Em entrevista ao 247, o advogado Luiz Eduardo
Greenhalgh, que defendeu perseguidos políticos durante a ditadura militar, diz
estar vivendo uma experiência ainda pior do que a do passado; "hoje,
direitos da cidadania duramente conquistados estão sendo estraçalhados em plena
democracia"; segundo ele, o presidente do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa, agiu de modo "deliberado" para impor um
constrangimento ilegal dos réus condenados ao regime semiaberto; Greenhalgh
também demonstra preocupação com o estado de saúde de José Genoino: "Eu o
vi muito doente"; em Brasília, ele revela bastidores do caso e cobra uma
atitude do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: "um ministro da
Justiça não pode se calar diante do arbítrio".
via Brasília 247 - Advogado de vítimas da ditadura militar, Luiz Eduardo
Greenhalgh, que já foi deputado federal pelo PT, desembarcou em Brasília no fim
de semana para acompanhar de perto o tratamento que seria dado aos réus José
Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que foram condenados à prisão em regime
semiaberto, mas que, na prática, estão submetidos a um regime fechado, em razão
de decisões – segundo ele, ilegais – tomadas justamente por quem deveria zelar
pelo cumprimento das leis: o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim
Barbosa. "Estou estarrecido", disse Greenhalgh ao 247. "Hoje, em
plena democracia, direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros estão sendo
estraçalhados".
Segundo Greenhalgh, Barbosa a transferência dos presos para
Brasília foi a primeira ilegalidade, uma vez que a lei determina que o regime
semiaberto seja cumprido onde os réus trabalham e têm residência, ou seja, São
Paulo, no caso dos três ex-dirigentes do PT. "Colocá-los naquele avião foi
um gesto desnecessário, midiático, oneroso para os cofres públicos e que será
revertido, uma vez que eles não poderão permanecer em Brasília".
Em seguida, segundo Greenhalgh, Barbosa encaminhou as ordens de
prisão não ao juiz titular da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal,
Ademar Silva Vasconcelos, mas ao juiz Bruno Silva Ribeiro, que estava de
férias. "Tudo isso foi deliberado e milimetricamente calculado para que os
presos ficassem mais tempo submetidos a um regime de prisão ilegal", diz
Greenhalgh. Ele afirma ainda que, enquanto Dirceu, Genoino e Delúbio estavam
submetidos a um constrangimento irregular, Barbosa foi ao Rio de Janeiro, a um
clube, e depois embarcou para um congresso.
Por que razão as cartas de sentença não caíram nas mãos do juiz
titular? Na visão de Greenhalgh, isso impediu que a defesa tivesse acesso aos
documentos e a qualquer possibilidade de defesa. Durante quatro horas, relata
Greenhalgh, os presos ficaram em frente à Papuda porque as autoridades de
Brasília não poderiam acolhê-los. O impasse só foi resolvido quando se decidiu
que eles seriam transferidos para uma área, dentro do presídio, que fica sob
responsabilidade do Ministério da Justiça e da Polícia Federal.
Greenhalgh afirma ainda que Ademar Silva Vasconcelos decidiu não
abrigar os presos na Papuda porque não tinha acesso às cartas de sentença. Por
isso mesmo, eles dormiram nessa ala do presídio que ainda fica sob a custódia
da Polícia Federal – uma espécie de área de transição.
Greenhalgh não poupa as palavras ao se referir a Joaquim Barbosa.
"Ele fez uma suprema lambança", afirma. "Agiu de modo ilegal,
arbitrário e movido por desejo de vingança, o que será ainda mais grave se
ficar confirmado seu projeto de se tornar candidato". O advogado ecoa as
palavras de Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e diz que os demais
ministros do STF devem agir rapidamente para restaurar a dignidade da casa.
O que Greenhalgh define como "suprema lambança" ainda
criou uma situação inusitada. Ele lembra que a Constituição brasileira
determina que nenhuma violação de direitos fundamentais deixará de ser
apreciada pelo Poder Judiciário. No entanto, os ministros do STF já decidiram
que decisões da corte não são passíveis de revisão. "Estamos diante de uma
situação surreal e esdrúxula, onde quem viola a lei é quem deveria zelar por
ela, o presidente do STF, Joaquim Barbosa".
Após visitar os três, Greenhalgh afirmou que todos mantêm bom
estado de espírito, mas se disse muito preocupado com José Genoino. "Eu o
vi muito doente". Ele afirmou que ouviu de todos que nenhum deles quer
qualquer privilégio. "Mas todos exigem que sejam respeitados integralmente
os seus direitos", afirma. "Dirceu e Delúbio devem cumprir o
semiaberto em São Paulo e o Genoino, diante do seu estado de saúde, tem direito
à prisão domiciliar".
Por fim, o advogado cobra uma posição do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo. "Ele não pode se calar diante do arbítrio", afirma.
"É ministro da Justiça de um país onde estão sendo cometidas sérias
arbitrariedades contra os direitos dos seus cidadãos". Ou seja: segundo
Greenhalgh, não se trata de uma questão partidária, mas de defesa da própria
cidadania. "O ministro tem que vir a público urgentemente".
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Marcos Imperial