Há pouco mais de um
mês, em 2 de abril, um grupo de seis jovens promotores de Justiça do Ministério
Público do Rio Grande do Norte organizou uma sessão secreta para ouvir um
lobista de São José do Rio Preto (SP), Alcides Fernandes Barbosa, ansioso por
um acordo que o tirasse da cadeia.
Ele foi preso com outras nove pessoas, em 24
de novembro de 2011, durante a Operação Sinal Fechado, que teve como alvo a
atuação do Consórcio Inspar, montado por empresários e políticos locais
com a intenção de dominar o serviço de inspeção veicular no estado por 20 anos.
A quadrilha pretendia faturar cerca de 1 bilhão de reais com o negócio.
Revelado, agora, em primeira mão, por CartaCapital, o depoimento de Barbosa
aponta a participação do senador Agripino Maia, presidente do DEM, acusado de
receber 1 milhão de reais do esquema. O depoimento de Barbosa durou 11 horas e
reforçou muitas das teses levantadas pelos promotores sobre a participação de
políticos no bando montado pelo advogado George Olímpio, apontado como líder da
quadrilha, ainda hoje preso em Natal. De acordo com trechos da delação, gravada
em vídeo, Barbosa afirma ter sido chamado, no fim de 2010, para um coquetel na
casa do senador Agripino Maia, segundo disse aos promotores, para conhecer
pessoalmente o presidente do DEM.
O convite foi feito por João Faustino Neto,
ex-deputado, ex-senador e atual suplente de Agripino Maia no Senado Federal.
Segundo o lobista, ele só foi chamado ao encontro por conta da ausência
inesperada de outros dois paulistas, um identificado por ele como o atual
senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e o outro apenas como “Clóvis” –
provavelmente, de acordo com o MP, o também tucano Clóvis Carvalho, ex-ministro
da Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso. Apontado como um dos
principais articuladores do esquema criminoso no estado, Faustino Neto foi
subchefe da Casa Civil do governo de São Paulo durante a gestão do tucano José
Serra. Na época, era subordinado a Aloysio Nunes Ferreira.
De acordo com os
promotores, o papel de Barbosa na quadrilha era evitar que a Controlar, uma
empresa com contratos na prefeitura de São Paulo, participasse da licitação que
resultou na escolha do Consórcio Inspar. Em conversas telefônicas interceptadas
com autorização da Justiça potiguar, Barbosa revela ter ligado para o prefeito
Gilberto Kassab (PSD), em 25 de maio de 2011, quando se identificou como
responsável pela concessão da inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Aos
interlocutores, o lobista garantiu ter falado com o prefeito paulistano e
conseguido evitar a entrada da Controlar na concorrência aberta pelo Detran
local.
Em um dos telefonemas, afirma ter tido uma conversa “muito boa”. Embora
não se saiba o que isso significa exatamente, os promotores desconfiam das
razões desse êxito. Apenas em propinas, o MP calcula que a quadrilha gastou nos
últimos dois anos, cerca de 3,5 milhões de reais. Aos promotores, Alcides
Barbosa revelou que foi levado ao perfumes importados “sótão” do
apartamento do senador Agripino Maia, em Natal, onde garante ter presenciado o
advogado Olímpio negociar com o senador apoio financeiro à campanha de 2010. Na
presença de Faustino Neto e Barbosa, diz o lobista, George prometeu 1 milhão de
reais para o presidente do DEM. O pagamento, segundo o combinado, seria feito
em quatro cheques do Banco do Brasil, cada qual no valor de 250 mil reais, a
ficarem sob a guarda de um homem de confiança de Agripino Maia, o ex-senador
José Bezerra Júnior, conhecido por “Ximbica”.
De acordo com Barbosa, Agripino
Maia queria o dinheiro na hora, mas Olímpio afirmou que só poderia iniciar o
pagamento das parcelas a partir de janeiro de 2012. O depoimento reforça um
outro, do empreiteiro potiguar José Gilmar de Carvalho Lopes, dono da
construtora Montana e, por isso mesmo, conhecido por Gilmar da Montana. Preso
em novembro de 2011, o empreiteiro prestou depoimento ao Ministério Público e
revelou que o tal repasse de 1 milhão de reais de Olímpio para Agripino Maia
era “fruto do desvio de recursos públicos” do Detran do Rio Grande do Norte. O
empresário contou história semelhante à de Barbosa. Segundo ele, Olímpio deu o
dinheiro “de forma parcelada” na campanha eleitoral de 2010 a Carlos Augusto
Rosado, marido da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), e para o senador Agripino
Maia.
E mais: a doação foi acertada “no sótão do apartamento de José Agripino
Maia em Morro Branco (bairro nobre de Natal)”. Com base em ambos os
depoimentos, o Ministério Público do Rio Grande do Norte decidiu encaminhar o
assunto à Procuradoria Geral da República, pelo fato de Agripino Maia e ser
senador da República, tem direito a foro privilegiado. Lá, o procurador-geral
Roberto Gurgel irá decidir se uma investigação será aberta ou não. Procurado
por CartaCapital, o senador Agripino Maia negou todas as acusações. Afirma
que nunca houve o referido coquetel no apartamento dele, muito menos repasse de
1 milhão de reais das mãos da quadrilha para sua campanha eleitoral, em 2010.
Negou até possuir um sótão em casa.
“Sótão é aquela coisinha que a gente sobe
por uma escadinha. No meu apartamento eu tenho é uma cobertura”, explicou.
Agripino Maia afirma ser vítima de uma armação de adversários políticos e se
apóia em outro depoimento de Gilmar da Montana, onde ela nega ter participado
do coquetel na casa do senador. De fato, dias depois de o depoimento do
empreiteiro ter vazado na mídia, no final de março passado, o advogado José
Luiz Carlos de Lima, contratado posteriormente à prisão de Gilmar da Montana,
apareceu com outra versão. Segundo Lima, houve “distorções” das declarações do
empresário.
De acordo com o advogado, o depoimento de Montana, prestado a dois
promotores e uma advogada dentro do Ministério Público, ocorreu em condições
“de absoluto estresse emocional e debilidade física” do acusado, que estaria
sob efeito de remédios tranquilizantes. No MP potiguar, a versão não é levada a
sério. Postado por Marcos Imperial, via Carta Potiguar.
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