Dúvida se espalha;
manifestações são extrato de jovens em processo de politização, grito reprimido
da classe média ou protesto de todas as classes sociais, segmentos econômicos e
faixas geopolíticas?; greve geral ensaiada para esse dia 1º de julho não pegou;
regime de desemprego a 5,5% resiste; prisão de cerca de cem arruaceiros amainou
violência nos protestos; mas as ruas continuam a falar alto; elas produzem
mesmo a melhor pauta para as instituições?
Via Marco
Damiani do 247 – Com
um pouco de má vontade, mas com dados absolutamente reais, é possível dizer,
sem medo de errar, que em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre,
Recife, Salvador e Belo Horizonte manifestações com, respectivamente, 1,3
milhão, 700 mil, 500 mil, 380 mil, 300 mil e 270 mil pessoas equivalem,
numericamente, o mesmo que uma figura institucional: o deputado federal. No
caso, o mais votado em cada uma dessas capitais nas eleições de 2010.
Em São Paulo, Tirica obteve 1,35 milhão de
votos, pelo PR. No Rio, Anthony Garotinho conseguiu 694 mil votos, também pelo
PR. Em Porto Alegre, Manuela D'Àvila, do PC do B, foi contemplada com 482 mil
votos. Ana Arraes (PSB) foi sufragada por 387 mil votos recifenses. Em
Salvador, ACM Neto (DEM) teve 328 mil votos. E o tucano Rodrigo de Castro se
elegeu com 274 mil votos em Belo Horizonte.
Hipoteticamente, cada um desses deputados
poderia obter números iguais aos registrados nos protestos e marchas se
convocasse uma assembleia para discutir o que desejasse – e viesse a ser
atendido apenas pelos que votaram nele. Funcionaria como uma empresa que
convoca todos os acionistas para uma deliberação.
O exercício de comparação é positivo para
se observar com olhar crítico – e, neste sentido, corajoso – os eventos de
massa dos últimos quinze dias. Depois de um primeiro momento de surpresa e
conflitos, dos quais resultaram cerca de uma centena de prisões em todo País,
apontando para um número ínfimo de vândalos, em relação ao todo dos
manifestantes, pode-se ter chegado rapidamente a um momento de rearrumação – e
renovação.
GREVE
GERAL FRACASSOU - Como
iniciativa geral, a conclamação, pela via da internet, de uma greve geral nesta
segunda-feira 1, fracassou redondamente. Ou, porque não deu certo, o que houve
foi apenas um rumor?
Depois de um pequeno protesto em frente ao
Maracanã, no domingo 30, horas antes da partida final da Copa das
Confederações, quando outra vez um pequeno grupo de arruaceiros entrou em
choque com a Polícia Militar, sem o registros de feridos ou presos, o que
ocorreu na segunda-feira 1 foi um protesto de caminhoneiros. Na carona da
suspensão do aumento nos pedágios de São Paulo, determinada pelo governador
Geraldo Alckmin, integrantes da categoria fecharam com seus caminhões as
rodovias Anchieta, Raposo Tavares e Castelo Branco, pedindo para serem
recebidos pelo titular do Palácio dos Bandeirantes. Em troca, suspenderiam as
barreiras.
Sobre os próximos passos, passou a se
tornar difícil, nos últimos dias, entre a população das grandes cidades,
distinguir informação real de boataria. Não se sabe bem ao certo quando haverá,
efetivamente, um novo grande protesto ou o movimento que, anunciado, não passa
da expressão da vontade de um e outro, sem dimensão para convocar multidões.
Após a série de suspensões de reajustes de
ônibus em praticamente todas as capitais do País, o Movimento Passe Livre,
organização que logrou arregimentar as primeiras multidões contra o valor das
tarifas e a qualidade dos serviços, decidiu suspender o movimento. Em seguida,
porém, suas lideranças resolveram manter a mobilização, mas desde então, sobre
a questão dos transportes coletivos, apenas uma manifestação no Rio, na semana
passada, logrou sucesso de público.
DECISÕES
NO FOGARÉU - Em
torno da Copa das Confederações, encerrada com a vitória da Seleção Brasileira
no domingo 30, os violentos protestos dos primeiros jogos arrefeceram, sem
distúrbios no sábado, dia do jogo semifinal em Salvador. No Rio, um fiasco, com
as mais de 70 mil pessoas que pagaram ingresso para ver a final tendo cantado o
Hino Nacional não apenas antes do início da partida, mas, ao menos uma vez,
durante o jogo. O time venceu, é certo, e as autoridades não compareceram. Mas
também é certo que não houve, quanto mais cenas de quebra-quebras em protesto.
O saudável resultado das manifestações
ocorridas até aqui, com as espetaculares vitórias políticas representadas na
redução tarifária e nas decisões tomadas pelo Congresso, como a derrubada da
PEC 37 e a destinação dos royalties do Pré-Sal para os setores da Educação e da
Saúde, pode ter aplacado o ímpeto das massas.
A questão real, mais que o tamanho das
próximas manifestações, é dar a elas, ou não, legitimidade para pautarem as
instituições. O que parece ser, nas imagens da tevê, um país nas ruas, também
sugere outro país, muito maior, dentro de casa. É a dicotomia entre a minoria
ruidosa e a maioria silenciosa que chegou para oxigenar a política brasileira.
Refletir sobre os dois lados dessa mesma moeda soa como bem mais adequado do
que aliar-se à corrente e, ao sabor dos acontecimentos imediatos, tomar
decisões em meio ao fogaréu. Postado por Marcos Imperial.
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