de livro pelo Centro de Direitos Humanos e
Memória Popular.
Esse
aspecto da história de Aluizio Alves - o governador que ajudou a derrubar João
Goulart e promoveu a primeira perseguição do novo regime a esquerdistas e
"subversivos" no RN - é reiteradamente esquecido ou apagado.
Vende-se a imagem de Aluizio democrata. E justifica-se tal com a
cassação sofrida por ele e seus irmãos no fim dos anos 60. Engraçado é
que, como exemplo, Carlos Lacerda, apoiador do golpe, também foi cassado
posteriormente. Mas o papel de Lacerda na insurreição cívico-militar de
1964 nunca é questionada - ou apagada - como fazem no RN com Aluizio.
A meu
ver, homenagear o aeroporto com o nome de Aluizio Alves representa o mesmo que
chamar o estádio de Humberto de Alencar Castelo Branco. Ambos significam a
entrada do país no período de arbítrio, tortura, trevas, mortes, dor.
As
vezes, as pessoas, no entanto, escorregam. Recentemente, a Câmara
devolveu, simbolicamente, o mandato de deputado a Aluizio. O atual
presidente da Câmara, Henrique Alves, seu filho, se referiu ao movimento de 64
como "Revolução". O DNA
não pode ser negado. Postado por Marcos Imperial.
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Marcos Imperial