Foto: Vlademir Alexandre/Assessoria do Mandato
Por *Cláudia Santa Rosa
Leio nos blogs, portais e impressos que o Governo
do Estado do Rio Grande do Norte estuda encerrar as atividades, nos próximos
meses, de 75 escolas com menos de 100 alunos, somando-se às dezenas que já
foram fechadas somente na atual gestão. E não para por aí. A voz oficial,
alerta: passarão pelo mesmo processo aquelas com menos de 200 alunos.
Na sequência, é possível que a compreensão seja
de que não se justifica uma unidade funcionar com 300, 400 ou 500 alunos. À luz
dessa lógica, parece ser “the best” escolas com superpopulações, impessoais e,
consequentemente, com graves casos de violência e rendimentos para se
questionar mais tarde.
Neste espaço, desejo refletir sobre a
oportunidade do Rio Grande do Norte avançar na oferta de escolas de tempo integral,
justamente pela redução da matrícula. Ora, mais sensato do que fechar escolas é
investir num projeto educacional de excelência, de ampliação da jornada escolar
dos alunos que restaram, atraindo novos, até mesmo os que por ventura tenham
buscado a regularidade de funcionamento das escolas particulares, desembolsando
duas vezes pelo mesmo serviço: a Educação.
É inegável que o país avançou ao universalizar o
acesso obrigatório ao ensino fundamental e mais tarde pela emenda
Constitucional 59 que estabelece a matrícula compulsória na educação básica
para o corte etário de 4 a 17 anos. Porém, no tocante à qualidade apresenta-se
manca, o que não custa lembrar que tal cenário impacta, negativamente, nas
possibilidades de promover justiça e equidade, antídotos para diversas mazelas
sociais.
Estatísticas não faltam. É comum crianças e
jovens abandonarem a escola ainda analfabetos ou semialfabetizados, seja por
não encontrarem sentido nas atividades, pelo funcionamento precário das mesmas
ou pela necessidade de ingresso no mercado de trabalho, na maioria dos casos
pelas vias da informalidade.
Convém indagarmos: quais seriam as repercussões
nas vidas de crianças e jovens – e na sociedade – se frequentassem escolas bem
estruturadas e com jornadas letivas diárias de sete ou oito horas?
O Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação
no Congresso Nacional, define na sua meta 6, a ser cumprida até o ano de
2024: “Oferecer Educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas
públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação
Básica.” Como será que estados e municípios pretendem cumprir essa meta se, no
presente, não tomam atitudes coerentes?
Li que a histórica Escola Estadual Isabel
Gondim, localizada no bairro das Rocas, em Natal, resiste ao fechamento
unilateral, anunciado nos últimos dias. A comunidade apresentou uma proposta de
tempo integral, coerente com o que define o PNE e o debate educacional do
momento, mas ainda não foi compreendida pelos burocratas. Aliás, os burocratas
não são pessoas mal intencionadas, apenas cumprem ordens de superiores e olham
a escola por um ângulo diferente dos profissionais que lá estão todos os dias.
O RN precisa acordar. A Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, do artigo 8º ao 11, trata do regime de colaboração entre
a União, os Estados e Municípios para a oferta da educação. Não visualizo,
entretanto, movimento do estado do RN, na linha do que dispõe o art. 10, inciso
II: “definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental,
as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de
acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em
cada uma dessas esferas do Poder Público”.
Tampouco sobre o que diz o inciso III do mesmo
artigo: “elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância
com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as
suas ações e as dos seus Municípios”. Não se tem conhecimento de que a gestão
da educação estadual dialoga com as gestões municipais para otimizarem os usos
de prédios escolares, de terrenos para construções de escolas, divisões de
responsabilidades na oferta dos níveis de escolaridade, parcerias para ampliar
a jornada letiva das escolas, entre outros.
Fechar escolas parece ser mais fácil do que
reinventá-las, ainda que seja com o carimbo da falta de diálogo. É necessário
atentarmos para um detalhe: a população tem direito de opinar, afinal é ela
quem paga a conta dos serviços e da gestão pública.
*Cláudia Santa Rosa – educadora e Diretora
Executiva do Instituto de Desenvolvimento da Educação – IDE (
educadora@claudiasantarosa.com)
Fonte: Blog do Marcelo Abdon.
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