"É simples. Nós estamos vivos! Repitam, amantes da
maravilhosa e absurda aventura humana. Vivos! Chegamos até aqui e daqui
seguiremos em frente. A despeito de tantos contras, a vida está a nosso favor.
Em toda a sua potência, a vida acelera o passo e se multiplica
mais rápido que um preconceito, mais forte que a intolerância e a covardia. Exuberante
como a beleza de suas infinitas versões.
No ímpeto grandioso das gestações de risco que vingam a qualquer
custo, na esperança certa das plantas que rompem o asfalto para ver o céu, na
truculência das árvores que desancam a estrutura de aço e pedra das casas,
a vida se impõe absoluta e comovente e brutal.
Desistam, capachos enfurecidos do mau tempo, lacaios da tristeza,
escravos da guerra e da morte! A vida é inevitável. Recolham suas bazucas e
seus canhões, guardem suas espingardas, desativem seus mísseis, dispensem seus
estilingues. Viver é irresistível e a vida sempre ganha. Estoura em todos os
cantos, desliza pelas frestas estreitas de portas batidas no impulso da raiva,
teima, persiste, luta, vence. A vida sempre chega na frente.
Sua ação imprescindível explode nos espaços invisíveis, nas horas
despercebidas, no escândalo da jabuticaba, no perfume da flor de laranjeira, no
sabor inesquecível de um encontro esperado, nas conquistas do trabalho honesto,
na consciência do dever cumprido. No amor que constrói, faz e acontece.
A vida nos venta no rosto como a lembrança de uma mulher triste,
esperando na solidão de um ponto de ônibus nas primeiras horas uma
voz conhecida, um latido amigo, um acorde maior, um riso de criança que aquiete
um coração com pressa, o canto de um galo chamando o sol no portão do dia,
acordando o tempo.
Teimosa que só ela, a vida não dorme. Ela se fortalece e prolifera
nas horas do nosso sono sagrado. Resiste como o velho homem sozinho que envia
cartas de amor a toda gente sem esperar respostas. A vida não acaba.
Recomeça a todo e qualquer instante.
A vida, minha gente! É ela! A vida aqui e ali, lá e cá
e em todos os lugares e a qualquer tempo, imperativa, onipresente. A vida é
imprescindível e a felicidade é seu presente imperioso a quem se arrisca e se
lança e se dispõe a viver.
Da vida, o amor é o primeiro filho. Mas e nós? Nós decerto somos
daqueles tantos que vieram depois, num grande, infinito e poderoso gesto de
amor criativo e vital.
A cada um de nós cabe viver e amar e agradecer. É o que nos resta,
nos define e há de nos fazer melhores uns aos outros.
Nós estamos vivos! Vamos à vida. Ela está a nosso favor."
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Marcos Imperial