Colunista do Correio Braziliense diz que petistas desconfiam que
presidente da Câmara estivesse querendo “jogar para a plateia com a cabeça de
Genoino”; segundo ela, a retaliação pode chegar em 2015, já que o acordo que
garantiu o apoio do PT à eleição de Henrique Alves para a presidência da Câmara
não incluiu a reeleição dele ao cargo; cadeira caberá ao partido que fizer a
maior bancada em 2014.
Via 247 – A colunista do Correio Braziliense Tereza
Cruvinel diz que petistas podem se vingar da atitude do presidente da Câmara,
Henrique Alves (PMDB), no caso do pedido de aposentadoria de José Genoino,
depois das eleições de 2014.
Leia: Relação abalada
Se as coisas já não andavam bem entre o PT e o
PMDB, ambos ganharam um novo ingrediente ácido com o episódio que levou à
renúncia do ex-deputado José Genoino. A mágoa dos petistas com o presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves, pode ter desdobramentos eleitorais e
parlamentares, no âmbito da Câmara, envolvendo, pelo menos, os grupos ligados a
Henrique. Mas, antes mesmo da renúncia, no encontro que teve com os novos
presidentes estaduais do PT, na segunda-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva queixou-me muito do PMDB, relatando como “muito ruim” a reunião que
ele e a presidente Dilma tiveram com dirigentes do partido no sábado.
Ele mesmo relatou que, em dado momento do encontro,
marcado para avaliar a replicação da aliança nos estados, diante de informações
sobre as recalcitrâncias de algumas secções regionais, como a de Pernambuco
(controlada pelo senador oposicionista Jarbas Vasconcelos, que está ao lado de
Eduardo Campos, do PSB), em apoiar a reeleição de Dilma, teria perguntado ao
vice-presidente Michel Temer: “Ô, Michel, eles não estão querendo votar em
você! Como é que você vai resolver isso?”
Entre os deputados, a desconfiança de que Henrique
estivesse querendo “jogar para a plateia com a cabeça de Genoino” começou na
semana passada, quando a direção da Câmara organizou uma entrevista coletiva
dos médicos que integraram a junta encarregada de avaliá-lo, com vistas à
concessão da aposentadoria por invalidez, requerida ainda antes da prisão. Na
entrevista, foi divulgado apenas um resumo do laudo, informado que o
ex-deputado não era portador de cardiopatia grave, tendo, por isso, os médicos
optado não pela concessão da aposentadoria, mas pela prorrogação da licença
médica por 90 dias.
O laudo completo, entretanto, foi obtido pelo irmão
de Genoino, o líder José Guimarães. Nele, os médicos afirmam que o ex-deputado
é “indivíduo sujeito a riscos de novos eventos cardiovasculares”, em função da
prótese implantada próxima do arco da aorta e de problemas de coagulação e
hipertensão. Henrique, já diziam os petistas na sexta-feira passada, certamente
não ignorou essa ocultação de uma parte importante do laudo. O documento
resumido é que acabou pautando o noticiário.
Anteontem veio o desfecho: o vice-presidente da
Câmara, André Vargas, do PT, surpreendeu Henrique e os integrantes da Mesa com
a carta de renúncia, quando já havia votos suficientes para abertura do
processo de cassação. Se a formalidade fosse concluída, Genoino não poderia
mais renunciar, tendo que enfrentar o julgamento do plenário, agora com o voto
aberto.
Ontem, foi um dia de constrangimentos. Os petistas
evitaram encontros com os integrantes da Mesa que votaram a favor da abertura
do processo para não ouvir justificativas. Quiseram deixar claro que a ferida
está aberta, explicou um deles, embora assegurando que não haverá retaliações.
Henrique tentou esfriar o clima, propondo que virem logo a página: “Não é
agradável uma decisão destas. É sempre constrangedora, mas cumpri meu dever de
forma serena e obedecendo ao regimento e à Constituição. Agora, é aguardar os
outros acontecimentos”. A alguns deputados, disse estar respeitando a dor dos
aliados, na certeza de que eles acabarão entendendo que ele não poderia ter
agido de outro modo. Os petistas discordam: acham que poderia perfeitamente, sem
atropelar o regimento, adiar a abertura do processo em função da licença médica
de Genoino.
A curto prazo, as consequências podem até afetar
apenas as relações pessoais, não produzindo desdobramentos eleitorais.
Mas
o acordo que garantiu o apoio do PT à eleição de Henrique Alves para a
presidência da Câmara não incluiu a reeleição dele ao cargo, em 2015. A
retaliação poderia surgir neste momento, mas isso vai depender das urnas de
2014. O cargo caberá ao partido que fizer a maior bancada. Petistas e
peemedebistas, no fundo, já travam este duelo.
Outras
arestas
Em
suas críticas ao presidente da Câmara, os petistas fazem questão de
distingui-lo do presidente do Senado, Renan Calheiros, que mesmo sendo
voluntarioso, não seria dado a fazer média com a oposição nem a pautar com
frequência projetos que incomodam o Planalto, como faria Henrique. Um exemplo,
além do orçamento impositivo, o projeto que acabava com a multa de 10% sobre o
FGTS, destinada ao financiamento habitacional, e toda a chamada “pauta bomba”
que ameaçaria o equilíbrio fiscal. Com frequência, ameaçaria colocar em votação
a PEC 300, a tal que equipara os salários dos PMs de todos os estados, pobres
ou ricos, aos de Brasília, onde o salário realmente é mais alto, mas é pago
pela União. Henrique teve um desentendimento com o próprio Renan, por conta da
tramitação do Orçamento, e teria perdido o apoio de parcela do baixo clero com
medidas administrativas não aprovadas pela Mesa. Todas essas críticas seriam de
pouca importância e vistas como mágoas de conjuntura, se o relacionamento entre
os dois partidos centrais da coalizão governista já não enfrentassem outros
problemas, relacionados com a disputa de poder nos estados.
Agenda
conservadora
Deputados
evangélicos da vertente mais conservadora e sectária nas questões morais e de
costumes ganharam ontem duas paradas. Na Câmara, a Comissão de Direitos
Humanos, presidida pelo deputado Marco Feliciano, rejeitou projeto de lei que
estabelecia normas de igualdade de gênero e raça nas condições e oportunidades
de trabalho e na remuneração no serviço público. No Senado, a tropa de choque
liderada por Feliciano impediu mais uma vez que a presidente da Comissão de
Direitos Humanos, Ana Rita (PT-ES), colocasse em votação o substitutivo do
senador Paulo Paim ao projeto que criminalizar todas as formas de discriminação
e preconceito, motivados pela orientação sexual, diferenças de cor e etnia,
aparência física ou deficiências. Para desgosto de Ana Rita, o próprio líder do
PT, Wellington Dias, pediu que ela adiasse a votação. É o preço das coalizões.
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Marcos Imperial