A demonstração do projeto Andar de Novo, na abertura da Copa do
Mundo, tinha tudo para ser épica. Imagine a cena: o voluntário Juliano Pinto,
paraplégico, em pé, chutando uma bola, tudo com auxílio de um exoesqueleto
controlado pelo cérebro. Isso, diante dos olhos do mundo inteiro, parecia
sensacional. Mas não foi bem assim. Na transmissão oficial, o projeto,
resultado de 30 anos de pesquisas e uma década e meia em Interfaces
Cérebro-Máquina, foi visualizado por apenas 7 segundos. Só restou a frustração
ao não poder presenciar, pelo tempo necessário, a inovação da equipe da
Universidade de Duke, liderada pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis.
A veste robótica é resultado do trabalho de
mais de 150 pessoas, de 25 países e contou com o investimento de mais de R$ 33
milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Por meio do sistema chamado Interface
Cérebro-Máquina (ICM), o paciente emite sinais elétricos cerebrais e a máquina
obedece, executando os movimentos.
Foi a primeira vez que Nicolelis mostrou o
trabalho. A parte científica do projeto foi concluída dia 28 de maio, com todos
objetivos científicos, tecnológicos e clínicos alcançados. Durante três meses,
oito pacientes conseguiram caminhar usando somente a atividade cerebral para
comandar o exoesqueleto. O experimento, complexo, capaz de influenciar a vida
de milhões de pessoas que sofrem de deficiências sérias, teve, de acordo com
Nicolelis, direito a apenas 29 segundos de visibilidade.
Já a Fifa se diz satisfeita com o
desempenho da equipe de produção de TV. Para eles, o projeto Andar de Novo foi
mostrado conforme planejado no sinal fornecido às emissoras.
LAMENTÁVEL
Frustração. Esse é o sentimento de quem
perdeu a transmissão. O engenheiro Joaquim Alexandre Araújo, por exemplo,
conta que teve que recorrer à repetição da cena pelo Youtube. “Se trata de um
projeto fantástico, um dispositivo controlado pelo cérebro. A organização da
Copa, pelo jeito, não achou que merecesse importância. É lamentável”, avalia.
Vale lembrar que nenhuma explicação sobre o projeto foi feita no decorrer da
abertura.
A jornalista Fernanda Alves está
decepcionada. Nos últimos dias, ela acompanhou a contagem regressiva pela
fanpage do Nicolelis. “Liguei a TV só para ver essa passagem e, num piscar de
olhos, foi. Ninguém viu”, reclamou. “A apresentação foi dividida com a chegada
do ônibus da seleção ao estádio. É triste ver quer a Fifa dê tão pouca
relevância a algo importante, como essa tecnologia que pode ajudar milhares ou
milhões de pessoas pelo mundo”, também criticou o compositor Cauê Procópio.
Fábio Grando, que conhecia o projeto, disse
que já esperava a pouca visibilidade, pois o projeto, apesar de ser muito bom,
interessa a poucos. “O Brasil é um país em que encontrar alguém que respeite
vagas para deficientes no estacionamento, por exemplo, é uma coisa rara. A
cabeça das pessoas só muda quando se tornam deficientes ou tem algum caso na
família. Era de se esperar o que aconteceu ontem”, disse o jornalista que, há 8
anos, teve uma lesão na vértebra C5.
Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias
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