sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Marinho: Marina não pode 'chorar de coitadinha' por debate duro

WILSON DIAS-ABR:
Coordenador de campanha de Dilma em São Paulo, Luiz Marinho afirma que candidata do PSB, Marina Silva tem de enfrentar contradições, ironiza declaração de seu vice Beto Albuquerque sobre PMDB e vê embate favorável ao PT no campo econômico.

Por Eduardo Maretti e João Peres, da Rede Brasil Atual

São Paulo – “São Paulo e o Brasil querem a mudança segura”, diz o panfleto colocado sobre a mesa de trabalho de Luiz Marinho, estampando uma foto com Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Oito palavras em sintonia com o prefeito de São Bernardo, que tem a missão de coordenar a campanha do PT à reeleição em um estado tradicionalmente refratário ao partido, e que oferece aos eleitores indecisos a ideia do “porto seguro” representado pela presidenta, em contraposição ao “retorno ao passado” simbolizado por Aécio Neves e à “insegurança” demonstrada por Marina Silva (PSB).

Tradicionalmente os paulistas impõem aos petistas derrotas em eleições presidenciais – foi assim com Lula, mesmo na reeleição –, compensadas pelo bom desempenho em outros estados do Sudeste, no Norte e no Nordeste. Desta vez, porém, São Paulo tem dado a Marina uma vantagem larga sobre Dilma, segundo as pesquisas de intenção de voto, e Marinho é um dos incumbidos de trabalhar para reverter a tendência e garantir a reeleição.
Para isso, aposta que a concentração da agenda de campanha e o direcionamento das mensagens na televisão para a população paulista serão fundamentais. Em entrevista concedida à RBA no comitê de campanha de Dilma na zona sul de São Paulo, ele afirmou ainda que o candidato do PT em São Paulo, Alexandre Padilha, vai crescer na reta final e ajudar o partido na eleição nacional.
Durante a conversa, Marinho expôs os motivos para acreditar que Dilma pode vencer até mesmo em um primeiro turno, em especial por considerar que o melhor período para Marina já passou. “A água está começando a ficar cristalina. Aí entram as contradições da Marina. O PT não está agredindo a Marina. Estamos abordando as contradições presentes no seu programa de governo. É incompatível você falar de investimento social e política neoliberal.”
O coordenador da campanha de Dilma em São Paulo desaprova a postura de Marina frente às críticas promovidas por PT e PSDB, e diz que política não é um espaço para “coitadinho”. “O embate eleitoral é duro por natureza. Tem que saber que numa situação como essa a liderança tem que ter a sua fortaleza.”
O coordenador da campanha de Dilma entende que Marina deve aceitar ser questionada sobre o que considera contradições de seu programa de governo. A aposta do PT é de que, da maneira que está, o conjunto de propostas levará a um governo neoliberal, o que estaria demonstrado pela exortação à redução do papel dos bancos públicos e pela proposta de independência do Banco Central.
Ao ser questionado a respeito da declaração do vice de Marina, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), de que não se governa sem o PMDB, Marinho reage com uma gargalhada. "Mas não diga. O que é isso? Mais uma contradição."
Confira a seguir trechos da entrevista concedida à RBA.
Na reunião do PT no Anhembi no dia 5, as lideranças, principalmente Marta Suplicy e Lula, falaram da importância do estado de São Paulo na eleição de Dilma Rousseff. Como avalia o papel de São Paulo na eleição?
É até chover no molhado falar da importância de São Paulo. Dado o número de eleitores e eleitoras que temos, se torna um estado muito importante em qualquer decisão nacional que venha a se tomar. Não é diferente no processo eleitoral. São Paulo tem uma importância muito grande nesse processo. E é o estado onde o PSDB é mais enraizado e mais forte, nos dá mais trabalho. Isso eleva a importância do estado do ponto de vista do desempenho das nossas candidaturas. Foi assim com Lula nas várias eleições que ele disputou e nas duas que ganhou, assim como a Dilma em 2010 e agora.
