"É… nem sempre as coisas vão para onde a
gente quer. Nem sempre a vida acontece como você e eu desejamos. Nem sempre.
Preciso confessar a você que essas velhas
certezas só me enchem de novas perguntas. Amigos verdadeiros nunca faltam
mesmo? Amor de verdade não acaba? Só uma mãe entende um filho? O perdão é um
privilégio das almas elevadas? Quem sabe? É que eu tenho a impressão de que as
verdades de cada um nunca foram, assim, tão absolutas, austeras, esbanjando
sisudez. As minhas, pelo menos, andam de tênis. Caminham por aí, pisam nas
poças, mudam o percurso, tropeçam, voltam, seguem de novo.
Você sabe. Nem sempre é tudo tão ruim nem tudo
tão bom. E nem sempre conseguimos escapar de um macambúzio mais ou menos.
Não, nossos melhores parceiros não são
infalíveis. Hoje nos dão a mão, amanhã nos dão de ombros. Porque ninguém é
perfeito, sabe?
Nem sempre um dia duro termina em sono tranquilo,
nem sempre a noite é amiga calma, ouvinte dos nossos sonhos, vigiando tesouros
profundos enquanto dormimos profundamente.
Quer saber? Nem sempre a segunda-feira é ingrata
e nem a sexta, um alívio.
Nosso complexo conjunto de exigências, nossos
preconceitos e nossos pavores nem sempre dão um tempo e nos libertam para
fazermos escolhas simples que num pulo se transformam em monstros, os mesmos
que na infância viviam debaixo da cama e agora pulam medonhos sobre nosso
colchão.
Uns chegam aqui, outros partem ali. E nem sempre
você e eu surgimos a tempo do olá e do adeus. Como nem sempre lembramos datas
importantes. Porque nem sempre nos importam as datas que para os outros têm
alguma relevância.
Nem sempre somos de todo sinceros, nem sempre a
verdade nos sobra e a mentira nos falta. Paciência. Fazer o quê? É assim que é.
Os caminhos se perdem, o relógio atrasa, a bateria acaba, a vista cansa, as
pernas hesitam, os pés tropeçam, as mãos tremelicam, a cabeça roda, o coração
se acinzenta, as expectativas despencam do alto e a alma chora baixinho.
Depois passa. Quase sempre passa. E quem chora
agora há de amanhã se flagrar nadando num lago tranquilo de ternura e
esperança, com pedras de rancores e pecados no fundo, repousando inúteis sob o
limbo do esquecimento.
Mas também nem sempre a gente esquece.
E o amor, ah… o amor, sob a forma daquele estado
de entrega tranquila que vem apaziguar uma paixão tumultuosa, nem sempre chega.
Nem sempre. Nem sempre."
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Marcos Imperial