Foto arquivo do Blog Imperial.
Por Mariliz Pereira Jorge.
Eu me arrependi. Me arrependi de não ter comprado
ingressos, de não ter tirado férias, de não estar hoje em Porto Alegre e amanhã
em Manaus. De não poder torcer ao vivo pelo Brasil, pela Austrália ou por Gana.
Me arrependi de ter ficado de mimimi na hora errada.
Eu gosto de futebol, mas gosto de várias outras
coisas muito mais do que de futebol. E uma delas é Copa do Mundo. Um não tem
nada a ver com o outro, ainda que tenha tudo a ver. Cada uma delas marca a
gente de um jeito diferente.
Me lembro onde estava em todos os anos desde
1982, quando o Brasil foi desclassificado e meu pai levou meu irmão e eu para
tomar um sorvete e esfriar os ânimos. Os ânimos dele. Eu ainda não entendia
muito bem a dimensão de tudo aquilo, mas ainda lembro da cara de desconsolo do
velho e do silêncio sepulcral da cidade. Acho que foi quando eu descobri o que
era decepção. Foi a Copa do sorvete.
Teve um ano, que a gente se reunia na chácara de
uns amigos para fazer churrasco e ver todos os jogos do Brasil. Não lembro da
escalação, nem quem ganhou a Copa, mas lembro do Ricardo, um menino de franja
caída sobre os olhos, por quem eu era apaixonada, que chegava sempre chapado
num Fiat 147 rebaixado. Ele mal olhava para mim, mas eu só tinha olhos para
ele. Foi a Copa do Ricardo.
Em 1998, eu estudava no Canadá. Já no primeiro
jogo, descobrimos em Little Portugal um bar sintonizado no jogo. Encheu de
brasileiro, ganhamos sei lá contra quem, fechamos a rua, teve Carnaval, a
polícia não entendeu nada. No segundo jogo, o esperto do portuga, dono do bar,
conseguiu transmissão da Globo e passou a cobrar 10 doletas de entrada.
Entupia. Perdemos na final, a rua lotada de brasileiros e gringos na maior
festa. Os policiais não se conformavam: haven't you lost the game? Foi a Copa
do Galvão.
O ano do Japão e da Coréia do Sul eu não esqueço,
pelo menos do perrengue. Colocava o despertador para acordar de madrugada e ir
para a sala enrolada num cobertor. Ouvia os gritos nos prédios ao lado, as
luzes acendiam. O Brasil ganhava, ninguém mais dormia e eu morria de
arrependimento de não estar no bar mesmo com frio e com sono. Mas o que eu me
lembro mesmo foi que me reuni com um turma para tomar café da manhã e ver a
final. A gente ganhou, mas ver jogo de madrugada é muito chulé. Foi a Copa do #nãovaitercerveja.
Então, chega o ano em que a Copa é no Brasil.
Sempre quis uma Copa no Brasil. Vou tirar férias, passar o mês viajando pelo
país, assistir a todos os jogos possíveis, fazer festa na rua, me embebedar
abraçada com gente desconhecida.
Broxei junto com o clima anti-copa e não fiz nada
para participar dela.
Ela chegou e eu fiquei de fora. Engrossei a massa
dos sem-ingresso. Também quero cantar o hino à capela, quero ir na FIFA Fun
Fest, quero beber na Vila Madalena até de manhã com gente feliz e estrangeira.
Quero esquecer até 13 de julho que tudo foi feito errado.
Ontem, quando ficava pronta para ir ao trabalho,
um amigo me ofereceu ingressos para ver a Espanha ser despachada de volta pra
casa. Sem condição. Tinha que bater ponto em Curicica. Assisti ao jogo pela TV.
Continuo em último no bolão. Mas tenho me divertido mesmo à distância como
nunca em todos os mundiais da minha vida com tudo que leio, vejo e ouço. Eita,
povo criativo. Eita, povo emocionante.
Ainda tenho esperança de emplacar um jogo ao vivo
e fazer num dia só o que planejei para o mês todo. Tem gente que está
preocupado se o Brasil vai ganhar, eu só quero me divertir. Está sendo a Copa
das Copas.
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Marcos Imperial