O Padilha começa agora a deslanchar o processo de facilitar a disputa do voto na rua, na cidade, porque o tempo todo da campanha o eleitor perguntava quem é o Padilha. Um desconhecimento grande. O que faz a pessoa ser conhecida é muita exposição de mídia televisiva ou disputa eleitoral. É ilusão achar que por ter um cargo importante, porque implantou políticas importantes é conhecido.
A estratégia passa por ter mais presença física de Dilma e Lula aqui em São Paulo ou por direcionar a propaganda de TV para o público paulista?
Vocês podem observar a quantidade de vezes que a Dilma esteve em São Paulo. Tem uma exposição de agenda em São Paulo da presidenta para se aproximar desse eleitorado. Porque mesmo que ela não vá a Dracena, a Santa Fé do Sul, em Barra Bonita, Nazaré Paulista, mas pelo fato de estar no estado de São Paulo ela cria melhor condição de a militância lá nessas cidades ir abordar o eleitor e a eleitora e pedir o voto, apresentar as propostas. É uma busca da combinação da agenda para criar condição do militante para essa abordagem.
Uma suposta avaliação negativa do prefeito Fernando Haddad, junto à questão de Padilha, faz com que o cenário seja mais difícil do que em outras eleições?
Você tem uma conjunção de fatores, não é só a dificuldade da campanha do Padilha, o papel que Haddad possa cumprir. Tivemos um desgaste especialmente em São Paulo com todo o debate em relação à prisão, o mensalão, que trouxe um desgaste para a imagem do PT. Então não é o Padilha, o Haddad, o PT teve um processo de desgaste grande. Estamos trabalhando um processo de recuperação. Se você pegar a avaliação do governo Haddad desde o início da campanha até quando terminar a campanha vai ver que vai ter um processo de melhoria natural desses indicadores. Natural porque a militância está na rua abordando, fazendo a disputa do voto.
Nas 76 maiores cidades de São Paulo entramos com um material específico por cidade, (informando) os investimentos do governo federal naquela cidade, entregando em casa material chamando a atenção da família. Aí entra a campanha na TV apontando aquilo que desejamos continuar fazendo naquela rua, naquela cidade.
Como o senhor avalia a reação do PT ao surgimento da Marina na disputa, ao discurso dela, ao conjunto de propostas?
Primeiro tem uma comoção grande, como se uma enxurrada adentrasse um lago cristalino. Ficou uma lama e as coisas vão se condensando, se assentando aquela sujeira da água para de novo ficar cristalina. A água está começando a ficar cristalina. Aí entram as contradições da Marina. O PT não está agredindo a Marina. Estamos abordando as contradições presentes no seu programa de governo. É incompatível você falar de investimento social e política neoliberal. A política neoliberal que ela fala inviabilizará os recursos para a política social. Esse triângulo não fecha .
É isso o que estamos falando: vai ter desemprego. Não é que a Marina em sã consciência quer desemprego. É porque o seu projeto de governo levará ao desemprego. De repente, coitada, ela nem está se dando conta disso, mas é isso que o seu pessoal de programa de governo preparou para ela. Está escrito. Da mesma forma o seu programa de governo está dizendo da independência do Banco Central. Mas não é só a independência do Banco Central. É mudar o padrão de atuação dos bancos públicos, é reorientar o BNDES para desmamar a indústria. O que é desmamar a indústria? O que é isso? Junto com a independência do Banco Central é inviabilizar o conjunto de investimentos propiciado pelas políticas dos bancos públicos.
Você pega a Caixa Econômica Federal. Se olhar o padrão do debate de 2002, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso veio num processo de privatização contínuo. Se o Lula tivesse perdido aquela eleição, a continuidade das políticas que vinham transcorrendo e que o Serra daria continuidade, muitas coisas que estamos falando hoje não existiriam mais. Poderia ser o caso da Caixa, do Banco do Brasil, da Petrobras. Essas coisas estão contidas no programa da Marina. Não adianta ficar chorando de coitadinha porque coitadinha ela não é (leia mais).

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Marcos Imperial

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