A
realização de um grande ato em frente à sede da Rede Globo, no dia 11 de julho,
quando as centrais sindicais realizam paralisações e manifestações por todo o
Brasi, envolve entidades que militam na área da democratização das
comunicações, como Intervozes e Barão de Itararé.
Por
Felipe Bianchi da Carta Maior.
A
democratização da comunicação e a aprovação do Marco Civil da Internet foram os
temas de 'aula pública' realizada na noite da última quarta-feira (3), em São
Paulo. A atividade, que ocorreu no vão do MASP e deu continuidade à Assembleia
Popular realizada uma semana antes no mesmo local, teve como encaminhamento a
realização de um grande ato em frente à sede da Rede Globo, no dia 11 de julho,
quando as centrais sindicais realizam paralisações e manifestações por todo o
Brasil.
Com adesão de
estudantes, jornalistas, militantes do movimento social e interessados em
geral, o evento foi dividido em tês partes: a discussão do Marco Civil da
Internet, que garante a liberdade de expressão, o direito à privacidade e a
neutralidade da rede (o proprietário da infraestrutura da rede não pode
interferir no fluxo de dados e conteúdos); o monopólio da mídia e a necessidade
de democratizar o setor; e, por fim, as coberturas feitas pela grande mídia e
pelas mídias alternativas sobre as recentes manifestações de rua.
#MarcoCivilJá
O projeto de
lei que define direitos e deveres de usuários e prestadores de serviços
relacionados à Internet (e que está engavetado no Congresso) foi explicado e
defendido por Sérgio Amadeu e Veridiana Alimonti, ambos representantes da
sociedade civil no Comitê Gestor da Internet (CGI.br).
Segundo Amadeu,
a aprovação do projeto é fundamental para assegurar a liberdade e a
criatividade na Internet. “O Marco Civil garante que a vigilância das redes
sociais, de e-mails e dados em geral, feita pelo Obama nos Estados Unidos, não
ocorra no Brasil sem a existência de ordem judicial”, diz.
Na avaliação do
sociólogo, sem a Internet não seria possível articular os movimentos globais de
manifestações, como o Occupy Wall Street, o M15 espanhol e a Primavera Árabe,
além do próprio caso recente no Brasil. “Um país livre precisa de uma
comunicação livre e, sem Marco Civil da Internet, isso não acontecerá”, afirma.
No entanto, ele
argumenta que há forças contrárias à aprovação do projeto atuando nos bastidores:
“As grandes empresas de telecomunicações e a indústria do direito autoral sabem
que a comunicação e a cultura serão cada vez mais digitais e atuam em defesa de
interesses estritamente econômicos”.
Veridiana
Alimonti, por sua vez, destacou a importância da universalização da banda
larga. “Na área rural, apenas 10% dos domicílios têm acesso à Internet,
enquanto entre as classes D e E. apenas 6%”. O Plano Nacional de Banda Larga
(PNBL), em sua visão, permite serviços precários, que não suprem a necessidade
de a população estar conectada: “Enquanto oferecemos planos caros para 1mb de
navegação, os outros países trabalham com 10, 20 e até 50mb a preços
acessíveis”.
O problema, na
opinião de ambos, é que o governo tem reduzido a Internet à condição de mera
mercadoria. “O próprio Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, afirmou que a
Internet é um negócio. Mas é muito mais que isso: é espaço de consolidação de
direitos fundamentais para o cidadão”, defende Alimonti. Ao final da atividade,
os participantes realizaram um 'flashmob' no canteiro central da Avenida
Paulista, com cartazes pedindo a aprovação do Marco Civil.
Mídia e democracia
O cenário de
monopólio privado da comunicação e a necessidade de democratizar o setor foi
abordada por Renata Mielli (Centro de Estudos Barão de Itararé) e Pedro Ekman
(Intervozes), ambos integrantes do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC).
Para Ekman, o
fato de as concessões do espectro radioelétrico serem públicas significa que o
Estado precisa regular a sua utilização, o que não ocorre no país. “Há um
predomínio de veículos comerciais, que têm seus interesses próprios e encaram a
comunicação como negócio”, diz. O quadro de monopólio privado, encabeçado por
grandes conglomerados midiáticos e legitimado pela ausência de uma regulação
que garanta a diversidade e a pluralidade de opiniões, suprime a voz de outros
setores da sociedade.
“O Roberto
Marinho, por exemplo, não gosta de discutir a regulação da mídia em países
considerados avançados, como França, Inglaterra e Estados Unidos. Isto porque
há legislações que proíbem a propriedade cruzada”, afirma. “Já no Brasil, por
exemplo as Organizações Globo detêm jornais, revistas, rádios, televisão,
canais de televisão, gravadora, editora... o que não é bom nem para o mercado,
muito menos para a democracia”.
Como
alternativa à dominação de interesses privados no setor, Pedro Ekman e Renata
Mielli apostam no Projeto de Lei da Mídia Democrática, lançado pela campanha
Para Expressar a Liberdade. O texto reúne o que há de melhor e mais democrático
no ambiente regulatório, ampliando a liberdade de expressão e garantindo o
direito à comunicação para todos os cidadãos. Por ser uma Iniciativa Popular, o
PL precisa de 1,3 milhão de assinaturas para chegar ao Congresso.
Apesar de a
Constituição Federal de 1988 tratar de pontos-chave para a garantia de uma
comunicação democrática no país, tais artigos permanecem sem regulamentação.
“Quem diz que a Lei da Mídia Democrática quer censurar não apenas ignora a
Constituição, como também sustenta uma legislação obsoleta, que já tem mais de
50 anos”, argumenta Mielli.
De acordo com
ela, as sete famílias que monopolizam os meios não querem regras porque só
assim se sustentam. Evocando a máxima de que, no país, liberdade de imprensa
muitas vezes significa liberdade de empresa, Mielli dispara: “A Globo, por
exemplo, diz que defende a liberdade de expressão, mas foi um dos sustentáculos
da ditadura militar no Brasil”.
Ambos
criticaram o financiamento ostensivo que o Governo concede às empresas da velha
mídia. “O Ministério das Comunicações é subserviente aos meios privados. Em
2012, dos 1,8 bilhões de reais previstos para a publicidade oficial, 500
milhões foram aplicados somente na Rede Globo de televisão”, diz Mielli, que completa:
“O financiamento de mídias alternativas é tão importante quanto à
complementariedade entre os sistemas público, privado e comunitário, essencial
para a democracia no setor e que, apesar de garantido na Constituição, não
existe”.
Os blogueiros
Leonardo Sakamoto e Renato Rovai (revista Fórum) avaliaram o momento que o
mundo da comunicação vive a partir das manifestações de rua que eclodiram no
país. Segundo Rovai, “o processo que estamos vivendo era inimaginável há alguns
anos atrás. O mito da tecnocracia no jornalismo tem que acabar, pois jornalismo
e comunicação é produção de conteúdo por todos e acesso à informação por
todos”.
Para Sakamoto,
as mídias tradicionais saíram “a reboque” das redes na cobertura, com destaque
para a mudança de tom dos jornais que, antes, defenderam a repressão contra
“vândalos” e “baderneiros”. “As redes denunciaram a tentativa de apropriação do
movimento por parte da grande mídia”, opina.
A decisão
coletiva de realizar o ato em frente à Rede Globo no dia 11 de julho,
somando-se ao Dia Nacional de Lutas das centrais sindicais, teve como pautas
principais justamente a democratização da mídia e a aprovação do Marco Civil da
Internet. Postado por Marcos Imperial.
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