Paixão de Rosa e Karl (+ Antologia da Liberdade)
Aos que resistiram, aos presos e torturados, aos mortos e desaparecidos
Aproxima-se, neste 13 de março, cinquenta anos passados do grande comício da Central do Brasil, pelas Reformas de Base, comandado pelo Presidente João Goulart, com a presença de mais de trezentas mil pessoas, o cinquentenário de uma tragédia, melhor dizendo, conforme a lição de Marx (“A história não se repete…”), em “O Dezoito Brumário…”, uma farsa trágica que, por vinte e um anos, oprimiu, envergonhou, ensanguentou a Nação brasileira e sua “ Brava gente”.
.
Para milhares, às dezenas, de compatriotas cessou o brilho do “ Sol da liberdade”. Foi-nos imposta a escravidão da ignorância, da intolerância, da violência fascista.
Poderia escrever uma crônica nacional, com fatos e personagens de Natal, do Nordeste, do País. Mas, convencido do sentido universal da nossa luta, da máxima de Marti (“Pátria é humanidade”), o que ganha força com as batalhas, agora, em curso, nos mais diversos recantos do Planeta (Síria, Ucrânia, Venezuela), na gesta revolucionário-internacionalista, com seus dramas e glórias, como missão coletiva e comum, inspirei-me além das fronteiras da minha terra.
Isto posto, convenci-me de que, para mim e os companheiros e companheiras do Partido dos Trabalhadores (PT), com a humildade e obrigação de aprender sempre, resgatar a memória dos nossos heróis e heroínas, de suas vidas, dedicação e exemplo, é uma boa forma, um passo necessário, um justo caminho, para darmos início à mobilização, no sentido de denunciar, criminalizar, rechaçar, com plena razão histórica, o golpe militar (com respaldo civil dos reacionários da mídia, do latifúndio, do capital, das igrejas e seitas de corte medieval) de 1º de abril de 1964.
Apoio-me na paixão libertário-socialista de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, assassinados, ambos com 48 anos de idade, pelo gendarmes de Weimar, paramilitares, milícias direitistas, embriões dos bandos criminosos SA e SS nazistas, com a colaboração indecorosa da ala direita (parlamentar-reformista e instalada no governo) do Partido Social-Democrata Alemão (SPD), em 15 de janeiro 1919. Leo Jogiches, participante ativo da Revolução Bolchevique, companheiro de Rosa, foi morto, de modo análogo, dois meses depois.
Os assassinatos de Rosa e Karl marcaram, de maneira contundente, a derrota da Insurreição Operária de Berlim, inspirada na Grande Revolução Russa de 1917 e dirigida pela Liga Spártacus, núcleo principal do KPD.
Um ano antes, em 1918, os spartaquistas, somados a jovens marxistas- leninistas, fundaram o Partido Comunista Alemão (KPD) – baluarte na resistência à ascensão do nazismo, sob os lemas de “unidade contra o fascismo” e “socialismo ou barbárie”. Sem dúvida, consignas de indiscutível e triste atualidade.
Este trabalho, não desdenhando-se as limitações intelectuais do autor, impossíveis de serem camufladas, na seleção, tradução e organização dos textos que se seguem; estes, sim, merecendo ser tomados como conclusão teleológica essencial, espero que seja lido com generosidade e muito boa vontade.
ANTOLOGIA DA LIBERDADE
I-Rosa Luxemburgo: Frases e Pensamentos
“A ordem reina em Berlim!…Ah! Estúpidos e insensatos carrascos! Não perceberam que vossa ‘ordem’ está construída sobre a areia. A Revolução levantará sua cabeça novamente, amanhã e, para o horror estampado em vossos rostos, anunciará com todas as sua trombetas: Eu fui. Eu sou. Eu serei!” (“Últimas palavras escritas”).
*
*
*
*
*
*
*
*
*
II- Karl Liebknecht
Na Prisão
Vós me roubais a terra mas não o céu.
Não me resta dele mais do que um pedaço estreito
onde cravo meus olhos
através das grades
de uma janela de ferro
encurvada nas paredes pesadas…
Mas para mim é bastante
ver o azul resplandescente do céu
de onde vem a luz,
que me ofusca quando me aproximo,
e de onde às vezes também
cai dançando um ligeiro murmúrio de pássaros…
Basta-me
que uma gralha negra, tagarela,
amiga fiel dos dias de cárcere,
me faça ver um ser alçando um vôo livre,
e que uma nuvem viajante
me ofereça a imagem das coisas mutáveis.
Não vejo mais do que um pequeno espaço do céu.
À noite passada
a estrela mais clara brilhava neste espaço,
a mais clara estrela resplandecia,
e seus raios brotavam das extremidades do firmamento
dominando o mundo,
mais claros, mais cálidos,
com um resplendor mais juvenil na minha estreita cela
do que para vós que estais em liberdade.
A estrela projetava aqui sua pequena mancha de luz.
Vós me roubais a terra, mas não o céu…
Não vejo dele mais do que um pequeno pedaço
através das grades
de uma janela de ferro…
Mas esta luz devolve os sentidos a este corpo,
animado por uma alma livre
como jamais tivestes,
vós que acreditastes
que poderíeis aniquilar-me
nas grades desta prisão!
III- Bertolt Brecht
Epitáfio de Rosa ( Réquiem de Berlim)
Aqui jaz
Rosa Luxemburgo,
Judia da Polônia,
Vanguarda dos operários alemães,
morta por ordem dos opressores.
Oprimidos,
enterrai vossas desavenças!
IV-Martin Niemöller
Quando os nazistas vieram buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar.
já não havia ninguém que pudesse protestar.
V- Eduardo Alves da Costa
No Caminho, com Maiakóvski
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
Juliano Siqueira
Natal, 13 de março de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá queridos leitores, bem vindo a pagina do Blog Imperial. Seu comentário é de extrema importância para nosso crescimento.
Marcos Imperial