sexta-feira, 24 de maio de 2013

Reinaldo Azevedo afirma que cultura negra não existe; "Esse negócio de Mama África é uma forma de enganar os trouxas", pontificou; mais racismo explícito?

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Ministra da Cultura considera "racista" decisão de juiz do Maranhão que suspendeu editais que respeitavam termos das políticas de cotas raciais reconhecidas pelo STF; blogueiro da revista Veja entra de sola na discussão com reflexão inédita, capaz de despertar aplausos entre segregacionistas; Reinaldo Azevedo afirma que cultura negra não existe; "Esse negócio de Mama África é uma forma de enganar os trouxas", pontificou; mais racismo explícito?

Via 247 – Com divisões por raça, gênero social e condição sócio-econômica, o Brasil pratica desde os tempos do governo Fernando Henrique a chamada política de cotas. Essa pratica, referendada por decisão do Supremo Tribunal Federal, garante a milhões de cidadãos o acesso a produtos, serviços e equipamentos públicos e privados por meio de regras especiais, que os privilegiam como forma de compensar distorções históricas. Por esse mecanismo, negros passaram a ter um porcentual de vagas garantidas no ensino público de terceiro grau, o que está mudando o perfil dos que acessam as universidades públicas. Eles também conseguiram percentuais mínimos de contratações na iniciativa privada, abrindo nova portas no mercado de trabalho, antes fechadas pelo preconceito.
Na prática, esta semana, um juiz do Maranhão acabou com a política de cotas no Brasil. José Carlos Madeira, da 5ª Vara Federal, suspendeu editais de incentivo à cultura, publicados no final do ano passado pelo Ministério da Cultura, sob a alegação que a exclusividade, naqueles casos, de acesso aos negros às verbas de incentivo alijou "sumariamente as demais etnias". Para ele, editais "destinados exclusivamente aos negros abrem um acintoso e perigoso espectro da desigualdade racial".
Como era de se esperar, a ministra Marta Suplicy reagiu com indignação à decisão que, na prática, solapa um julgamento do STF de garantia às políticas de cotas, que normalmente se dão por meio, exatamente, de editais específicos. "Nós estamos indignados, é uma decisão racista e nós já recorremos e vamos ganhar. Depois que tivemos o Supremo se posicionando a favor das cotas, dizer que um edital a favor dos negros é racista, isso não existe", afirmou Marta após participar do programa "Bom Dia, Ministro", da rede estatal EBC. "Inclusive nós fizemos editais indígenas e estamos implantando para as mulheres. Nós temos que ter ações afirmativas no país para compensar as dificuldades que diversas comunidades têm quando não têm acesso a recursos", completou Marta.
Em nota, a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, afirmou que "a decisão judicial demonstra que a vitória jurídica obtida no STF (Superior Tribunal Federal) deverá ser seguida por uma outra batalha, a ideológica, até que as ações afirmativas sejam entendidas como necessárias em todos os campos da vida social, e não apenas na educação. A Secretaria fará todo o esforço, juntamente com a Advocacia Geral da União-AGU e o Ministério da Cultura, para que esta decisão seja revertida, para fazer valer o direito de artistas negros a recursos públicos que assegurem a expressão da nossa diversidade cultural".
Os editais suspensos foram: Apoio para Curta-Metragem - Curta Afirmativo. Protagonismo da Juventude Negra na Produção Audiovisual; Edital Prêmio FUNARTE de Arte Negra; Edital de Apoio à Coedição de Livros de Autores Negros; e Edital de Apoio a Pesquisadores Negros.
A discussão estava nesse nível quando, na tarde desta quarta-feira 22, o bogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo resolveu dar seu pitaco no assunto. O que se viu foi um desastre. Em duas longas colunas, ele afirmou, primeiro, que o juiz estava de "parabéns por cumprir a lei", apesar da afirmação do Supremo a favor das cotas. No outro texto, soltou a pérola de que não existe uma cultura negra. "Esse negócio de "Mama África", de cultura negra, de cultura indígena, de cultura sei lá o quê... É tudo, como dizia meu pai, "meio de vida", uma forma de enganar os trouxas e, com frequência, de bater a carteira dos desavisados", sentenciou Azevedo.
Não é assim que pensam, é claro, milhares de organizações feitas em torno da cultura negra no Brasil, um conjunto de costumes e manifestações que passaram a se desenvolver no país a partir de chegada dos primeiros escravos, no século dezesseis. Azevedo ignora esse fato histórico para defender, na mensagem subliminar, o fim da política de cotas. Assim, ele tomou a defesa de uma barbeiragem de um juiz maranhense sobre uma sentença firmada pelo STF, avançou, sempre pela direita, é claro, contra a ministra Marta, que simplesmente colocara em prática, no exercício de suas atribuições, a lei de cotas e, ainda, negou a existência de uma cultura secular e universal. Um verdadeiro show de desinformação e segundas intenções.
A decisão do juiz Madeira será alvo de recursos, mas desde já a repercussão de sua decisão ajudou a deixar mais claro quem é quem no jogo do racismo e da exclusão no Brasil. Postado por Marcos Imperial.
Abaixo, links para as colunas de Reinaldo Azevedo com a pregação inédita de que a cultura negra não existe!
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/nao-existe-cultura-negra-nao-existe-cultura-indigena-nao-existe-cultura-indigena-isso-tido-e-invencao-de-aproveitadores-e-pilantras-ou-logo/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/corajoso-juiz-suspende-projeto-racista-de-marta-suplicy-e-marta-suplicy-chama-a-decisao-de-racista/

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Marcos Imperial

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