O
editorial de Veja desta semana, do jornalista Eurípedes Alcântara, é um
monumento ao cinismo. Nele, o diretor da revista afirma: "Há indícios, mas
não provas". No texto, diz que "ao escândalo Siemens no Brasil faltam
evidências sólidas" e diz que "tanto quanto as autoridades, os
repórteres de Veja as estão buscando" (pausa para gargalhada). Antes dele,
Merval Pereira havia lamentado a corrupção no PSDB e Reinaldo Azevedo afirmou
que a teoria do domínio do fato não poderia ser aplicada a tucanos como Andrea
Matarazzo. Essa cautela, evidentemente, jamais existiu em relação aos
adversários políticos dessa mesma imprensa, que eram criminalizados ainda
enquanto réus. O que demonstra que a ética se transformou, no Brasil, em
instrumento de guerra política e comercial
Via 247 - Nunca foi tão fácil enxergar o
cinismo, a desfaçatez e a hipocrisia da imprensa brasileira. Bastou que um
escândalo atingisse seus aliados políticos tradicionais, para que essa postura
viesse à tona. Do escândalo Siemens, emerge uma mídia que opera com dois
sistemas métricos distintos: um para os amigos, outro para os adversários.
De todas as peças produzidas até agora, a mais cara
de pau é o editorial de Veja, assinado por Eurípedes Alcântara. "Há
indícios, mas não provas", diz o diretor de Veja. No mundo da Editora
Abril, os olhos estão fechados para os emails da Siemens e da Alstom que falam
em licitações combinadas e até em propinas para grão-tucanos como Robson
Marinho, ex-secretário da Casa Civil, e Andrea Matarazzo, figura próxima a
Mario Covas, José Serra e Fernando Henrique Cardoso.
No mundo de Veja, não existem provas, apenas
indícios, mas há três anos a imprensa noticiou o bloqueio de uma conta na Suíça
atribuída a Robson Marinho, braço direito de Mario Covas, cujos recursos seriam
provenientes da Alstom (leia aquireportagem do Estado de S. Paulo).
Documentos agora revelados – e ignorados por Veja – falam que a propina da
Alstom cobriria RM (Robson Marinho), o partido (o PSDB) e a Secretaria de
Energia (ocupada, à época, por Matarazzo).
Como Eurípedes sabe que empresta sua pena a um
argumento indefensável, ele praticamente dá um piti, no seu editorial. "A
esta altura, porém, não há como esquecer que o PR, o PTB, o PMDB e, claro, o PT
acostumaram o Brasil a um padrão de escândalos tão abundantes em provas e com
enredo tão ousado quanto primário que é impossível ser igualado. São dólares na
cueca, mansão cheia de prostitutas em Brasília, Land Rover, jatinhos, governo
paralelo montado em quartos de hotel, balcão de negócios dentro do Palácio do
Planalto, filme de corrupto embolsando dinheiro, confissão, drama, condenação à
prisão pelo STF – só não tem arrependimento".
O que ele não afirma é que o padrão do metrô supera
toda a sua descrição. Mais sofisticados, os tucanos operaram com empresas
internacionais, indicaram a elas que empresas deveriam ser subcontratadas e, em
alguns casos, como parece ser o de Robson Marinho, apontaram as contas no
exterior que deveriam receber os recursos.
Diante das evidências, cai por terra o argumento de
que a imprensa brasileira representa "os olhos e ouvidos da ação".
Veja, por exemplo, é claramente caolha. Só enxerga o lado que interessa. Mas
não está só. Antes dela, o colunista Merval Pereira lamentou a corrupção tucana
e se apressou em inocentar o ex-governador José Serra (leia aqui). Reinaldo Azevedo deu um chilique e
afirmou que a teoria do domínio do fato, usada pela Polícia Federal para
indiciar Andrea Matarazzo e pelo Supremo Tribunal Federal para condenar José
Dirceu, não poderia ser aplicada ao político tucano (leia aqui).
Ora, se a mesma cautela fosse aplicada aos
adversários dessa mesma imprensa, o julgamento mais emblemático dos últimos
anos teria transcorrido de forma bem menos turbulenta. No entanto, se para os
amigos as provas podem ser transformadas em indícios, para os adversários os
indícios também podem ser convertidos em provas. Além disso, essa mesma
imprensa que faz da ética seu cavalo de batalha se julga no direito de colocar
a faca no pescoço de juízes – como Veja faz nesta semana em relação a Ricardo
Lewandowski (leiaaqui) – para defender seus interesses
políticos, que, na prática, são interesses comerciais.
Pobres dos juízes e procuradores que se deixam
manipular por uma imprensa partidária, seletiva, autoritária e, agora, totalmente
desmoralizada.
PS: o editorial de Eurípedes termina com a piada do
ano. "Ao escândalo Siemens faltam evidências sólidas. Tanto quanto as
autoridades, os repórteres de Veja as estão buscando". Podem rir à
vontade. Postado por Marcos Imperial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá queridos leitores, bem vindo a pagina do Blog Imperial. Seu comentário é de extrema importância para nosso crescimento.
Marcos Imperial