"Um dia estaremos mais perto uns dos outros.
Não importa quando e nem como. Mas nós seremos mais próximos do que somos hoje.
Nesse dia, estaremos para além de qualquer
classificação superficial. Seremos mais que certos ou errados, pobres ou ricos,
brancos ou pretos ou vermelhos e amarelos, homens ou mulheres, novos ou velhos.
Mais que tudo isso, seremos simples pessoas mais próximas.
Ainda que distantes na geografia, guardaremos em
nós a lembrança ou o desejo do encontro. E o encontro nada mais será que um
pedido assentido e sincero de compreensão. Encontrar será a prática simples de
pensar em alguém e querer nada senão compreendê-lo e aceitá-lo.
Viveremos perto o suficiente para nos vermos, nos
ouvirmos e nos sentirmos ali. Próximos o bastante para dividir nossas alegrias
e nossas dores, para seguir os caminhos de cada um sem nos perder de vista.
Íntimos a ponto até de nos afastarmos quando preciso, em respeito à
nossa necessidade humana da solidão que de quando em vez nos empurra
para o claustro.
Entre tantas respostas e ponderações absolutas e
julgamentos e certezas tão comuns desse mundo, estaremos juntos para
nos fazer perguntas sem esperar respostas. Apenas nos perguntaremos coisas à
toa, pelo puro e simples exercício de falar e ouvir. Mais ouvir do
que falar.
Em longas conversas de manhã, sentados no sol de
um banco de praça, nossos livros sobre o colo esperando atenção,
relembraremos sem saudade os tempos frios em que nos tornamos duros estranhos.
Riremos juntos de nossos ódios superados, nossas pendengas ridículas e
desconfianças daninhas. E de tão boas, nossas conversas se estenderão sem
pressa e sem culpa pela tarde e pela noite, até o mundo amanhecer de novo em
cada dia seguinte.
Até lá, as histórias de uma gente que aprendeu a
viver separada demais, uns contra os outros, fazendo do conjunto da vida uma
imensa guerra campal, gritalhona e infértil serão nada além de velhas
narrativas de barbárie e estupidez. Peças de um museu inexistente. Sombras de
uma guerra em que os vencedores celebravam sua superioridade sem se dar conta
de que, no fim do jogo, todas as peças sempre voltam para a caixa.
Então, façamos um trato. De hoje em diante,
teremos um longo caminho rumo ao encontro. Assim, passo a passo, pisaremos
novas ruas, tomaremos rumos desconhecidos e aprenderemos a compreender o óbvio:
tudo o que nos acontece hoje são sinais de alerta. Alguém está a nos advertir
que devíamos passar mais tempo juntos, ficar mais perto uns dos outros, tomar
sol, apanhar vento, esperar a lua que se esconde por trás das nuvens.
Em todos os sentidos, de todas as formas, você e
eu e todos nós seremos uma só vizinhança afetiva, moradores de um só quarteirão
amoroso. Perto ou longe, não importa, seremos simples pessoas mais próximas,
afeitas e dispostas a fazer da vida um longo e sincero gesto de amor ao outro.
É que um dia, se Deus quiser, estaremos mais
perto uns dos outros."
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Marcos Imperial