
"Essa elite está tentando aprender a viver
sob a democracia, mas ainda há muito chão pela frente porque seu xingamento
grosseiro expressa um ódio de classe incontido.
Artur Scavone, Brasil 247
O hino nacional cantado contra a vontade da Fifa
na abertura da Copa, que programou a gravação para terminar logo após os
primeiros versos, foi um momento tão emocionante quanto a virada do jogo. Os
jogadores, o Filipão e a torcida na arquibancada cantaram a plenos pulmões as
estrofes inteiras até a primeira parte do hino, que deveria terminar bem antes.
Cantou a seco, sem o acompanhamento gravado. Foi uma espécie de "calma lá
Fifa, essa copa é nossa, na nossa casa".
Sem dúvida essa atitude mostra um sentimento de
nação que há muito tempo Lula tem invocado, contra aqueles que pregam uma
postura de vira lata. É um reconhecimento de nação que a elite nacional nunca
quis ver florescer, porque sempre temeu esse orgulho, essa apropriação de
país.
A ditadura e as elites festejavam a glória
nacional sob a batuta das bandas militares para abafar a total falta de
democracia, a submissão aos interesses norte-americanos e os "noventa
milhões em ação" serviam para calar a boca dos que resistiam à violenta
exploração a que os trabalhadores eram submetidos naquele tempo. Era uma ode à
pátria amada dos militares. Não foi por outro motivo que as organizações de
esquerda que resistiram ao regime tinham como lema "ou ficar à pátria
livre, ou morrer pelo Brasil".
Poder ver o povo brasileiro ter orgulho do que
é seu, manifestar-se para reivindicar seus direitos, e aprender a viver sob uma
democracia ainda jovem e ameaçada pelos interesses do grande capital, é uma
alegria que só os que viveram a opressão da ditadura podem festejar.
Mas algo precisava destoar, afinal. E o tom
desafinado veio da ala vip da platéia: "Hei, Dilma, vai tomar no c.!"
Essa foi a palavra de ordem da elite paulistana, que marcou seu
descontentamento com as políticas do governo federal, bem ao estilo dos articulistas
da direita truculenta. A elite paulistana está tentando aprender a viver sob a
democracia, mas ainda há muito chão pela frente porque, convenhamos, esse
xingamento grosseiro não é exatamente uma palavra de ordem que expresse uma
posição política, mas um ódio de classe incontido, tal qual uma fratura
exposta. Não é próprio da democracia. A conclusão, afinal, é que Marilena
Chauí tem razão: a classe média paulistana ainda é uma
abominação política e ética, no mínimo. Mas Dilma já disse, não custa
relembrar: "Prefiro as vaias da democracia, do que os aplausos da
ditadura".
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Marcos Imperial