Entre contradições de seu passado político com
posições atuais de campanha, candidata Marina Silva esqueceu boa
parte do já fez e já disse; jornal do PSB diz que ela apoiou a CPMF, que
destinava verbas bilionárias para a Saúde; quando
foi senadora (2003-2011), porém, Marina votou contra duas vezes; "Não
faço oposição pela oposição", diz ela hoje, que naquele
tempo foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, a criação da
Anatel, a reforma administrativa e o modelo de exploração do petróleo; dia
29, desdenhou do pré-sal e disse que "o petróleo é um mal
necessário", mas já na manhã seguinte, diante da gafe estratégica,
voltou atrás sem reconhecer que seu programa de governo contempla apenas uma
linha sobre o assunto; na Receita Federal, Marina esqueceu de declarar todos os
seus bens, lembrando-se apenas depois de o PT ameaçar pedir investigação;
ativista que ajudou a dar dimensão nacional à causa LGBT, é agora contra o
casamento de pessoas do mesmo sexo; lembrou?
Via 247 – Ao não enfrentar o cotejo de informações produzidas por seu
passado político, distante e recente, com posições e atitudes atuais, de
postulante a presidente, Marina Silva também se torna candidata a caso clínico,
daqueles que, como diz o povo, só "Freud explica". À primeira vista
dos leigos, parece que a ex-seringueira, ex-senadora e ex-ministra sofre do que
se pode chamar de amésia seletiva. Lembra ou esquece, apenas do que quer, não
de tudo o que foi, fez ou disse.
O caso mais
recente diz respeito à sua declaração de bens à Receita Federal. Marina só pode
ter esquecido de acrescentar ao seu patrimônio pessoal R$ 46 mil, o que só
feito na Receita após ameaça de pedido do PT por uma investigação. Num dado que
era desconhecido até a semana passada, revelou-se que Marina recebeu R$ 1,6
milhão em palestras a clientes que, sim, ela se lembra, mas está impedida por
contrato de revelar os nomes.
Se R$ 46 mil
podem ser pouco para lembrar, esquecer dos bilhões que a CPMF – imposto de
0,38% de cada cheque – representava para a saúde deve ser mais fácil. O
instrumento vigorou no governo de Fernando Henrique, mas foi cortado antes de
beneficiar a administração Lula. Marina foi senadora entre 2003 e 2011, e por
duas vezes votou contra a CPMF. Ela também não apoiou a iniciativa do senador
Eduardo Suplicy (PT-SP) de resgatar a verba carimbada, não endossando o
projeto. No jornal da campanha de Marina para presidente, no entanto, está
escrito que Marina apoiou a CPMF. Isso nunca foi verdade.
- Eu não faço
oposição por oposição, tem repetido Marina nesta campanha. Trata-se, à medida
em que ela não assume o debate sobre suas posições públicas, tomadas no Senado,
diante de todos os registros públicos, de um verdadeiro atestado de
esquecimento. E não é o único sobre sua atuação no Senado, onde, ao
contrário do que diz hoje, praticou sim a oposição a praticamente tudo.
Em oposição à
grande maioria do Congresso, Marina votou contra temas quase consensuais como a
criação da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações --, a quebra do
monopólio estatal e o modelo de concessão para exploração de petróleo, e,
também, contra a reforma administrativa. No dia da votação da reforma da
Previdência, estava de licença médica. Em 2000, votou contra a Lei de Responsabilidade
Fiscal que, reconhecidamente, tem normatizado minimamente as finanças dos
Estados.
A coisa é
complexa. Um caso gritante é a ida e vinda, sem reconhecer que foi e voltou, a
respeito do pré-sal. Menos de uma dia depois de afirmar, em 29 de agosto, que
não tinha o pré-sal como uma de suas prioridades – "minha posição é
conhecido: o petróleo é um mal necessário" -, Marina não apenas não
assumiu o que disse, enfrentando, assim, o debate, como aderiu, de forma
classicamente oportunista, à maré de desaprovação ao posicionamento. De resto,
subjugado em seu programa de governo.
Marina
esqueceu, outra vez na primeira hora de sua candidatura de 2014. De olho no
voto das igrejas pentecostais, reagiu a quatro tuites do "pastor"
Silas Malafaia com um imediato rompimento com seu compromisso histórico com os
militantes LGBT. Ao menos, é que se tinha no início da carreira política dela,
quando, no melhor estilo hippie, ajudou a criar as bases nacionais para a
expansão do movimento. Mesmo cavalgando nessa comunidade politicamente
influente e carregando a bandeira de prestígio,
Marina marcou
posição contra a formalização do casamento entre pressoas do mesmo sexo.
- Nem sei que
tuites são esses, devolveu Marina a respeito do motivo de sua virada
ideológica. Deve ser verdade, pode ser esquecimento.
Entre lapsos,
Marina também começa a ver sua tendência de ascensão nas pesquisas parar, na
melhor análise para ela, ou se inverter, no que muitos acreditam. De tão
flagrantes, os paradoxos entre a história política de Marina e a maneira como
ela se apresenta agora estão, nitidamente, decepcionando legiões de eleitores
que a tinha como alternativa. Falou alto o crescimento do índice de rejeição
dela.
Se continuar a
esquecer quem foi e não dizer mais claramente quem é, Marina corre o risco de
não ser lembrada pelos eleitores.
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Marcos Imperial