
“Ocupe-se de pouco
para ser feliz”. Foi essa a primeira frase de um livro de Demócrito,
filósofo grego do século 5 a.C. O livro se chama sobre o Prazer, e não chegou à
posteridade senão por citações de outros pensadores.
A palavra grega
para tranquilidade da alma é euthymia, e sobre ela se debruçaram intensamente
os sábios. A recomendação básica de Demócrito, sob diferentes enunciados, é
encontrada sempre. Sobrecarregar a agenda eqüivale a sobrecarregar o espírito,
e traz inevitavelmente angústia. Ninguém que tenha muitas tarefas, ou que se
atribua muitas, pode ser feliz.
Um homem sábio da
Antiguidade não abria nenhuma correspondência depois das quatro horas da tarde.
Era uma forma de não encontrar mais nenhum motivo de inquietação no resto do
dia, que ele dedicava a recuperar a calma que perdera ao entregar-se ao
seutrabalho.
Se olharmos para
nós, nos veremos com frequência abrindo mensagens no computador alta
noite, e não raro nos perturbando por seu conteúdo. O único resultado disso é
uma noite maldormida.
O fato é que
fazemos muitas coisas desnecessárias. Coloque num papel as atividades de um
dia. Depois veja o que realmente era preciso fazer e o que não era. Já fiz
isto. A lista das inutilidades suplantou sempre a das ações imperiosas.
O imperador
filósofo Marco Aurélio, do começo da Era Cristã, louvou a frase de Demócrito em
suas clássicas Meditações. Acrescentou, com sagacidade, que devemos evitar não
apenas os gestos inúteis, mas também os pensamentos desnecessários.
Marco Aurélio
recomendava o formidável exercício de conduzir a mente, quando desviada, para
pensamentos relevantes. Isso conseguido, à base de perseverança, controlamos a
mente, esse cavalo selvagem, em vez de sermos controlados por ela.
Ninguém escreveu
com tanta graça sobre o tema como Sêneca, pensador romano também dos primórdios
da Era Cristã. Sêneca usou as expressões “agitação estéril” e “preguiça
agitada” ao tratar dos atos que nos trazem apenas desassossego.
“É preciso
livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens”,
escreveu Sêneca. “Eles vagam ao acaso, mendigando ocupações.
Suas saídas
absurdas e inúteis lembram as idas e vindas das formigas ao longo das árvores,
quando elas sobem até o alto do tronco e tornam a descer até embaixo, para
nada. Quantas pessoas levam uma existência semelhante, que se chamaria com
justiça de preguiça agitada?”
Agimos como
formigas quase sempre, subindo e descendo sem razão o tronco das árvores, e
pagamos um preço alto por isso: ansiedade, aflição, fadiga física e
mental. Nossa agenda costuma estar repleta. É uma forma de fugir de nós mesmos,
como escreveu sublimemente um poeta romano. O resultado é inquietação.
Eliminar ao menos
algumas das tantas tarefas inúteis que nos impomos a cada dia é vital para a
euthymia da qual falavam os sábios gregos. Quem busca a paz fará bem em
refletir na frase com a qual Demócrito iniciou um livro que, tamanha era sua
força, sobreviveu aos séculos, ainda que com base apenas em citações."
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Marcos Imperial