Sua Santidade Papa Francisco,
Senhoras
e senhores,
Com
grande alegria, Papa Francisco, dou-lhe as boas-vindas ao Rio de Janeiro e ao
Brasil. É uma honra para o povo brasileiro recebê-lo. Honra redobrada, em se
tratando do primeiro Papa latino-americano.
Sua
Santidade,
O
Brasil e seus mais de 50 milhões de jovens acolhem, de braços abertos, os
peregrinos de dezenas de países que vieram para esta grande celebração que é a
Jornada Mundial da Juventude.
Saúdo,
em particular, o governo do estado do Rio de Janeiro, a prefeitura do Rio de
Janeiro e a Arquidiocese do Rio de Janeiro, a quem agradeço os esforços
dedicados que tornaram possível esse grande evento.
A
presença de Sua Santidade no Brasil nos oferece a oportunidade de renovar o
diálogo com a Santa Sé em prol de valores que compartilhamos: a justiça social,
a solidariedade, os direitos humanos e a paz entre as nações. Conhecemos o
compromisso de Sua Santidade com esses valores. Por seu sacerdócio entre os
mais pobres, que se reflete até mesmo no próprio nome escolhido como Papa, uma
homenagem a São Francisco de Assis, sabemos que temos, diante de nós, um líder
religioso sensível aos anseios de nossos povos por justiça social, por
oportunidade para todos e dignidade cidadã.
Lutamos
contra um inimigo comum: a desigualdade, em todas as suas formas. Essa
convergência orienta o diálogo do Estado brasileiro com todas as religiões, um
diálogo marcado pelo respeito à liberdade de crenças e de culto e pela
convivência com a diferença. Não poderia ser distinto em um país que acolheu e
acolhe todas as culturas e todas as religiões.
Em
seu discurso de 16 de maio, Vossa Santidade manifestou preocupação com as
desigualdades agravadas pela crise financeira e o papel nocivo das ideologias
que defendem o enfraquecimento do Estado, reduzindo sua capacidade de prover
serviços públicos de qualidade para todos. Manifestou sua preocupação com a
globalização da indiferença, que deixa as pessoas insensíveis ao sofrimento do
próximo.
Compartilhamos
e nos juntamos a essa posição. Estratégias de superação da crise econômica,
centradas só na austeridade, sem a devida atenção aos enormes custos sociais
que ela acarreta, golpeiam os mais pobres e os jovens, que são pelo mundo afora
as principais vítimas do desemprego. Geram xenofobia, violência e desrespeito
pelo outro. O Brasil muito se orgulha de ter alcançado extraordinários
resultados nos últimos dez anos na redução da pobreza, na superação da miséria
e na garantia da segurança alimentar à nossa população.
Fizemos
muito, e sabemos que ainda há muito o que ser feito. Nesse processo, temos
contado com a profícua parceria com a Igreja. As pastorais católicas, por
exemplo, tem sido importantes parceiras do governo brasileiro na atenção aos
segmentos mais vulneráveis de nossa população, como também na promoção da
defesa dos direitos das nossas crianças e adolescentes, na defesa dos direitos
das pessoas que vivem nas ruas, na garantia da dignidade dos direitos nos
presídios.
Temos
buscado apoiar a disseminação das experiências brasileiras em outros países.
Agora mesmo, estamos engajados no apoio à adoção de tecnologias sociais para
melhorar a capacidade produtiva entre pequenos agricultores na África, e para
criar canais de comercialização que lhes permitam obter resultados econômicos
mais justos e adequados, inclusive por meio do fornecimento de alimentação
escolar. Apoiamos também a difusão de programas de transferência de renda, do
tipo do Bolsa Família, em vários países da África e da América Latina.
Acreditamos
que o apoio da Igreja, apoiando esses processos, pode transformar iniciativas
ainda pontuais em iniciativas globais, em iniciativas efetivas para garantir a
segurança alimentar e combater a pobreza e a fome no mundo. Sabemos que a fome
e a sede de justiça têm pressa.
A
crise econômica que desemprega e retira oportunidade de milhões pelo mundo
afora nos obriga a um novo senso de urgência para combater a desigualdade. A
participação de Vossa Santidade, um homem que veio do povo latino-americano,
que veio da nossa irmã vizinha Argentina, agregaria mais condições para criar
uma ampla aliança global de combate à fome e à pobreza, uma aliança de
solidariedade, uma aliança de cooperação e humanitarismo, disseminando as boas
experiências, entre outras, aquelas obtidas aqui no Brasil.
Santidade,
Nós,
brasileiros, somos mulheres e homens de fé. A fé é parte indelével do espírito
brasileiro. Falo da fé religiosa e falo também da crença que cada um de nós,
brasileiras e brasileiros, temos quanto a nossa capacidade de melhorar nossa
vida, a crença que o amanhã pode ser melhor que hoje. Essa crença que nós
mesmos e em nós mesmos e no outro é um dos traços marcantes do povo do meu
país.
Sabemos
que podemos encarar novos desafios e tornar nossa realidade cada vez melhor.
Esse foi o sentimento que moveu, por exemplo, nas últimas semanas, centenas de
milhares de jovens a irem às ruas. Democracia, como sabe Vossa Santidade, gera
desejo de mais democracia, e inclusão social provoca cobrança de mais inclusão
social, qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida.
Para
nós, todos os avanços que nós conquistamos são só um começo. Nossa estratégia
de desenvolvimento sempre vai exigir mais, tal como querem todos os brasileiros
e todas as brasileiras. Exigem de nós aceleração e aprofundamento das mudanças que
iniciamos há dez anos.
A
juventude brasileira tem sido protagonista nesse processo e clama por mais
direitos sociais: mais educação, melhor saúde, mobilidade urbana, segurança,
qualidade de vida na cidade e no campo, o respeito ao meio ambiente. Os jovens
exigem respeito, ética e transparência. Querem que a política atenda aos seus
interesses, aos interesses da população e não seja território dos privilégios e
das regalias. Desejam participar da construção de soluções para os problemas
que os afetam.
Os
jovens querem viver plenamente. Estão cansados da violência que muitas vezes os
tornam as principais vítimas. Querem dar um basta a toda forma de discriminação
e ver valorizadas sua diversidade, suas expressões culturais. Tal como em
várias partes do mundo, a juventude brasileira está engajada na luta legítima
por uma nova sociedade.
E
esse é um momento muito especial para realização dessa Jornada Mundial da
Juventude. Potencializa o que os jovens têm de mais valioso e revigorante, e
isso nós estamos vendo aqui nas ruas do Rio de Janeiro: a alegria, o otimismo,
a fraternidade, a coragem e valores cristãos.
É
oportunidade para discutir e buscar todos os novos valores para renovar as
esperanças por um mundo melhor. Estou certa que essa celebração da juventude
durará muito mais que os seis dias da programação oficial e perdurará no
coração de todos os que dela participarem.
Seja
bem-vindo ao Brasil, Papa Francisco. Sejam bem-vindos jovens de todo o mundo.
Sintam-se em casa nesta cidade maravilhosa que é o Rio de Janeiro e em todo o
Brasil, e levem daqui como melhor lembrança o carinho do nosso povo. Muito
obrigada! Postado por Marcos Imperial.
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