MIRUNA GENOINO.
O que fazer, ou sentir, quando a vida de quem você ama, no caso, a vida de meu pai, pode ser colocada em risco a depender de uma decisão judicial? Simplesmente pedir.
Via 274 - Hoje meu filho Luis estava jogando futebol com o tio e de
repente, tentando defender o gol, bateu as costas na parede e caiu no chão não
só chorando, mas sim urrando de dor. Fui correndo ao seu encontro e o segurei
no meu colo durante 5 longos minutos, quando o choro doído dizia de toda sua
dor e sua angústia. Naquele momento, pensei, "E se for algo grave, a quem
posso confiar essa vida que é mais preciosa que a minha?". Felizmente meu
filho se curou após uma boa dose de abraço e pediu como remédio desenhar seus
dinossauros com o tio querido. Mas infelizmente nem sempre quem amamos se cura
de uma forma tão fácil de resolver.
Na minha mente lembro bem de momentos de
preocupação com pessoas amadas... um corte do meu irmão que precisou de sutura,
a queimadura de minha mãe, e depois do meu marido, que necessitaram curativos
cuidadosos, e mesmo torções dos meus filhos que demandaram uma corrida rápida
ao hospital. Mas não lembro de grandes preocupações com a saúde de meu pai.
Lembro de quando em 1992 ele descobriu a pressão alta e de um acidente de carro
envolvendo uma vaca na pista que apesar de manchá-lo inteiro de sangue, não
causou nem mesmo um arranhão.
Parece que de alguma forma a vida estava
deixando que ele guardasse todas as energias e forças possíveis para o que iria
enfrentar em julho de 2013, quando sua aorta começou a rasgar e durante 15
horas aguentou o que pôde até que mãos hábeis pudessem reparar o problema que
quase lhe rouba a vida. Já falei de muitas formas sobre a dor que vivi quando a
vida de meu pai esteve por um fio, e também sei e já escutei muita gente
compartilhando comigo sobre o desespero e a angústia que é ter algum familiar
entre a vida e a morte, ainda que, acredito eu, poucas destas pessoas depois
tenham tido que conviver com a desconfiança alimentada publicamente, sobre a
veracidade à respeito daquilo que quase tirou a sua alma. Talvez essas pessoas
entendam a minha dor, a dor de minha família... porque nesses momentos onde um
familiar está entre a vida e a morte não sabemos o que pensar, como esperar,
para quem rezar, e por isso do jeito que dá, pedimos, clamamos, oramos, damos
tudo o que temos dentro para tentar de alguma maneira superar aquele momento.
O que mais me dói é que meu pai superou
uma situação médica dramática mas isso não foi suficiente para termos
tranquilidade. Seu corpo foi guerreiro, foi vencedor e superou as estatísticas,
os 10% de chances que o ligavam à vida, o micro-avc, a necessidade de vencer a
internação hospitalar, mas ele nunca poderá respirar como antes daquele 24 de
julho. Porque para sempre terá que estar atento à sua condição de hipertenso,
de apresentar um alto risco cardiovascular, com a necessidade constante de
controle que impeça de todas as formas que a diseccção volte a acontecer.
Porque ela pode voltar a acontecer. E nosso coração sofre porque sabemos que
ele pode não ter a mesma sorte, força, socorro de antes, e não vencer essa
situação.
Diante do cenário, em quem confiar?
Confio em minha mãe, sempre tão atenta aos cuidados alimentares de meu pai. Confio
nos médicos que o acompanham, que pedem os exames necessários, decidem a
medicação e nos indicam o caminho a seguir quando algo não acontece como o
planejado. E confio na vida, que já mostrou por várias vezes que apesar do
caminho tortuoso, de alguma forma quer que meu pai esteja por aqui por um bom
tempo.
Mas, o que fazer, ou sentir, quando a
vida de quem você ama, no caso, a vida de meu pai, pode ser colocada em risco a
depender de uma decisão judicial? Simplesmente pedir. Pedir que para além de
resultados de julgamentos, disputas políticas, acordos, trâmites e execuções,
lembrem-se de que há uma vida. Uma vida que não representa apenas o político
José Genoino, com seus apoiadores e detratores, como todo político, mas uma
vida da qual dependem muitas outras. Nas mãos de uma decisão judicial está a
vida do ex-deputado e ex-presidente do PT, mas está também a vida de um marido,
um pai, um avô, um amigo, um tio, um filho, um homem, que tem sua saúde
colocada em risco toda vez em que deixa-se de lado o humano e se coloca em
discussão apenas o jurídico e o político.
No dia 19 de fevereiro de 2014 terminam
os 90 dias concedidos a meu pai para que ele cumpra sua pena em prisão
domiciliar. Eu aqui, de peito aberto, peço que o futuro da vida de José Genoino
seja decidido com a razão, e não com a desconfiança. Com a verdade e não com a
manipulação. Com a lógica e não com o risco. Com a verdade que todos sabem que
existe: ele é uma pessoa que precisa de cuidados que nenhum presídio pode
oferecer, e nas linhas de uma decisão judicial estão em jogo não apenas
questões jurídicas, mas principalmente o respeito e o cuidado com com os altos
riscos envolvidos na vida do homem José Genoino.
Vida essa que, espero eu, seja zelada
como merece.
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Marcos Imperial