O presidente do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada), Marcelo Neri, apresentou nesta quinta-feira dados
sobre a redução da desigualdade e aumento da renda e afirmou que os protestos
no país não estão sendo realizados pelos mais pobres, que foram os mais
beneficiados por essas mudanças.
"Pessoas que estão no lado belga da
'Belíndia' talvez tenham razões para não estarem satisfeitas", afirmou em
entrevista coletiva no Rio. A expressão 'Belíndia', criada pelo economista
Edmar Bacha, buscar definir as desigualdades do Brasil, que mistura a riqueza
da Bélgica e a miséria da Índia.
Questionado se são os mais ricos que estão
nas ruas, respondeu: "Não diria os mais ricos, mas certamente não [são] os
mais pobres."
Neri disse que a renda dos 10% mais pobres
no país cresceu 550% mais rápido do que a dos 10% mais ricos, e que a redução
da desigualdade no Brasil reduziu de maneira "muito forte" nos
últimos 12 anos.
"Talvez as pessoas que estejam mais
no topo da distribuição, e que tiveram menores crescimentos de renda, olhem
para o lado e falem: olha, quero ter crescimento mais alto."
O presidente do Ipea também afirmou que as
manifestações no país surgiram de uma forma diferente da que ocorrem em outros
lugares do mundo, no que chamou de "uma receita brasileira".
"Normalmente protesto surge como
aconteceu em Wall Street [referindo-se ao Occuppy Wall Street], que foi contra
a desigualdade e o desemprego. O fato é que a desigualdade no Brasil está
caindo e a economia encontra-se próxima ao pleno emprego. Então o protesto é de
natureza diferente."
Neri afirmou também que os brasileiros têm
o maior índice de felicidade futura (projeção do que espera em cinco anos),
segundo um levantamento feito em 160 países. Para ele, uma alta expectativa em
relação ao futuro pode trazer frustração.
Sobre o mercado de trabalho, afirmou que
há sinais de gargalo. Segundo ele, o aumento da renda atualmente tem ocorrido
muito mais pelo aumento dos salários do que por causa da elevação da ocupação,
o que ocorreria se houvesse mais pessoas entrando no mercado de trabalho.
"Isso pode ser um sinal de pleno
emprego, que é um problema, mas é menos preocupante do que o desemprego."
Sobre as manifestações que têm ocorrido
nos protestos contrárias a realização dos grandes eventos, como a Copa do
Mundo, afirmou que os custos já tivemos e que é preciso honrar os compromissos
assumidos. "Lá atrás os protestos teriam algum
sentido." Postado por Marcos Imperial, via FSP.
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Marcos Imperial