Da Página do MST
O histórico de enfrentamento vem desde abril de 1996, quando 3.340 famílias Sem Terra ocuparam a Fazenda Pinha Ralo, pertencente a empresa Araupel, em Rio Bonito do Iguaçú, no Paraná. Naquele 17 de abril, se reiniciava a luta pela terra de forma mais intensa na região.
A contra-ofensiva não demorou muito. Alguns meses depois, dois trabalhadores rurais foram assassinados numa emboscada. Registros do laudo técnico apontaram tiros à queima-roupa. Dois funcionários da empresa foram acusados pelos assassinatos.
No entanto, foram necessários mais de 10 anos para que fossem julgados. O julgamento ocorreu apenas em dezembro de 2010, quando os assassinos reconheceram o crime contra os Sem Terra, mas foram absolvidos pelos jurados, que argumentaram falta de provas.
Quase duas décadas após o reinício da luta dos Sem Terra, os dois atores voltam a se encontrar. Há dois meses, os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu (PR) estão sendo palco de uma disputa entre a população camponesa e a empresa Araupel, que atua principalmente na exportação de madeira de floresta nativa e de madeiras plantadas.
De um lado, os Sem Terra se organizam entre 2500 famílias no Acampamento Herdeiros da Luta 1° Maio, e denunciam que as atuais terras da empresa têm um histórico de concentração, grilagem e assassinatos na região.
Do outro, a Araupel realiza uma campanha ideológica para deslegitimar o acampamento e colocar a população local contra os Sem Terra.
Em disputa, está a Fazenda Rio das Cobras, de cerca de 35 mil hectares. “Temos milhares de famílias acampadas na região que querem terra para trabalhar e produzir alimentos. Enquanto isso, a Araupel se sente no direito de grilar terras e produzir madeira para exportação”, argumenta Daniel Ferreira, da direção estadual do MST.
Por sua vez, desde o começo do acampamento a empresa acusa os Sem Terra de quererem roubar madeira de dentro das áreas da Araupel. Na semana passada, a empresa veiculou uma matéria no Correio do Povo do Paraná em que acusavam três assentados de roubarem as madeiras. Entretanto, como a própria data da notícia mostrava, a informação era de maio de 2012.
“O que as mais de 2500 pessoas querem é um pedaço de terra onde possam viver com dignidade e plantar alimentos saudáveis”, explica Ferreira.
Nessa mesma perspectiva, a Araupel propagandeia que assentou mais de 2.700 famílias na área ao redor da madeireira. “Esses assentamentos na região só existem porque as famílias Sem Terra realizaram ocupações, denunciaram a irregularidade das terras e enfrentaram a violência da empresa”, observa o Sem Terra.
A luta por essa área não vem de hoje. Desde 2004, tramita na justiça uma ação promovida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) contra a Araupel.
Desde a abertura do processo, os Sem Terra já conquistaram dois assentamentos sobre as terras em disputa: o Assentamento Celso Furtado, em Quedas do Iguaçu, e 10 de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu.
A imissão de posse de ambas as áreas concedida pelo juiz responsável da Comarca de Cascavel foi dada sem que a empresa fosse indenizada, já que se apropriava ilegalmente da área.
Agora, o Incra formalizou um processo administrativo pedindo que a ação seja estendida para o restante da fazenda, por acreditar que esses títulos também são nulos.
"O Incra já imitiu posse de parte dessa área, cerca de 23 mil hectares, quando fez o assentamento Celso Furtado. A questão é que o restante da área tem a mesma origem no título, que foi outorgada a Companhia de Ferro São Paulo/Rio Grande (em 1926). Então se comprovada área nula, temos aí cerca de 35 mil hectares que podem ser destinados à Reforma Agrária", disse Raul Bergold, ouvidor agrário do Incra do Paraná.
A resposta
Apenas duas semanas após a criação do acampamento, a Polícia do Estado do Paraná invadiu o Assentamento Ireno Alves dos Santos, local em que as famílias estão acampadas.
Segundo os Sem Terra, o mandado de busca e apreensão expedido pelo Poder Judiciário da Comarca de Quedas do Iguaçu e de Laranjeiras do Sul teve com o objetivo colher qualquer prova sob o pretexto de prender supostos criminosos.
Na época, as famílias relataram que algumas residências foram invadidas e algumas pessoas foram intimidadas, coagidas e humilhadas. Um professor universitário chegou a ser retirado da sua própria sala de aula, sem autorização da direção e nem mandado judicial.
Entretanto, nada foi encontrado. Para os Sem Terra, ali já se dava a primeira resposta da Araupel.
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Marcos Imperial