Artigo de Laís Abramo* e José Ribeiro**.
No
momento em que o programa Bolsa Família completa 10 anos, é louvável a
disposição do governo brasileiro de abrir-se ao diálogo com outras instituições
e setores da sociedade para analisar e refletir sobre suas estratégias,
resultados, avanços e desafios. O Ciclo de Debates 10 Anos do Programa Bolsa
Família: Avanços, Efeitos e Desafios, organizado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep),
realizado em Brasília, discutiu os efeitos dos programas de transferência de
renda no trabalho das pessoas.
Para
a OIT, o trabalho é um dos principais vínculos entre o desenvolvimento
econômico e o social. Segundo dados da Pnad (IBGE/2011), 77% da renda familiar
advêm do trabalho, sendo estratégico no combate à pobreza. Não é qualquer
trabalho que garante o acesso a uma vida digna, mas um trabalho decente. Além
de remuneração adequada, acesso a direitos e à proteção social, combinados com
incrementos de produtividade e igualdade de oportunidades, diminui a extrema
pobreza por meio do aumento e distribuição da renda.
A
experiência brasileira recente de redução da pobreza e da desigualdade social,
resultado de políticas de caráter redistributivo, objetiva a incluir nos
mercados de consumo e de trabalho parcelas da população até então excluídas da
cidadania. Os resultados se devem a uma combinação entre políticas sociais e
laborais. A maioria das análises realizadas aponta como responsáveis: Bolsa Família,
extensão da proteção social e fatores relacionados ao mercado de trabalho, como
o aumento do emprego formal e a valorização do salário-mínimo. Entre 2003 e
2013 foram gerados 19 milhões de empregos formais, e o salário-mínimo aumentou
70,5% em termos reais. Este aumento foi fundamental no combate à pobreza e à
desigualdade, pois atingiu principalmente a população trabalhadora situada na
base da pirâmide salarial, predominantemente composta por mulheres e negros. Se
na população ocupada o rendimento médio real aumentou 30% (2004-2011), a
expansão foi de 36% entre as mulheres, 44% para os negros e 47% entre as
negras.
Outra
questão debatida é o efeito do Bolsa Família sobre a disposição para o trabalho
dos seus beneficiários, e suas possibilidades de autonomia econômica pela
inclusão produtiva. Declarações ideologizadas, preconceituosas e destituídas de
evidências empíricas sugerem que o Bolsa Família estimula o "efeito
preguiça" entre os beneficiários. Mas, segundo a Pnad 2011, entre as famílias
com rendimento mensal per capita de até 1/4 do salário mínimo (as mais pobres),
62% da renda familiar advêm do trabalho. Este dado corrobora as informações do
Cadastro Único do governo federal, de que a maioria da população pobre e
beneficiária do programa de fato trabalha. Entretanto, são em sua maioria
trabalhos precários e informais. Urge que o país continue desenvolvendo
políticas e iniciativas de combate à pobreza por meio do trabalho decente.
(*)
Laís Abramo é diretora da Organização Internacional do Trabalho no Brasil
(**)
José Ribeiro é especialista em estatísticas laborais da OIT. Publicado
no jornal O Globo
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Marcos Imperial